MARCOS PONTES, BRASILEIRO.

21 de agosto de 2012, às 15h12 - Tempo de leitura aproximado: 2 minutos

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Comecei a me interessar pelo programa espacial quando soube que os russos haviam mandado o Sputnic, a Laica e o Gagarin, ao espaço. Eu era muito criança. Só ouvia os adultos comentando. Mais tarde, na década de 60, sabia, de cabeça, o nome dos três astronautas da apolo 11. Em 70 rezei uma semana pelos outros três da apolo 13. Vibrei quando ouvi “Coisinha do pai” do Jorge Aragão, ser tocada em Marte em meados dos anos 90. Fiquei encantado quando “Da-da-dá” do Renato Casanova acordou o robô Spirit, em janeiro de 2004. Fiquei triste com as explosões da Challenger, em 1986, do Columbia, em 2003 e da Base de Alcântara, também em 2003 (eu estava em São José dos Campos naquele dia. Então a tristeza foi ainda maior)… Digo tudo isso só para que o amigo leitor não pense que eu estou apenas deslumbrado com a viagem do engenheiro Marcos Pontes à Estação Espacial Internacional. Sei muito bem o que ela significa em termos de ciência e tecnologia: mais ou menos o que a Regata de Volta ao Mundo significa para o desenvolvimento das Ciências Marítimas ou para a Engenharia Naval: muito pouco.

Mas não é disso que se trata. Os jornalistas e intelectuais que se apressaram a jogar água no chope dos mais entusiasmados, querendo demonstrar toda a sua perspicácia e cultura, esqueceram o principal objetivo disso tudo. E, se tivessem se dado ao trabalho de visitar o website do Marcos Pontes (www.marcospontes.net), teriam descoberto. Está lá, com todas as letras, numa frase dele: “Minha luta não é para chegar ao espaço. Minha luta é para chegar ao coração de cada jovem… e mostrar que TUDO É POSSÍVEL, se realmente desejar”.

Esses intelectuais acadêmicos (à serviço de opções políticas que não vamos discutir aqui) falam dos 10 milhões de dólares que foram gastos como se esse dinheiro fosse resolver a fome no país, melhorar as estradas, aplacar a sede dos corruptos…
Esquecem que muitas universidades medíocres consomem isso em dois meses, sem produzir um paper que valha a pena.
Não percebem os verdadeiros benefícios dessa empreitada. Num país onde praticamente inexistem cientistas, não porque não tenhamos inteligências mas porque os jovens simplesmente não acreditam que valha a pena investir nesse tipo de carreira, me responda o leitor: quanto vale um evento como esta viagem de Marcos Pontes, capaz de despertar em milhares de crianças e jovens a centelha que os coloca no caminho da ciência? Quanto vale um evento capaz de convencer os jovens que estudar vale a pena? Quanto vale um evento capaz de mostrar às crianças que existem pessoas importantes que não são que não são cantores, jogadores de futebol, modelos ou artistas da Globo?

Quanto vale as imagens que vimos, durante esta semana inteira, de crianças em todo o país pesquisando na internet e reproduzindo nas escolas as experiências científicas feitas pelo astronauta na ISS (Não foram só as crianças de São José dos Campos). Quantas crianças no Brasil nunca esquecerão o que significa geocentrismo, depois do que aprenderam com a experiência da germinação dos feijões? Quanto vale isso? Só dez milhões de dólares?
Será que esses intelectuais e jornalistas conseguem propor outro destino para esse dinheiro e que obtenha esse mesmo resultado?

Ênio Padilha (www.eniopadilha.com.br)