Colcha de retalhos no transporte brasileiro

21 de agosto de 2012, às 15h12 - Tempo de leitura aproximado: 2 minutos

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Sátyro Pohl Moreira de Castilho, engenheiro civil, presidente do Crea-MT. Inserido em 26/04/2004

O presidente Lula, em reunião na sexta-feira (dia 23/04), cobrou resultados dos seus ministros para a área de infra-estrutura do país. Na verdade, o “custo Brasil” aumenta ano após ano por causa da carência de investimentos em infra-estrutura. Os recursos mal dão para a manutenção do que já existe. Levantamento do Sindicato Nacional das Indústrias de Construção Pesada (Sinicon) mostra que, no momento, há 111 obras paradas nas rodovias federais. A produção brasileira vai ficando pelos buracos da estrada e perde concorrência no mercado externo.

O Brasil paga caro hoje por uma opção de transporte pautada praticamente toda sobre rodovias. O sucateamento das ferrovias brasileiras a partir dos anos 60 e o abandono, com boas exceções, de projetos hidroviários foram resultado de decisões políticas equivocadas. Hoje, não temos um sistema rodoviário condizente com as necessidades do país e também não existem opções. Há projetos, bons projetos, que não saem do papel porque os recursos são poucos e, mesmo poucos, são aplicados de maneira política, e não técnica.

Em 1975, o governo federal investia 1,65% do PIB em transporte. Em 1999, o percentual foi de apenas 0,10%. Desde 1978 que o governo federal não investe mais de 1% do PIB em transporte. O resultado foi o sucateamento de toda a malha de transporte. Vale considerar que, no Brasil, as estradas pavimentadas não chegam a 150 mil quilômetros, mesmo sendo o sistema rodoviário a viga mestra do setor de transporte. Na Austrália, são 250 mil Km. No Canadá, 290 mil. Nos EUA, 5 milhões de Km. No Japão, 790 mil Km. Na França, 750 mil Km. A conclusão é que o Brasil tem poucos quilômetros asfaltados e, mesmo assim, não consegue mantê-los.

Sem rodovias decentes, sem trilhos opcionais: No Brasil, são apenas 22 mil Km de ferrovias mal conservadas. Os EUA têm mais de 200 mil Km. A Inglaterra tem 40 mil Km. O Japão, 23 mil Km.

O custo de manutenção dos veículos, o volume de acidentes nas rodovias ampliando o déficit do Sistema Único de Saúde, os grãos desperdiçados pelas estradas, o tempo de viagem ampliado, o impacto disso tudo sobre o frete, a conjugação da precariedade de estradas federais com investimentos parcos em estradas vicinais… O transporte no Brasil é assim: uma colcha de retalhos de problemas.

Lula cobra de seus ministros. Fernando Henrique também fez o mesmo. Idem para Itamar Franco, para Fernando Collor, para José Sarney. Há muitas cobranças, mas resultado – que é bom – não chega. E dá-lhe tributos sobre a população brasileira…

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Este espaço é atualizado toda segunda-feira. Publicado em 26/04/2004