Aço inflaciona o Custo Brasil

21 de agosto de 2012, às 15h12 - Tempo de leitura aproximado: 3 minutos

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Adilson Valera Ruiz, geólogo, presidente do Sindicato das Indústrias da Construção do Estado de Mato Grosso (Sinduscon-MT). E-mail: avaleraruiz@geoeste.com.br

O preço de um dos principais insumos para o setor da Construção aumenta mês após mês sem maiores barreiras. Estou falando do aço, fabricado por poucas empresas no Brasil que ditam os preços que querem praticar, sem serem incomodadas pelo Cade – Conselho Administrativo de Defesa Econômica, o órgão do governo federal que deveria combater a cartelização, o dumping e outros males contrários à iniciativa privada. Pesquisa do Sindicato das Indústrias da Construção do Estado de Mato Grosso (Sinduscon-MT) mostra que, em fevereiro de 2003, o aço CA 60 4,2 mm custava R$ 2,27 o quilo. Dois anos após, em janeiro de 2005, o preço tinha pulado para R$ 3,80, uma alta de 67,4%. Ora, nenhum índice inflacionário no período apontou tamanha gula.

Outros exemplos podem ser dados. O aço CA 50 8,0 mm, no período entre fevereiro de 2003 e janeiro de 2005, pulou 65,87%, saindo de R$ 2,11 para R$ 3,50. De fato, todos os produtos que têm o aço como base tiveram altas exageradas. Do pequeno prego 16×24, que subiu 20,30%, à janela basculante de ferro 0,60 x0,60m, com alta de 74,01%.

Essas altas não representam prejuízo apenas para o setor da construção, mas para todo o país. O aço é insumo básico da infra-estrutura nacional. Tais altas exageradas significam aumento do “Custo-Brasil”. O Sinduscon-MT comparou custos de uma casa popular de 32 m2 em fevereiro de 2003 e janeiro de 2005. Antes de divulgar os dados, importante a ressalva de que há diferentes modelos de casa popular. O caso concreto refere-se a unidades comuns em Mato Grosso.

No modelo pesquisado pelo Sinduscon, a casa de 32 m2 gasta 62 quilos de aço CA 60 4,2mm. O custo total desse produto, em fevereiro de 2003, ficava em R$ 140,74. Em janeiro deste ano, pulou para R$ 235,60. Esse tipo de aço está entre os 20 itens com maior peso no custo de uma casa popular. Se multiplicarmos a diferença entre o total gasto neste ano com a totalização de 2003 e multiplicarmos por mil unidades, encontramos o valor de R$ 94.860,00. Apenas um produto à base de aço, considerando mil casas, consumiu quase R$ 95 mil de dinheiro a mais por conta dos reajustes impunes do cartel do aço.

O mesmo projeto de casa popular utiliza 15 quilos de aço CA 50 8,0 mm, que eram adquiridos a R$ 31,65 em fevereiro de 2003 e, agora, não saem por menos de R$ 52,00. Eu poderia seguir com o cálculo, mostrando as diferenças no período envolvendo o arame, a porta de ferro, a janela basculante… Mas creio que os exemplos acima já demonstram o quanto a população brasileira sofre com tais reajustes, até porque o raciocínio acima poderia ser transposto para obras de escolas, hospitais, prédios, silos e, saindo do setor da Construção, para automóveis, tratores, utensílios domésticos…

Interessante que o Brasil é grande produtor de minério de ferro, com destaque na exportação do produto. As altas, portanto, não se referem a questões internas. O que explica tais altas é o interesse do fabricante do aço em jogar com o preço de forma a ter lucros com o mercado internacional. Há carência de aço no mundo e, logicamente, o preço sobe com a elevada procura. Se houvesse real concorrência entre fabricantes, a relação oferta-procura seria mais justa, com aumentos amenizados. Mas o que se presencia é uma concorrência para “inglês ver”.

Normalmente, presenciamos o Cade – Conselho Administrativo de Defesa Econômica – ser notícia coibindo fusões de empresas fabricantes de chocolate e pasta de dente. Nada contra, afinal são setores de grande importância, sem sombra de dúvida, e que não podem ficar à mercê da cartelização. Porém já é hora do importante conselho melhor se posicionar em outras áreas, onde a concorrência privada não ocorre de verdade. A sociedade não pode mais ser refém de setores que atuam à base da imposição de preços.