*Ciência para além do Lattes
31 de outubro de 2018, às 15h02 - Tempo de leitura aproximado: 3 minutos
Nos últimos anos a ciência brasileira está passando por um dos seus momentos mais críticos. A redução dos investimentos coloca diversos grupos e linhas de pesquisa em risco, essa ação inconsequente dos governos pode ter um resultado trágico para a sociedade brasileira. Neste artigo abordarei um pouco sobre a importância da ciência para o cidadão, os reflexos dos cortes e também sobre a importância das ações de extensão universitária para divulgação da ciência.
Antes de mais nada, é preciso explicar as diferenças entre educação e ciência & tecnologia. Apesar de muitas universidades serem também centros de pesquisa, o recurso para cada umas das atividades vem de fontes diferentes. As universidades públicas são custeadas através do Ministério da Educação ou órgãos similares estaduais, essas instituições possuem orçamento anual definido pela lei orçamentária, e esse recurso cobre basicamente os custos operacionais e políticas básicas. Já os recursos para se fazer ciência, podem ser acessados por universidades e centros de pesquisa sendo eles públicos ou não, através de editais, que possibilitam aos pesquisadores conseguir a estrutura necessária para desenvolvimento do projeto apresentado. Fazer pesquisa não é uma coisa barata, muitas vezes exige além de uma equipe qualificada, também equipamentos milionários. Os recursos para fomentar essas atividades estão ligados ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, a Fundos Setoriais de Ciência e Tecnologia ou agências de fomento estaduais.
E qual a importância das pesquisas realizadas para a sociedade? Tudo que usamos tem pesquisa envolvida, desde os alimentos até as tecnologias mais avançadas. Podemos citar alguns exemplos, como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) que foi pioneira no desenvolvimento de melhoria genética para maximizar a produção agrícola brasileira. A Petrobrás também se destaca neste quesito, através de muita pesquisa conseguiu descobrir e explorar o pré-sal.
Em cada remédio que consumimos, em cada equipamento que usamos existe muita pesquisa envolvida, e quem faz essas pesquisas e desenvolve as tecnologias ganha muito com isso. Diversos países no mundo têm sua economia movida, entre outras coisas, por patentes e tecnologias. O Brasil não pode ficar para trás, precisamos investir no desenvolvimento de pesquisa, acreditar que podemos também ter centros de excelência dentro do nosso país. A falta de investimento em pesquisa aumenta o custo Brasil, nos torna menos competitivos e impede o desenvolvimento nacional.
Os cortes em pesquisa possuem também um outro efeito, que é fuga de cérebro para outras nações. Um pesquisador com doutorado, em geral, estudou no mínimo 21 anos, e falam dois ou três idiomas. Muitos países no mundo querem receber este tipo de imigrante, já qualificado e pronto para fazer parte de uma equipe para desenvolvimento de ciência e tecnologia. A defesa da ciência brasileira não é um mero capricho, para se desenvolver um núcleo de pesquisa demoram muitos anos e não podemos perder o que temos, precisamos continuar avançando.
Um dos fatores que leva a essa falta de apoio a pesquisa no Brasil, é a falta de conhecimento da população sobre a ciência e sua importância. Ao longo da minha curta vida científica, por diversas vezes, me deparei com pesquisares que não se davam ao trabalho de explicar para a comunidade que estava ao redor, a importância da pesquisa realizada. Alguns até mesmo chegam a criticar colegas que se empenham na popularização da ciência, mas é preciso fazer ciência para além do curriculum Lattes. Um artigo em um periódico renomado vale muito, e com certeza é importante, mas também tem igual importância o apoio popular. É importante incentivar e encantar jovens mentes com o universo fantástico da ciência. Para isso, é preciso também valorizar as ações de extensão universitária e de popularização da ciência, fazer com que todos entendam o quanto é importante fazer uma pesquisa cientifica e o quanto isso soma para o nosso país e para cada um de nós, desta forma, a pesquisa no Brasil com certeza terá o apoio que tanto necessita.
*Caiubi Kuhn é Geólogo, mestre em Geociências pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Docente do Instituto de Engenharia, Campus de Várzea Grande, Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e conselheiro do Crea-MT. E-mail: caiubigeologia@hotmail.com