*Museu Nacional foi devastado pela falta de manutenção
6 de setembro de 2018, às 11h45 - Tempo de leitura aproximado: 3 minutos
Falta de manutenção e cuidados básicos com as normas de engenharia provocam tragédias. Comprovam isso exemplos recentes de incêndios que atingiram o Museu da Língua Portuguesa, o edifício Wilton Paes de Almeida e o que destruiu ontem (2/9) o Museu Nacional. Em todos os casos, queima-se parte de nossa história e, desta vez, de outros povos.
O Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea) e o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio de Janeiro (Crea-RJ) veem esse incêndio como mais um patrimônio da humanidade que foi vítima do abandono e do descaso de sucessivos governos, que agora devem apontar o dedo no seu antecessor e vice-versa. Mas fica fácil perceber o abandono do local quando a imprensa registrou ontem que o último presidente da República a visitar o Museu Nacional foi Juscelino Kubistchek de Oliveira (1956-1961).
Também foi vítima da nossa burocracia, sempre lenta na liberação de verbas para a conservação da cultura brasileira. Desde 2015, o órgão pleiteava recursos junto ao BNDES, que só seriam liberados após o período eleitoral.
Mas para nós do Confea e do Crea-RJ, a principal causa desse desastre foi a falta de manutenção predial e do cumprimento de normas básicas de segurança contra incêndios. Sem que essas manutenções sejam realizadas em viadutos, escolas, edifícios públicos ou privados, vamos continuar a ficar lamentando novas tragédias que se repetirão com frequência cada vez maior.
O lastimável episódio reflete ainda o desrespeito com diversas normas de segurança e também o descaso com interesse do país em formar bons profissionais. Recentemente, portaria do MEC reduziu de 600 para 360 horas a carga horária da pós-graduação em Engenharia de Segurança do Trabalho, o que é temerário, pois afetará a qualidade da formação de novos profissionais.
Agora, proposta do Conselho Nacional de Educação (CNE) visa reduzir a carga obrigatória de todos os cursos de engenharia, alterando a diretriz curricular de carga mínima de 3.600 horas, para carga referencial. Ou seja, cumpre quem quiser, pois passará a ser uma “referência” e não mais uma obrigatoriedade.
Há pouco, em Maceió, nas Alagoas, reunimos três mil profissionais e estudantes, pesquisadores, cientistas e professores propondo a Engenharia e a Ética na Reconstrução do Brasil em tempos marcados por enormes incertezas e pelo retrocesso generalizado.
Por meio da Carta de Maceió, assinada pelo colegiado das entidades nacionais que integram o Sistema Confea/Crea, as lideranças da área tecnológica nacional manifestam a “insatisfação cívica de quem repudia o progressivo desmantelamento da economia nacional e o agravamento das tensões sociais”. As lideranças também se comprometem a não nos omitir, a defender a importância do diálogo com os diversos órgãos do governo e outras instituições e mostrar que a engenharia, a agronomia e geociências são alavancas propulsoras do desenvolvimento nacional e precisam ser respeitadas e ouvidas.
É preciso que haja união de muitos para promover fiscalizações preventivas integradas com órgãos federais, estaduais, municipais e distritais, alcançando construções públicas e privadas. É preciso defender a aplicação da lei de manutenção predial e de prevenção de incêndios. É preciso recuperar o Brasil com a consciência voltada para o bem comum. É preciso parar de chorar sobre as cinzas da nossa história e reconstruir esta nação.
*Joel Krüger
Presidente do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia
*Luiz Antônio Cosenza
Presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio de Janeiro