Presidente do Confea quer desburocratizar sistema

13 de setembro de 2008, às 0h00 - Tempo de leitura aproximado: 6 minutos

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O engenheiro Marcos Túlio, presidente do Confea (Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia), enfrenta desafios do tamanho do próprio sistema. Reeleito para o cargo no triênio 2009-2011, Túlio pretende tomar medidas para a melhora do suporte tecnológico entre Confea e Crea, além da desburocratização do conselho e de entidades ligadas aos membros do sistema nos próximos anos. Novamente, o engenheiro aponta a preocupação com a educação na área tecnológica para solucionar problemas de mão-de-obra como o principal desafio do Conselho.

Em entrevista à PINIweb, Marcos Túlio aponta algumas diretrizes que serão tomadas nos próximos anos no conselho e comenta sobre a intenção de separação de algumas categorias. Confira:

Qual é a maior preocupação do sistema Confea/Crea para os próximos anos?
O sistema Confea/Crea está preocupado com uma questão que é um grande problema do País. Hoje, vemos o crescimento econômico retornando com taxas de 5% e nos deparamos com falta de mão-de-obra que vai desde engenheiros, arquitetos, agrônomos até técnicos e tecnólogos. Esse problema merece uma atenção muito grande de instituições como o Confea e, principalmente, de instituições de ensino.

O nosso déficit de profissionais é absurdo e isso será agravado nos próximos anos. O Brasil possui aproximadamente 11% dos jovens entre 18 e 24 anos nas universidades. Nos países desenvolvidos, esse percentual chega a ser o triplo. Desses 11%, apenas 10% são da área tecnológica. Há também um problema grave de qualidade no ensino cientifico do 1° e 2° graus. A base de formação é pouco cientifica e há déficit de professores para áreas que servem de base para as áreas tecnológicas.

Esse é um dos grandes gargalos que temos no desenvolvimento brasileiro. Esse dado também e preocupante, pois nos países desenvolvidos esse número é quatro vezes maior. Por isso, estamos atuando junto ao governo e à área educacional, para criar um planejamento na educação de médio e longo prazo. Precisamos criar incentivo para que mais vagas sejam criadas prioritariamente na área tecnológica. Precisamos trazer um projeto de futuro para o Brasil, ainda mais perante a situação do País. Além de commodities, há o boom imobiliário puxando o crescimento do país. Não acho que temos que dar o tom sobre desenvolvimento, mas precisamos trazer nossa contribuição a esse debate, ainda mais com a perda de cultura técnica que ocorreu nos últimos anos. A China estipulou um projeto há mais de 30 anos, e nesse processo houve a participação de muitos profissionais técnicos. No Brasil, houve uma perda dessa participação.

E dentro do Confea, há algum projeto em desenvolvimento?
Enfrentamos uma mudança de cultura no Confea/Crea, principalmente dentro de uma visão moderna da administração do próprio sistema. Nosso grande desafio é desburocratizá-lo, trazer o processo da tecnologia da informação para ser utilizada maciçamente desde a fiscalização até a prestação de serviço para os profissionais, empresas e sociedade. Há necessidade de aumentar a eficácia do sistema e utilizaremos a tecnologia para isso. Um exemplo é o projeto Desenvolvimento Integrado em Tecnologia da Informação (DITI) (serviço que possibilita aos Creas atualizarem os dados sobre anuidade profissional automaticamente no Sistema de Informações do Confea) que está em desenvolvimento. Vamos utilizar a tecnologia para dar mais eficácia aos processos.

A estrutura precisa ser cada vez mais descentralizada. Não apenas do Confea para os Creas, mas destes para as inspetorias e para todos os municípios. Tudo isso é possível, pois pela internet conseguiremos manter um nível de comunicação eficaz com a base da categoria.

Há constantes reclamações das categorias que são membros do sistema. Após o primeiro mandato, como o senhor encara a questão?
Essa discussão que você está me provocando, sem dúvida está ligada à questão de que se o sistema profissional deve permanecer com a integralidade criada em 1933. Esse fato surgiu forte com os arquitetos no ano passado. Estamos completando 75 anos e é um bom momento de fazer uma reflexão. Afinal, será que esse modelo ainda persiste como estrutura pública?

Logicamente as contradições que temos são reais. Há problemas de grupos profissionais, valorização e de cada nível profissional que tem que ser tratado. Eles não podem ser negados e foram discutidos durante congresso de profissionais no ano passado. Envolveram-se mais de 25 mil lideranças profissionais, se considerarmos reuniões locais até estaduais. As propostas obtidas foram levadas em duas etapas para esse congresso, uma em agosto e outra em outubro.

A separação da agronomia, arquitetos, os técnicos, tecnólogos foi muito debatida e houve praticamente uma posição absoluta para manter a união desses profissionais. Essa complexidade também traz uma riqueza enorme e facilita trabalhar as contradições existentes. Esse processo político é mais importante se resolvermos juntos, do que de forma pulverizada. Há conselhos com essa característica que não possuem nenhuma presença no debate social. Esse movimento, enfraquece todos.

Enfim, foi deliberada a manutenção da estrutura. Entretanto, ficou óbvio que ela deveria passar por um processo de modernização muito grande.

Então, qual a razão de tanta insatisfação de membros com o Conselho?
Há uma confusão com os papéis sociais e também uma fragilidade das organizações sobre o aspecto do reconhecimento e da manutenção econômica. Na verdade, o sistema é um órgão público que não representa uma categoria profissional. Não cabe ao Confea/CREA representar nenhuma categoria, ele tem uma função definida por lei.

Para mim, o Confea/Crea é a organização mais reconhecida e mais forte e acaba pesando a expectativa de todos para cumprir papéis que muitas vezes não são dela. Estou conversando com diversas entidades, na tentativa de assumir seus papéis organizar a categoria e não trazer apenas a defesa trabalhista, salarial. Há também um diálogo sobre a valorização profissional. Cabe ao confea/Crea apoiar, valorizar e incentivar as entidades a cumprirem seus papéis.

A representação das categorias é dos sindicatos. Por exemplo, para os arquitetosé a Federação Nacional dos Arquitetos. Da mesma forma o IAB (Instituto de Arquitetos do Brasil) deve representar a política da arquitetura perante a sociedade brasileira.

Há na Bahia uma discussão em relação à Ordem dos Engenheiros Civis. O Senado está tratando da criação da Obenc (Ordem Brasileira de Engenheiros Civis), mas é uma separação do sistema profissional. Afinal, quem representa esses engenheiros? A Obenc ou a Abenc (Associação Brasileira de Engenheiros Civis)? Tem que ser a Abenc, nunca uma ordem ou um conselho, seja de arquitetos, de técnicos ou de tecnólogos.

Esse trabalho de conscientização é recente, apesar de já haver proposto anteriormente. Essa reflexão tem que ser trazida para dentro da categoria e o compromisso de estruturar os líderes e instituições profissionais dentro de seus papéis para que um apóie os outros. Estamos chamando de um novo pacto profissional e social.

*Rafael Frank
Piniweb