Estudo comprova benefícios do consumo de frutas
20 de julho de 2007, às 0h00 - Tempo de leitura aproximado: 5 minutos
Há um motivo para a recomendação das autoridades sanitárias de que as pessoas comam cinco porções (500 g) diárias de frutas e verduras, como comprova um estudo realizado por pesquisadores espanhóis sob a direção de Antonio Agudo, do serviço de epidemiologia do Instituto Catalão de Oncologia (ICO). Os pesquisadores analisam há anos a relação entre a dieta e o câncer (e outras enfermidades) e seu trabalho indica que os espanhóis que comem mais frutas e verduras têm índice de mortalidade até 30% inferior ao das pessoas que não consomem esses alimentos.
Os pesquisadores analisaram durante seis anos e meio as causas de morte de 41.358 pessoas de entre 30 e 65 anos, nas províncias de Astúrias, Guipúzcoa, Navarra, Murcia e Granada. Esse é o grupo de espanhóis recrutado entre 1992 e 1996 para o estudo europeu Epic sobre nutrição e câncer, e os pesquisadores acompanharam o que eles comem, e em que quantidade. O estudo dirigido pelo ICO comprovou que, entre essas pessoas, houve 562 mortes desde o início da pesquisa, e os óbitos foram analisados de acordo com cada grupo da população (cada qual formado com base no volume de frutas e verduras consumidas). A constatação foi de que o índice de mortalidade era mais baixo no grupo que comia mais frutas e verduras e mais alto no que menos as ingeria.
Na Espanha, é raro que pessoas não comam pelo menos algum volume de frutas e verduras. De fato, o consumo médio entre as pessoas pesquisadas era de 224 g de verdura e 276 g de fruta ao dia. Mas cerca de 25% da população tem consumo inferior à metade dessa média, e outros 25% comem o dobro dela, o que resulta em diferenças nos índices de mortalidade de cada grupo.
O estudo constatou, por exemplo, que a mortalidade é 21% mais baixa entre os espanhóis que consomem mais frutas frescas, ante os que consomem menos, 28% mais baixa para os que consomem verduras e 23% para os que comem legumes. Em termos de nutrientes, a mortalidade cai em 26% entre as pessoas que tomam mais vitamina C, 32% entre as que consomem mais vitamina A e 35% entre as que consomem mais licopeno (um caroteno presente nos tomates, por exemplo).
Agudo explicou que ele atribui a redução da mortalidade sobretudo aos antioxidantes contidos nas frutas e verduras, que combatem a oxidação das células, um processo que causa sua mutação, envelhecimento e morte, o que afeta os tecidos. Isso vale para as vitaminas C e A, mas o estudo aponta que os benefícios do licopeno não se relacionam tanto a suas propriedades antioxidantes quanto a sua influência sobre outros mecanismos metabólicos, a exemplo da produção de insulina ou proteção contra inflamações.
Agudo sinalizou que o consumo mais intenso de frutas e verduras reduz a mortalidade por doenças como o câncer, as enfermidades cardiovasculares e respiratórias e o diabetes (entre as pessoas estudadas, 295 morreram de câncer, 123 por enfermidades cardiovasculares, 66 em acidentes e causas semelhantes e 31 por enfermidades respiratórias e digestivas, além de outras causas menores).
“Comer mais de uma fruta ao dia já reduz em 20% o índice de mortalidade, e o mesmo se aplica a mais de uma porção de verdura ao dia”, garantiu o pesquisador, acrescentando que, mesmo fora dos extremos da população no que tange ao consumo ou rejeição de frutas é verduras já é possível constatar os benefícios de uma ração ampliada. Gabriel Capella, diretor de pesquisa do ICO, e Carlos González Svatetz, também pesquisador do centro e coordenador da porção espanhola do estudo Epic, apontam que esses dados apóiam solidamente a recomendação de comer de maneira mais saudável e provam a relação entre a dieta e a saúde, conhecida desde a Grécia antiga.
Eles reclamaram do fato de que, nos últimos 50 anos, foram conduzidos poucos estudos sobre a alimentação, e que os resultados apresentados são muitas vezes contraditórios ou inconsistentes, o que confunde os consumidores.
Agudo insistiu em que o benefício dos alimentos surge quanto maior for a presença de frutas e verduras na dieta, mas também deriva da variedade desta. Ele mencionou que estudos envolvendo nutrientes isolados (como os suplementos de vitaminas) não propiciam resultado semelhante. Já seu estudo menciona outros trabalhos semelhantes, como uma pesquisa grega segundo a qual elevar o consumo a 230 g de verduras e 200 g de frutas ao dia reduz a mortalidade em respectivamente 12% e 18%. O estudo espanhol foi o primeiro dessa duração e abrangência realizado no país.
A população da Espanha tem o maior consumo de frutas e verduras entre os países europeus, disseram os pesquisadores, mas ainda assim eles consideram que ele possa subir ainda mais, e ser mais estimulado, dada a porção da população que ainda consome totais inferiores ao mínimo de uma porção de frutas e uma de verduras ao dia é pouco, sublinharam. Além disso, os jovens consomem menos frutas e verduras que os adultos, e no norte da Espanha o consumo é menor do que no sul.
Os pesquisadores pediram a realização de campanhas e ações como as adotadas contra o tabaco, quando foi constatada sua condição de causa de mortalidade. Ainda que admitam que a relação entre a alimentação e a presença de enfermidades não seja tão clara para a alimentação quanto o é para o tabagismo, recordaram que a obesidade, por exemplo, resulta em maior incidência de câncer do reto, intestino, esôfago e mamas, e o mesmo se aplica ao sedentarismo.
O estudo de Agudo, curiosamente, também constata igual incidência de mortalidade entre as pessoas que exercitam e as que não o fazem, e entre as pessoas que consomem e não consomem álcool. Os fumantes têm mortalidade 71% mais alta, e as pessoas com menos educação também apresentam mortalidade mais alta.
Fonte:Redação Terra