293 anos de Cuiabá: A construção da capital passa pela construção civil

9 de abril de 2012, às 12h19 - Tempo de leitura aproximado: 5 minutos

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O clima quente e a receptividade dos moradores de Cuiabá talvez sejam as características mais lembradas pelas pessoas que passam pela capital, que comemora 293 anos no dia oito de abril. Em quase 300 anos, a cidade de Cuiabá se transformou econômica e culturalmente e, apesar das mudanças, o estilo moderno e tradicional dos prédios e das ruas convivem paficamente.

Nos últimos 46 anos, a história da cidade se mescla com a atuação do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Mato Grosso (Crea-MT), criado provisoriamente em 1966, com o aumento populacional, a organização do espaço urbano, além do desenvolvimento tecnológico nas áreas da engenharia e agronomia.

O engenheiro civil Mário da Silva Saul, primeiro presidente do Crea Mato Grosso, relembra o início das atividades do Conselho em Cuiabá. “Mato Grosso era apenas uma Delegacia do Crea de São Paulo. Os poucos engenheiros residentes em Cuiabá reuniam-se no Clube de Engenharia, hoje Instituto de Engenharia e logo surgiu a ideia de que deveríamos ter o nosso próprio Crea. Alguns achavam que seria um fracasso; não tínhamos competência suficiente para tal objetivo. A maioria optou pela criação desse órgão. Em 07 de dezembro de 1966 o Conselho Federal, criou em regime transitório o Crea da 14 Região, o nosso Crea, com jurisdição em Mato Grosso e o Território de Rondônia.”

Com 98 profissionais registrados e 16 empresas registradas até 1968, ano em que o Crea foi instalado de maneira definitiva, a missão do Conselho pôde ser colocada em prática. “O maior desafio era convencer os engenheiros que Mato Grosso já possuía um Crea. Não foi fácil. Outro desafio era conseguir que os leigos que exerciam atividades de engenharia parassem. A principal função dos Creas é a proteção da sociedade no que se refere às atividades da engenharia. Isso é obtido através de intensa fiscalização. Fiscaliza-se o profissional no que se refere a sua habilitação, bem como, e mais importante, o exercício profissional através de leigos”, disse Saul.

Ainda em 1968, teve início, em Cuiabá, o primeiro curso de graduação em engenharia civil, que depois foi incorporado à Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) no ano de sua criação, 1970. A formação de profissionais na área tecnológica e a criação de empresas foram uns dos fatores responsáveis pelo desenvolvimento da construção civil na capital e no Estado de Mato Grosso. Em 1969, no dia oito de abril, aniversário da cidade de Cuiabá, foi inaugurado um dos marcos da engenharia e arquitetura mato-grossense: o edifício Maria Joaquina, primeiro residencial vertical, encravado no centro da cidade, com 15 andares e 52 apartamentos.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que o Índice Nacional de Construção (Sinapi) acumulou alta de 5,8% de janeiro a setembro e de 7,1% no último ano em Mato Grosso. Em 1994 havia cerca de 650 empresas de construção civil que atuavam no Estado. Hoje são 6.871, o que evidencia como o setor cresceu. O número de profissionais da área também aumentou consideravelmente, de 6.534 passou para mais de 14 mil, sendo 3.754 da modalidade civil. “A demanda do setor da construção civil por registro e, consequentemente, fiscalização é maior atualmente, tendo em vista o crescimento e desenvovlmento econômico de Mato Grosso e do país, e também os eventos esportivos que vão acontecer, como a Copa do Mundo de Futebol”, disse a engenheira agrônoma e coordenadora de fiscalização do Crea-MT, Silvania Melo.

Prova disso é que ao andar por Cuiabá é possível perceber que a cidade se transformou num canteiro de obras. São prédios e hotéis em construção, casas em reforma, ruas sendo ampliadas e pavimentadas, e assim por diante. “O nosso desafio atual é conseguir conciliar a capacidade de atuação do Conselho com essa demanda, cada vez mais crescente. É importante continuar aprimorando os serviços oferecidos pelo Crea para manter em atuação somente os profissionais habilitados e, assim, garantir que a sociedade cuiabana e mato-grossense esteja segura”, afirma o presidente do Crea-MT, Juares Samaniego.

Cuiabá ser uma das sedes da Copa do Mundo de futebol contribuiu muito para que isso acontecesse, mas esse boom vem de tempos e vai ainda muito longe. A construção civil, mesmo com esse boom, sofre um problema: a mão-de-obra especializada escassa. A reclamação de empresas e construtoras é a de que nunca encontram funcionários suficientes e que muitos deles não têm a técnica necessária. Não necessariamente de engenheiros e arquitetos, mas serventes, pedreiros e mestres de obra, principalmente.

Segundo Samaniego, há engenheiros de sobra no mercado, mas, como querem pagar pouco a eles, acabam indo para outras áreas de atuação. Boa parcela de empresas privadas e gestores municipais não valorizam a profissão e veem engenheiros como despesa e não como investimento. “E quando não os contratam, cometem muitos erros técnicos que acarretam sérios problemas”. Para comprovar a desvalorização do profissional, ele mostra dados. “A quantia paga a um engenheiro é de mais ou menos 4% o valor da obra. Mas quando ela está pronta e é vendida, a imobiliária cobra e ganha de 6% ou mais”, exemplifica.

O presidente do Crea conta que desde maio de 2011 está em vigor a Norma Brasileira (NBR) 1575. São exigências da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) que moldam principalmente as construções de edifícios. Entre os vários quesitos, o mais destacado é a sustentabilidade da obra. Apesar de ainda ser tímido, esse novo modelo de trabalho é o caminho para o futuro. Entre outros aspectos, é a busca de materiais alternativos que exerçam menor destruição na natureza.

É impossível falar em progresso sem algum impacto. “Nós precisamos dos recursos para o bem da humanidade. Só de o homem se estabelecer em um local, já gera demanda ambiental. Precisamos entender que é preciso fazer isso de forma consciente e ecológica”, comenta.

Para que a construção civil continue crescendo, e, consequentemente Cuiabá, “os profissionais do ramo esperam que o governo valorize o setor e procure pela estabilidade econômica. Principalmente com a abertura que as obras da Copa trazem para Cuiabá para que tenhamos um legado de obras sustentáveis e modernas,melhorando assim a vida da população”, opina Samaniego.

*Laís Costa
Gecom/Crea-MT
Foto: Fablício Rodrigues