Profissões do Crea e a produção de riquezas

21 de agosto de 2012, às 15h12 - Tempo de leitura aproximado: 3 minutos

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Ênio Padilha, engenheiro eletricista, consultor em Marketing para Engenharia, Arquitetura e Agronomia. Site: www.eniopadilha.com.br. Título original do artigo: A VERDADE É QUE ENGENHARIA, ARQUITETURA E AGRONOMIA NÃO PRODUZEM RIQUEZAS

Estamos acostumados com essa lenga-lenga tradicional de que os engenheiros, arquitetos e agrônomos são responsáveis por 80, 90, 95% do PIB e achamos tudo isso muito bonito… Mas, e daí? O que é que nós ganhamos com isso? Eu, por mim, como diria Alceu, um amigo meu, “quero a minha parte em dinheiro!”

Chega de tapinhas nas costas e elogios bonitos e insignificantes. Não precisamos desse reconhecimento falso e inútil. A verdade é que a Engenharia, a Arquitetura e a Agronomia não produzem riquezas. Apenas ajudam a construir. Isso faz muita diferença e ajuda a explicar porque certas coisas acontecem.

Veja o agronegócio, por exemplo. Quanta riqueza! Quanta tecnologia! Quanto investimento!

Mas quem comanda tudo isso? Quem decide as coisas? Quem determina onde serão feitos os investimentos?

Os agrônomos? Não. São os barões do campo. Eles é que decidem quanto, quando, como e onde serão feitos investimentos. A agronomia é apenas um desses investimentos.

Na indústria é outro espetáculo! Muita ciência! Muita tecnologia! Muito investimento!

Mas os engenheiros não têm o menor controle sobre esses investimentos e nenhuma participação nos resultados financeiros do aporte de engenharia que uma indústria tem. Somos apenas mão-de-obra intelectual, altamente qualificada.

Veja agora a construção civil. Território que deveria ser nosso. Espaço de produção que deveria ser amplamente dominado por engenheiros e arquitetos. Qual é, efetivamente, o poder de decisão que engenheiros e arquitetos têm sobre os investimentos na construção civil? Qual a participação nos resultados?

Quase 100% dos hospitais ou clínicas médicas do país são de propriedade ou estão sob a direção de médicos. O que se pode dizer das Construtoras (e outras empresas ligadas à construção civil, como as instaladoras, por exemplo) em relação aos engenheiros ou arquitetos?

Aos olhos de quem decide (de quem tem o poder para decidir) Engenharia e Arquitetura tem tanto valor quanto uma carga de sacos de cimento. Pior: entramos na coluna das despesas no vazio, como as taxas, os impostos, o INSS… É isso o que precisa ser mudado.

O marketing institucional de Engenharia, de Arquitetura e de Agronomia, no Brasil, precisa mudar de discurso. Precisa abandonar essa ladainha tradicional de valorização vazia (baseada apenas em frases de efeito) e partir para uma argumentação racional, realista e consistente. É preciso mudar a maneira como somos vistos e entendidos na construção civil, na indústria e na agricultura. Precisamos reposicionar a Arquitetura, a Engenharia e a Agronomia como investimentos estratégicos e lucrativos e não apenas necessários e importantes.

Não somos responsáveis pela produção da riqueza (uma vez que não temos o poder real sobre as decisões de investimento) mas temos uma participação estratégica no processo. Os verdadeiros responsáveis pela produção da riqueza (os que têm dinheiro e são empreendedores) precisam ser esclarecidos para ver as coisas dessa maneira.

Essa inversão de ponto de vista é necessária, tanto internamente (a visão dos próprios engenheiros, arquitetos e agrônomos) quanto para os que comandam os processos e decidem os investimentos. É importante que eles descubram a importância (as vantagens e benefícios) de investir em bons serviços de Engenharia, Arquitetura e Agronomia.

Para isso é necessário vencer a inércia e entender que precisamos agir sobre o sistema e mudar as coisas. Discursos vazios e palavras bonitas não irão mudar nada.