O petróleo e a busca de opções

21 de agosto de 2012, às 15h12 - Tempo de leitura aproximado: 5 minutos

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Sátyro Pohl Moreira de Castilho, engenheiro civil, presidente do Crea-MT – Em 17/05/2004

Alta histórica no preço do petróleo, ocorrida na semana passada, demonstra o quanto é importante ao poder público o investimento em alternativas de geração de energia, principalmente renováveis. O consumo de petróleo no mundo aumenta na proporção da industrialização dos países. Mais carros nas ruas, mais fábricas, maior urbanização contribuem diretamente para o aumento da procura sobre o produto. O século XXI deverá ser, sim, de busca de alternativas.

Conjunturalmente, vivemos um momento de otimismo na produção de barris. A imprensa noticiou que a Petrobras bateu novo recorde de refino em abril. A estatal processou 1,76 milhão de barris de petróleo por dia, 1,2% superior ao recorde anterior – atingido em março – de 1,738 mil barris diários. O recorde influenciou na redução de 80% nas importações de óleo diesel nos primeiros quatro meses deste ano, que atingiram 14 mil barris ao dia. A empresa também registrou recorde na produção de óleo diesel no mês passado, chegando a 694,2 mil barris/dia – 4,3% maior que último recorde, registrado em março, de 665,3 mil barris diários.

A notícia é boa e reduz a influência da crise mundial, agravada pelos conflitos no Oriente Médio, sobre o país. Porém não se sabe até que ponto pode ocorrer a redução desse impacto na economia brasileira. Por experiências passadas, sabemos: sempre que há majoração exacerbada no preço do petróleo, quem paga a conta são os países em desenvolvimento.

Por isso, se a notícia da Petrobras é positiva, melhor ainda o anúncio pelo governo federal, através do ministro Ciro Gomes, de que o país irá tirar da gaveta uma série de projetos voltados para o biodiesel envolvendo mamona, soja, babaçu, dendê, algodão ou girassol. “A produção de óleos vegetais em grande escala para a fabricação de biodiesel é uma prioridade federal e pode ser tornar realidade ainda no governo do presidente Lula”, garantiu. A intenção de Ciro Gomes é que o biodiesel responda por pelo menos 2% da matriz energética do país até o final do governo Lula, o que não é pouca coisa.

“Além de diminuir a dependência brasileira de petróleo e de reduzir a emissão de dióxido de carbono (CO²) na atmosfera, o biocombustível é considerado um excelente instrumento de geração de renda, emprego, inclusão social e desenvolvimento regional”, afirma reportagem da Agência Brasil. E Mato Grosso pode muito lucrar com o assunto. A soja é cogitada inclusive para gerar substituto de combustíveis para a aviação. Se o governo mato-grossense tiver visão, juntamente com os setores empresariais, começará a pensar no produto primário sendo muito mais do que um fator de exportação, mas também um insumo para a produção de combustível.

Nos anos 80, o Brasil assistiu uma iniciativa que deu certo, embora tenha sofrido – e ainda sofra – saraivadas de críticas. O ProÁlcool mudou o cheiro dos postos de combustíveis no Brasil. Porém a frota de carros minguou e hoje é insignificante. Infelizmente, mataram – no Brasil – o programa energético envolvendo o álcool. Se havia falhas, que fossem corrigidas e adequadas. Se as pesquisas e investimentos no programa energético envolvendo o álcool tivessem avançado, o Brasil hoje estaria mais à vontade quando o assunto fosse crise do petróleo e talvez tivesse maior Know-how para abordar novas pesquisas envolvendo, por exemplo, a soja.

Mesmo com a queda de investimentos no álcool, o Brasil é referência no assunto. No início de maio, o Instituto Internacional de Energia (IEA), organismo que reúne os países consumidores de petróleo, divulgou estimativas de que, dentro de seis anos, a queima de combustíveis não-fósseis (com destaque para o álcool) na frota mundial de veículos poderá chegar a 5% do total.

Mas há outras opções que, se obviamente não podem se tornar matrizes, ao menos amenizam o consumo de petróleo. A pesquisa sobre energia solar merece maior destaque. No site do Crea, por exemplo, há interessante matéria que mostra o esforço de pesquisadores em prol do carro solar. No texto, do jornal O Globo, pesquisador ressalta vantagens ambientais do veículo, pois não emite gases poluentes, não produz ruídos e não degrada o ambiente para obter energia. “A luz solar, absorvida por um painel, é convertida em energia elétrica, que carrega baterias e aciona o motor elétrico. Não há combustível”, explica.

Dados do Procobre, importante instituto de pesquisa do país, ressaltam que, em um ano, a energia solar que incide no Brasil é de 15 trilhões de MWh, o que corresponde a 50 mil vezes o consumo nacional de energia elétrica registrado em 1999. “Além disso, cada m² de coletor solar instalado gera anualmente a energia equivalente a 215 kg de lenha, 55 kg de gás de cozinha, 66 litros de diesel ou 73 litros de gasolina ou também pode evitar a inundação de 56m² de áreas férteis na construção de novas usinas hidrelétricas”, dizem técnicos do Procobre.

Não se trata, é claro, de substituir completamente o petróleo ou de reduzir drasticamente o seu uso, o que somente é possível em questões de décadas. Porém, qualquer porcentagem de redução do número de barris significa um ganho econômico e ambiental. O petróleo não veio para ficar. Certamente, é insumo que, no futuro, será estudado nos livros de história, mas que – quando esse futuro chegar – existirá apenas para matar a curiosidade. Mal comparando, será como o pau-brasil, hoje praticamente desconhecido de qualquer cidadão brasileiro, embora tenha dado nome ao país e colorido, abundantemente, as roupas européias.

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