365 dias de incertezas
3 de maio de 2007, às 0h00 - Tempo de leitura aproximado: 4 minutos
O que parecia ser um impasse momentâneo já se arrasta por um ano. A nacionalização da produção e comercialização do petróleo e do gás natural decretada pelo presidente boliviano Evo Morales, no dia 1 de maio do ano passado, trouxe uma gama de incertezas ao Estado e até frustrou planos, já que Mato Grosso é dependente em 100% deste insumo que vem da Bolívia. Neste momento, os bolivianos revisam contratos com as petroleiras e acertam indenizações, mas a calmaria – que é a garantia do fornecimento – está longe de ser vista.
A crise aberta neste período tirou a rentabilidade e a geração da termoelétrica de Cuiabá por cerca de dois meses seguidos, entre agosto e outubro. A saída temporária da térmica por falta de gás tirou a confiabilidade o sistema energético local e a redução na produção de energia fez com que Cuiabá fosse afetada por dois apagões seguidos.
Mesmo sem muita informação sobre o porquê da decisão de Morales, o mercado reage aos fatos. De acordo com a Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás (Abegás), há uma redução de 65% no volume de conversões de veículos a gás em abril no Brasil. O crescimento cada vez menor do Gás Natural Veicular (GNV) explica a desaceleração do mercado de gás, que crescia à taxa de 20% ao ano até 2004. Em 2005, o ritmo já foi menor (8%). Em 2006, ficou em apenas 4%.
A reação esfriou a procura por orçamentos nas conversoras instaladas em Cuiabá. O presidente da Companhia Mato-grossense de Gás (MT Gás), Helny de Paula – empresa responsável pela distribuição e comercialização do gás no Estado -, garante que o segmento veicular se mantém em crescimento e que em nenhum momento, nos últimos 365 dias, os veículos convertidos ao gás estiveram na iminência de ficar sem o combustível. “Não ficamos sem gás por um único dia”, aponta.
Mas o proprietário do posto Metropolitano, na Capital, Ranmed Moussa, diz que as seguidas notícias ruins, “fizeram o mercado de conversão declinar”. Ele lembra que a nacionalização boliviana veio justamente quando o mercado de GNV engatinhava no Estado. “Hoje, somos três postos revendedores, se o mercado não tivesse absorvido esta enxurrada de notícias ruins talvez tivéssemos cincos postos em operação”. Moussa explica que o investimento de cerca de R$ 700 mil será recuperado em cerca de cinco anos, dentro de um cenário positivo. “A impressão que fica é de que todos torcem contra o gás. Todas as más notícias só retardam novos investimentos no segmento, sejam eles de empresários ou mesmo dos motoristas interessados na economia proporcionada pelo GNV”, desabafa.
O presidente da MT Gás diz que cerca de 3,5 mil veículos estão convertidos e em circulação em Cuiabá e Várzea Grande. Segundo ele, os números estão dentro das expectativas. “Não vejo qualquer prejuízo ao segmento, o mercado local flui normalmente”.
CONVERSÃO – Em outra ponta deste segmento está a Cuiabá Car, que no último mês converteu pouco mais da metade da meta traçada e da capacidade instalada. “Em um mês podemos converter até 30 carros, levando em consideração uma média de 22 dias úteis e um carro e meio ao dia. Mas em abril convertemos 20 e em março foram 17”, revela o funcionário da Cuiabá Car, Thiago Felipe Zazyki.
Ele explica que a procura por orçamento é menor e só converte o motor do carro quem realmente está decido a fazer e tem essa necessidade de reduzir custos. “Afinal, além das incertezas no fornecimento do gás, existem mitos relativos à possibilidade de explosão – o que não passa de mito – e uma certa falta de conhecimento sobre o motor GNV”. Thiago destaca ainda que o nível de informação do cuiabano em relação ao novo combustível aumentou, mas que a atual conjuntura não tem favorecido. Ele destaca ainda que faltam incentivos do Estado para haver o incremento deste mercado. “Em outros estados os governos dão incentivo no IPVA, por exemplo. Talvez uma política com este caráter pudesse se sobrepor ao momento {as incertezas geradas pela Bolívia}”.
Atualmente, a conversão dos motores ao GNV fica entre R$ 2,4 mil – motores carburados e cilindro de 7,5 metros cúbicos de capacidade – e R$ 4,7 mil, motores com injeção e cilindro grande.
CONSUMO – Como lembra Helny, o mercado de gás veicular teve início com um consumo mensal de cerca de 50 mil metros cúbicos/mês para 370 mil/mês. O presidente da MT Gás confirmou que o preço do metro cúbico está mantido em R$ 1,49 e não seguirá os reajuste que estão sendo implementados no Brasil. “Temos um contrato recente com a Bolívia e por isso não precisamos reajustar preços”. Os aumentos estão em vigor desde o último dia 15.
Fonte:Diário de Cuiabá