Arquitetura: Um relato histórico no Brasil
21 de agosto de 2012, às 15h12 - Tempo de leitura aproximado: 18 minutos
Por Cêça de Guimaraens, arquiteta graduada na Universidade de Brasília, mestre em Teorias da Comunicação e doutoranda em Planejamento Urbano e Regional. É professora assistente da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro e diretora do Departamento de Identificação e Documentação do Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (Iphan). Entre os trabalhos que realizou estão o projeto e restauração do Terminal das Barcas da Praça XV de Novembro, no Rio de Janeiro, e a organização da série Depoimentos de Arquitetura Brasileira após Brasília. É autora de Luís Paulo Conde, um Arquiteto Carioca (Rio de Janeiro, Editora Escala, 1994), de Lucio Costa – Um Certo Arquiteto em Incerto e Secular Roteiro (Rio de Janeiro, Editora Relume Dumará, 1996) e do número especial Idéias-Espaços, do Jornal do Brasil (1992). Fonte: www.mre.gov.br
A produção arquitetônica brasileira desenvolveu-se sob um processo cultural complexo, e os arquitetos, imigrantes e brasileiros, sempre contribuíram para a ruptura das formas e estilos consagrados. A arquitetura foi expressão de progresso e instrumento para a modernização durante os períodos Colonial, Imperial e Republicano. Contou com o apoio dos governantes – a partir de 1808, com o rei de Portugal, D. João VI, prosseguindo com os imperadores D. Pedro I e D. Pedro II e, mais tarde, desde o ditador Getúlio Vargas até o presidente Juscelino Kubitschek. Mereceu também o apoio de intelectuais e artistas que atuaram na Semana de Arte Moderna, em 1922, no Salão de 31, no Cinema Novo, em 1960, e na resistência à ditadura militar, nas décadas de 70 e 80.
As condições e as principais origens da modernidade na configuração do espaço físico-político brasileiro foram determinadas pela importância do papel da ocupação holandesa na formação das cidades do Recife e de São Luís, no século XVIII, e pela consolidação, no século XIX, das propostas da Missão Francesa, na cidade do Rio de Janeiro, com as “sagas” de Grandjean de Montigny e de Pereira Passos, nos primórdios do século XX.
A criação da Academia Imperial de Belas Artes e o estabelecimento do ensino regular de arquitetura propiciaram, em meados do século XIX, a renovação do barroco – transformado em signo rococó da fase colonial de raiz lusa – e a implantação do formalismo oficial, com o neoclassicismo.
Em 1904, a inauguração da avenida Central, atual Rio Branco, no Rio de Janeiro, institui a técnica da produção industrializada por meio do ecletismo. As fachadas adornadas de elementos pré-fabricados traduzem o imaginário feérico dos imigrantes e resultam em híbridos e polifônicos estilos típicos da fase republicana inicial. Denominados também historicistas e pinturescos de feição neoclassicizante, renascentista e gótica, com inspiração mourisca, anglo-saxônica, italiana e francesa, os edifícios ecléticos exprimem a internacionalização da economia e do comércio no Brasil.
A arquitetura do século XX é inaugurada em São Paulo, em 1902, com a Vila Penteado, de Carlos Eckman, e com a construção da Estação da Estrada de Ferro Sorocabana, em Mairinque, projetada em 1907 por Victor Dubugras. O modern style que Eckman e Dubugras ostentaram nessas e em outras obras apresentou-se sob dupla faceta: o art nouveau e o art déco. Essas tendências do fragmentário e descontínuo “estilo moderno” inicial, ou protomodernismo, multiplicaram as contradições da nação neófita ao contrapor a técnica artesanal da criatividade cristalizada à racionalidade industrial da produção em série.
Simultaneamente, o estilo neocolonial, introduzido pelo arquiteto português Ricardo Severo, expressava as “constantes de sensibilidade” luso-ibéricas. Nesse nativismo predominavam as formas do mission style californiano e do marajoara, enquadrado na condição de vertente do art déco. O período de transição, prolongado até a Segunda Guerra Mundial, destaca a féerie de cenários e estilos improvisados, mas algumas experiências de transformações estilísticas excepcionais foram construídas, no Rio de Janeiro, por empreiteiros italianos, ingleses e alemães, a partir das concepções dos arquitetos Virzi, Morales de Los Rios, Heitor de Melo, Archimedes Memória, Francisque Couchet e Gastão Bahiana.
A hegemonia cultural e política do eixo Rio-São Paulo provocou, nessas cidades, empreendimentos progressistas de renovação da fisionomia urbana e regional, que se expandiram para as demais regiões. A contínua modernidade urbanística e, conseqüentemente, arquitetônica, revela-se na transferência das capitais do Piauí (para Teresina, em 1852) e de Sergipe (para Aracaju, em 1855); na criação das cidades de Belo Horizonte (1894) e Goiânia (1933) e nos planos pilotos de João Pessoa (1932) e Salvador (1945), capitais dos estados de Minas Gerais, Goiás, Paraíba e Bahia, respectivamente.
Em 1926, o urbanismo “renovador” reprisa a Paris iluminista de Haussman no projeto do francês Alfred Agache para a remodelação e embelezamento da cidade do Rio de Janeiro. Convidado pelo governo, o urbanista estabelece na América portuguesa o padrão clássico das capitais modernas européias e altera radicalmente a morfologia e tipologia das fases anteriores.
O fenômeno movimento modernista na arquitetura brasileira teve sua “fase heróica” entre 1930-45. Neste período, alguns arquitetos de renome, ao atenderem às necessidades de expansão e importação/exportação de uma “arquitetura de renovação”, colocaram o País entre os primeiros no ranking internacional da indústria da construção civil e difundiram a homogeneização do espetáculo urbano caracteristicamente cambiante e contingente.
As transformações da arquitetura brasileira foram determinadas pelo arquiteto russo Gregori Warchavchik – graduado em Milão e contratado pelo grupo Simonsen para trabalhar na cidade de São Paulo, no final da década de 20. O marco inicial destas transformações foi o projeto e a construção da Casa Modernista, seguido pela publicação do texto-manifesto Futurismo, a condição de representante do Congresso Internacional de Arquitetura Moderna (CIAM) e as classes de arquitetura na Escola Nacional de Belas Artes, ministradas sob a direção do arquiteto Lucio Costa, com o qual estabeleceu escritório no Rio de Janeiro, entre os anos 30 e 32.
A visita do arquiteto Le Corbusier, em 1929, fortalece os arquitetos vanguardistas que atuavam em São Paulo e no Rio de Janeiro, difundindo as idéias dos precursores modernistas Walter Gropius, Mies Van der Rohe e Frank Lloyd Wrigth. Porém, apenas em 1936 a proposta de Le Corbusier, convidado para resolver o impasse criado no concurso para a sede do Ministério da Educação e Saúde, no Rio de Janeiro, define a aceitação “oficial” do modernismo, com a renovação da técnica e expressão arquitetônicas brasileiras.
“O grupo do prédio do Ministério”, composto por Affonso Eduardo Reidy, Carlos Leão, Ernani Vasconcelos, Jorge Moreira, Lucio Costa e Oscar Niemeyer, consolida o “período heróico” e propicia o estabelecimento da liderança carioca de Costa e Niemeyer, que realizam, em dupla e individualmente, um roteiro entremeado de obras-primas. Desde 1939, com o Pavilhão do Brasil para a Feira Internacional de Nova York, até o concurso internacional e a construção do plano piloto de Brasília, a nova capital federal, em 1956-60, incluindo o conjunto da Pampulha, de Niemeyer (Belo Horizonte, Minas Gerais), o Hotel do Park São Clemente (Nova Friburgo, Rio de Janeiro) e o conjunto residencial do Parque Guinle (Rio de Janeiro), de Costa, confirmam-se as premissas corbusianas e o diálogo entre o racionalismo e o organicismo, que fundamentaram a arquitetura brasileira contemporânea.
A atuação de Lucio Costa no Serviço do Patrimônio, de 1937 a 1960, é simultânea à sua condição de mentor do prestígio internacional da arquitetura brasileira. Essa etapa se caracteriza no Rio de Janeiro pelo atendimento às encomendas do setor privado por Marcelo e Milton Roberto e Henrique Mindlin, enquanto as do setor público dividem os trabalhos de Oscar Niemeyer, Affonso Eduardo Reidy e Carmen Portinho, aos quais se sucedem Francisco Bolonha e Sérgio Bernardes. Em São Paulo, Flávio de Carvalho e outros herdeiros da tradição moderna, como Vital Brasil, Rino Levi, Oswaldo Bratke e Vilanova Artigas, realizam obras significativas, entre elas o conjunto da alameda Lorena, o Edifício Esther, a Residência do Arquiteto, o Hospital do Câncer e a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. No Recife, destacam-se Luís Nunes e Burle Marx, na década de 30, e Delfim Amorim, em 1940-50. Outras capitais, como Salvador por exemplo, tiveram em Diógenes Rebouças e José Bina Fonyat, legítimos seguidores da matriz formalista de base corbusiana.
À maneira de Warchavchik, a arquiteta italiana Lina Bo Bardi, de formação milanesa, demarca outra tendência na transição de estilos, desde sua chegada ao Brasil em 1947. Entre 1950-80, na Bahia e em São Paulo, Bo Bardi explorou a multiplicidade de soluções estéticas da arquitetura brasileira utilizando as fontes vernáculas e racionalistas como referências para seus projetos de espaços culturais e de lazer. O Museu de Arte Moderna de São Paulo, o Solar do Unhão, em Salvador, e o Sesc-Pompéia, em São Paulo, demonstram a evolução da complexidade e singularidade da arquitetura brasileira.
A construção de Brasília configura a superação das limitações culturais e históricas e, no campo da arquitetura, privilegia a quebra da pretensa unidade estética. As reafirmações das identidades locais determinam o início da fase pós-Brasília, quando se evidenciam as características regionais e as diferenças de materiais e técnicas construtivas. Além disso, a constatação do conflito provocado com o adensamento dos bairros centrais das cidades estabeleceu a prioridade para a alteração das escalas dos projetos de planejamento e desenho urbano. Paralelamente, a despreocupação com os modelos modernistas e o cuidado com o habitat ampliaram o campo de trabalho dos arquitetos e possibilitaram o desenvolvimento das tendências arquitetônicas pós-modernistas, tecnológicas e vernaculares. O uso do concreto armado concorre com as estruturas metálicas; o tijolo aparente e as cerâmicas imprimem as cores tropicais na arquitetura.
Em 1969, Lucio Costa projeta o plano piloto para a Baixada de Jacarepaguá e Barra da Tijuca, onde busca atualizar as diretrizes do urbanismo racionalista. Ao mesmo tempo, em várias cidades brasileiras, desde o sul pratense até o norte amazônico, incluindo Minas Gerais e Brasília, desenvolvem-se arquiteturas de tendências variadas, com a reafirmação do international style e as variações pós-modernas. Nesse período revelam-se tanto os continuadores da tradição heróica, como Joaquim Guedes, Paulo Mendes da Rocha, Ruy Ohtake, Filgueiras Lima, Paulo Casé e Acácio Gil Borsoi, quanto a dos revisores do movimento modernista, como Luiz Paulo Conde, Severiano Mário Porto, Francisco de Assis Reis e Jaime Lerner e, finalmente, Sérgio Magalhães, Carlos Bratke, Hector Viglecca e João Castro Filho, além de Éolo Maia e seus parceiros, que configuram a novíssima geração mineira, caracterizada por constante exercício de revisão crítica a partir da absorção de valores universalistas e regionais.
Movimento Modernista
A industrialização e o poder político nacionais, concentrados no eixo Rio-São Paulo, propiciaram a modernização da arquitetura brasileira entre os anos de 1950-70, consolidando as escolas carioca e paulista.
Desde a década de 30, quando tem origem na Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro, a escola carioca se torna o movimento que irradia as idéias modernistas. O arquiteto Lucio Costa é o teórico do movimento, que tem nas figuras de Oscar Niemeyer, Jorge Machado Moreira, Milton e Marcelo Roberto e Affonso Eduardo Reydi seus maiores representantes.
A irradiação do grupo em todo o País decorre da formação universitária de muitos profissionais, cariocas ou não, que se graduam no Rio de Janeiro e migram para diversos estados. Entre inúmeros outros arquitetos e artistas, seguindo a tradição do movimento, Roberto Burle-Marx, Luiz Nunes, Hélio Duarte e, mais recentemente, Acácio Gil Borsoi, Francisco de Assis Reis, João Filgueiras Lima e Severiano Mário Porto empregam os modelos e padrões modernistas em Pernambuco, na Bahia e no Amazonas, adaptando-os simultaneamente às necessidades tropicais.
A migração desses profissionais estimulou nas capitais e regiões do Brasil a criação de instituições, cursos e escritórios de arquitetura e urbanismo, que transferiram experiências e processos, técnicas de construção e de controle ambiental. A tecnologia avançada do concreto armado e os materiais da região, as normas urbanas inglesas e americanas, além das novas formas de habitação multi e unifamiliares, dos espaços e equipamentos para o trabalho, o lazer e o ensino, agregaram-se às lajes de perímetro curvo, terraços, varandas e marquises, aos brises-soleil e cobogós (elemento vazado), para traduzir os elementos básicos e característicos da escola carioca.
Brasília
Brasília, a capital do País inaugurada em 1960, teve a sua construção definida em 1956 pelo presidente da República, Juscelino Kubitschek, e é hoje tombada pela Unesco como Patrimônio da Humanidade. Para a decisão acerca do plano da cidade foi instituído um concurso nacional de projetos, sendo o júri composto pelo inglês William Holford, o francês André Sive, o grego Stamo Papadaki e os brasileiros Paulo Antunes Ribeiro, Horta Barbosa, Israel Pinheiro (presidente) e Oscar Niemeyer, arquiteto que assina as principais obras arquitetônicas da cidade.
Lucio Costa foi proclamado vencedor em 16 de março de 1957, e os outros projetos classificados foram os das equipes formadas por B. Milman, J. H. Rocha e Ney Gonçalves (2º lugar), Rino Levi e associados e M. M. M. Roberto (ambos em 3º lugar). O projeto da equipe de jovens arquitetos paulistas, da qual fazia parte Joaquim Guedes, continha idéias e formas semelhantes às do projeto vencedor, comprovando a importância dos eixos viários e da estrutura linear para a definição do urbanismo contemporâneo.
O plano piloto de Lucio Costa possui a forma de um avião ou de uma cruz; as asas (sul e norte) são constituídas por um eixo rodoviário e eixos laterais (leste e oeste) integrados e margeados por superquadras habitacionais multifamiliares, compostas por blocos longitudinais de seis e três pavimentos, delimitadas transversalmente por ruas para o comércio e equipamentos de ensino e recreação. Ao conjunto de quatro superquadras, definidas com elementos suficientes para a escala residencial e cotidiana, dá-se o nome de Unidade de Vizinhança.
No eixo monumental, braço menor da cruz ou das asas do avião, os edifícios do governo local e federal estão dispostos ora alinhados em seqüência ritmada, compondo a Esplanada dos Ministérios, ora agrupados em torno de espaços localizados nos pólos, criando a Praça dos Três Poderes, do governo federal, e o Paço Municipal, na Praça do Buriti. A Catedral de Brasília, cuja inusitada estrutura é adornada internamente com imaginária religiosa concebida pelo escultor Alfredo Ceschiatti, impõe um ponto de inflexão na Esplanada, que tem como pano de fundo as monumentais cúpulas do Congresso Nacional.
Nessa imensa via, onde o sinal da cruz se expressa de maneira diretamente simbólica e onde se toma posse da terra, segundo os preceitos determinados por Lucio Costa na Memória Explicativa que acompanhou o seu esboço inicial, os edifícios das diferentes esferas de governo são entremeados por setores de negócios, lazer e transporte coletivo. As áreas destinadas a essa mescla de funções se encontram em pontos de interseção e abrigam teatros, shoppings, bancos e rodoviária.
As áreas onde se localizam as embaixadas e a Universidade de Brasília configuram excelente mostra da arquitetura nacional internacional e abrigam centros de pesquisa avançada em diversos campos do conhecimento. Voltadas para o imenso lago artificial que abraça a cidade ao leste, essas áreas são complementadas por clubes e parques, além de residências. A recente ocupação do lago por sofisticados equipamentos para compras e recreação pretende tornar Brasília uma cidade turística, complementando a sua vocação político-institucional e ampliando as possibilidades do desenvolvimento do Centro-oeste, de acordo com as metas do então presidente Kubitschek.
Fase Pós-Brasília
Com a construção de Brasília, capital do País desde 1960, surge uma nova etapa da arquitetura brasileira. À quebra da unidade estética inaugurada com a nova cidade, segue-se a afirmação de identidades locais determinando o início da fase chamada pós-Brasília. É neste período que as características regionais e as diferenças de materiais e técnicas de construção ficam mais evidentes. A diversidade das propostas formais desperta, no Rio de Janeiro, principalmente nas realizações dos arquitetos Paulo Casé e Luiz Paulo Conde, várias revisões e releituras do repertório formal das fases protomodernista e racionalista. O que acabou gerando, a partir dos anos 70, as discussões teóricas que reafirmam a perda da unidade do pensamento arquitetônico, típica da geração dos 50.
Na década de 80 começa a reflexão sobre a questão urbana e reforça-se a crise dos dogmas e dos padrões progressistas; dessa forma, a mescla de atividades orienta a ocupação dos espaços e os aspectos estéticos das edificações. A arquitetura e o desenho urbano transformam-se em motores do desenvolvimento da cidade do Rio de Janeiro, atraindo investimentos turísticos que espraiam por todo o litoral brasileiro os programas de recreação e lazer.
As transformações em códigos locais das forças homogeneizadoras, dos princípios de Le Corbusier e do funcionalismo arquitetônico, revelados na Carta de Atenas, ocorrem de maneira diversa na conhecida escola paulista de arquitetura. Até meados de 1940, na fase inicial ou heróica do movimento modernista, a formação e o ideário estético dos arquitetos paulistas se realizam de maneira idêntica à dos cariocas.
Os contatos e intercâmbios de idéias e trabalhos proporcionam a Lucio Costa, Gregori Warchavchik e Flávio de Carvalho o desenvolvimento de parcerias e eventos que têm na Escola de Belas Artes seu pólo aglutinador. A avenida São João, na área central da capital paulista, é o símbolo e a vitrine das semelhanças entre as arquiteturas do Rio e de São Paulo.
A década de 60 – quando a capital federal do País se desloca para Brasília, os militares instalam a ditadura militar e planeja-se a fase de expansão conhecida como “milagre econômico” – caracteriza a fase áurea da arquitetura paulista, com a predominância das grandes estruturas de concreto aparente, sua principal marca. Oswaldo Bratke, Roberto Cerqueira César e Rino Levi, lado a lado com arquitetos estrangeiros, entre os quais se destaca a italiana Lina Bo Bardi, atendem à imensa demanda para a construção de apartamentos, edifícios de escritórios, cinemas e residências da classe média e da elite paulista, formada por brasileiros de outros quadrantes, além de europeus e asiáticos.
João Vilanova Artigas, que trabalhou com Warchavchik, em 1939, e complementou os estudos nos Estados Unidos, é considerado o definidor da escola paulista de arquitetura. As preocupações de Vilanova Artigas com as questões sociais refletem-se nas propostas teóricas e na produção prática que seguem as teses e as formas corbusianas de maneira quase radical. Os temas e os programas arquitetônicos, característicos de suas realizações, apresentam grandes planos e geometrias puras; desprovidos de revestimentos, adornos e de metáforas formalistas, promovem a integração dos espaços abertos no interior dos edifícios e o contraste das pesadas vigas com rampas e escadas leves e delicadas. A socialização dos equipamentos nos clubes, rodoviárias e condomínios populares, desenvolvida em diversas obras de Artigas e de seus epígonos, tornou-se a referência mais significativa para os arquitetos de outros estados.
Joaquim Guedes, Paulo Mendes da Rocha e Ruy Ohtake – descendente de japoneses e fortemente influenciado pelos exercícios formais niemeyerianos -, lado a lado com talentos recentes, como Carlos Bratke e Hector Viglecca, propagaram em Brasília, Goiás, Rio de Janeiro e no interior do estado de São Paulo as soluções da arquitetura paulista, procurando sempre aliar a produção industrial ao rigor geométrico.
Após a febre do concreto aparente, da completa ausência de revestimentos e do uso excessivo de grandes vãos em estruturas metálicas nas décadas de 60 e 70, expressos admiravelmente na avenida Paulista e nos clubes e escolas do interior, os arquitetos deram seqüência à plástica pós-modernista, estabelecendo o diálogo das vedações revestidas em cerâmicas de cores vivas com os vazios, projetando edifícios comerciais e residências multifamiliares que ocupam novos bairros e alteram as perspectivas das avenidas marginais.