Ladrilhos hidráulicos voltam a encantar

12 de julho de 2007, às 0h00 - Tempo de leitura aproximado: 6 minutos

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A técnica em pisos decorados foi trazida ao Brasil pelos mestres italianos e permite a confecção de peças personalizadas, mediante a escolha prévia das cores e modelos

Chão, parede ou teto se transformam numa obra de arte quando se opta pelos ladrilhos hidráulicos. Fabricados artesanalmente em Cuiabá, pela única fábrica existente em Mato Grosso, eles decoram vários tipos de ambiente incluindo residências, jardins e até empresas. Nos dois últimos anos tem aumentado a procura por este tipo de material que apresenta diversas vantagens, sendo a mais importante para a Grande Cuiabá o fato de diminuir pelo menos 3ºC na temperatura ambiente.

A arquiteta Míriam Serra que investiu na fábrica de ladrilhos hidráulicos por paixão e herdou de uma família tradicional nesta atividade, revela que ainda conserva forma e moldes de 80 anos. Ela e o irmão Alex de Matos, que também é arquiteto e apaixonado por estas peças, atendem as encomendas, mas também investem em novos moldes e criam seus próprios desenhos. “As vezes a pessoa nos trás o modelo do que quer em outras criamos juntos”, conta.

Segundo a arquiteta, a utilização do ladrilho voltou a moda com toda a força. Tanto que o arquiteto paulista Paulo Mendes da Rocha superou a criatividade e transformou o fundo de uma piscina em um painel. “Tudo combinando com a casa. Ficou maravilhoso, parece um tapete, é uma obra de arte”, elogia.

Míriam conta que a confecção do ladrilho hidráulico começa com a escolha de um molde de ferro onde são depositadas manualmente as porções de tinta, uma camada de cimento seco e outra de argamassa de concreto. O resto lembra o ofício de uma quituteira, ou seja, desenformar, deixar em repouso, imergir em água, dispor em um armário para curtir. “É importante considerar que as peças são desenformadas uma a uma. A intensidade da pressão sobre o molde faz com que os ladrilhos saiam iguais. O processo artesanal permite que um trabalhador consiga produzir entre dois e cinco metros quadrados por dia. Depende da complexidade dos desenhos e de quantas cores serão utilizadas”, ressalta.

Depois de retirado do molde, o material precisa ficar em repouso por 12 horas. Esta etapa ocupa boa parte do espaço das fábricas, o que obriga muitas delas a trabalharem somente com encomendas, evitando grande volume no estoque. Os ladrilhos hidráulicos recebem este nome pelo fato de serem molhados após o repouso. Eles passam cerca de oito horas imersos em água. Ao contrário dos materiais cerâmicos, dispensam qualquer processo de queima. “Depois de retiradas dos tanques, as peças precisam imediatamente voltar às prateleiras para nova secagem, desta vez por um tempo maior. O processo é lento porque se dá de forma natural, sem utilização de estufas ou fornos”, explica a arquiteta.

Rica história

Clássicos da arquitetura de interiores, os ladrilhos hidráulicos não são um trabalho imortalizado por designers famosos, mas também se pode dizer que é uma nova invenção do setor de construção. Na opinião do arquiteto Darlei Ribeiro, estas peças estão na moda novamente e sendo usadas de todas as formas, principalmente quando a pessoa quer dar um toque de intimidade e aconchego ao ambiente. “Atualmente, os ladrilhos também estão em alta no setor comercial. Alguns optam, inclusive, por fazer os ladrilhos com a logomarca da empresa”, diz.

No entanto, Ribeiro defende que é necessário a opinião de um profissional na hora de planejar a obra. “Penso que essas peças que emocionam arquitetos e apaixonados por decoração combinam com todos os tipos de ambiente, exceto aqueles muito cleans ou super-modernos”, pondera.

Os quadrados coloridos que lembram azulejos portugueses e compõem desenhos em pisos, paredes e até em tampos de móveis, foram muito utilizados na Europa antes de chegar a São Paulo, no início do século passado. As primeiras peças vieram de Portugal, da França e da Bélgica e enfeitavam os pisos das casas de fazendeiros, de museus ou da entrada de prédios chiques.

Com o surgimento da cerâmica industrializada, na década de 60, o ladrilho ficou no esquecimento. O revestimento emergente trazia ares de modernidade às casas, além de vantagens com relação a acabamento e manutenção. Nos anos 80, arquitetos e decoradores voltaram a valorizá-los como forma de personalizar projetos.

Ribeiro explica que como no passado, a confecção dos ladrilhos hidráulicos é artesanal. Segundo ele, nas poucas fábricas existentes no país, nada de máquinas ou computadores, apenas poucos homens trabalhando com muita habilidade e concentração. “Podemos dizer que eles são artistas”, brinca. (EP)

Especificações dependem do uso

O ladrilho hidráulico pode ser assentado com outros tipos de piso, mas deve ser feito de forma apropriada para a carga que vai receber. Vale ressaltar que no piso exclusivo para pedestres, o lastro deve ter a espessura de três a cinco centímetros. Já, se houver tráfego de carros, assim como entradas ou acessos de garagens, o lastro deve ter a espessura de sete a 10 centímetros.

Há duas formas de assentar o ladrilho hidráulico, a primeira é o tradicional com argamassa de areia lavada e cimento, e há também aqueles que utilizam argamassa colante do tipo cimento-cola. (EP)

Técnica é muito antiga

O ladrilho hidráulico também é conhecido como mosaico, porque vem da palavra grega mosaicon, que significa obra paciente, há uma diferença entre os dois. O trabalho de rara beleza, mas muito durável, exige paciência e atenção na hora de ser fabricado. O arquiteto Roberto Roscarin explica que o mosaico é feito com cerâmica, pedras, mármores, que vão sendo colocados para formar a imagem que se pretende. Já no caso do ladrilho hidráulico, os desenhos são feito por meio de uma forma ou molde de ferro, onde é colocado uma mistura composta de cimento branco e e óxido de ferro, que determina as cores das peças. “Nesta fase, o conhecimento do artesão é fundamental, pois a pressão sobre o molde é feita de forma manual, através da prensa”, ressalta.

Ele conta ainda que os ladrilhos hidráulicos são originários da Itália e foram trazidos para o Brasil por mestres italianos. A técnica artesanal permite a confecção de peças personalizadas, mediante a escolha prévia das cores e modelos. Segundo Roscarin, o ladrilho é constituído por cimento hidráulico colocado em camadas nas formas. A primeira, com superfície colorida e decorada, a segunda com granulometria fina e a terceira e última de parte inerte, ou seja, a areia mais grossa.

A decoração segue inúmeros padrões, os desenhos podem ser geométricos, estilizados, com baixo relevo e com ramagem e flores. As peças são produzidas, em sua maioria, nas dimensões 20 X 20 cm, 25 X 25 cm e 30 x 30 cm em diversas combinações de cores. As tintas utilizadas são a base de ferro, e os ladrilhos têm durabilidade estimada em mais 100 anos.

Já os ladrilhos externos ou de passeio apresentam características antiderrapantes e suportam cargas aplicadas de forma similar ao concreto. Os ladrilhos decorados, por sua vez, permitem a composição de pisos, resultando em belos efeitos decorativos, como por exemplo as calçadas de Copacabana (RJ).

Fonte: Gazeta Digital