Sem gás, térmica pára

18 de junho de 2007, às 0h00 - Tempo de leitura aproximado: 3 minutos

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O sistema energético estadual está mais uma vez vulnerável. Desde as 11 horas de ontem, a termelétrica de Cuiabá – a usina Mário Covas – está parada por falta de gás natural. Na última sexta-feira, a Bolívia reduziu em mais 50% o volume do combustível que vinha sendo despachado, cerca de 1,1 milhão de metros cúbicos, para 600 mil, quantidade insuficiente para a geração mínima da planta, em 135 megaWatts (mW). Neste ano, esta é a segunda interrupção no despacho de gás, mas a primeira que compromete a operação.

Apesar da notificação antecipada por parte do governo boliviano, o corte no sobre o despacho é mais um episódio negativo dentro da tentativa de entendimento entre a Empresa Produtora de Energia (EPE) – controladora da usina – e a estatal Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB), desde que a nacionalização do comércio, produção e exploração de gás e petróleo foi decretada pelo presidente Evo Morales, em 1 de maio de 2006.

Como explica o responsável por Assuntos Regulatórios da EPE, Fábio Garcia, a possibilidade de geração por meio de óleo diesel, já que a usina é bicombustível, “não está sinalizada até o momento”.

O executivo explica que com o envio de 600 mil metros cúbicos e com as dúvidas sobre os próximos volumes não há como prever a retomada da geração. “Temos de ter garantia de fornecimento e de volume para rodar a planta. Não podemos funcionar um dia e parar no outro. Por mais que haja a necessidade de redução no envio de gás para Mato Grosso, a EPE tem de saber de quanto será a redução e tem o direito de que a quantidade despachada seja um mínimo condizente com as necessidades do momento”.

Até a semana passada o Operador Nacional do Sistema (ONS) requeria da térmica geração de 240 mW, ou 50% de sua capacidade (480 mW). Para isso, o volume de 1,1 milhão de metros cúbicos eram suficientes. “Mas, desde a última terça-feira, o Operador está requerendo a capacidade instalada da usina, ou seja, 480 mW. Além de não cumprirem o contrato firme que existe de 2,2 milhões de metros cúbicos, o despacho já reduzido em 50% há muito tempo, sofreu nova pressão neste final de semana, caindo em mais 45%. Nestas condições, somos obrigados a desligar as máquinas”, relata Garcia. Com o despacho de 600 mil metros cúbicos a Bolívia cumpre apenas 25% do volume contratual (2,2 milhões).

Ele cobra um posicionamento do país vizinho. “Não podemos trabalhar assim, as garantias devem existir. Nossa geração só será restabelecida quando o volume for retomado (2,2 milhões) ou quando os despachos atingirem estoques de gás suficiente nos dutos para gerarmos de forma contínua”.

A EPE pode suprir até 70% do consumo estadual. A possibilidade de apagões não está descartada, “já que o sistema fica fragilizado sem a usina”, mas, nos finais de semana o consumo é reduzido e mais ainda durante os dias frios. “Com volume insuficiente para prestar uma segurança mínima ao sistema, é preferível deixar a planta em reserva técnica para dar suporte ao Estado durante a semana, caso os despachos não sejam interrompidos”.

EXPLICAÇÕES – Garcia explica que na notificação, a redução foi justificada por problemas técnicos na estação boliviana de Rio Grande. “Isso teria levado ao corte no volume despachado ao Estado. O que não entendemos é porque o corte não é igual para todos os mercados consumidores da Bolívia”.

Sem criar polêmica, Garcia confirma que na próxima semana, com data a ser definida, está agendada uma nova rodada de negociações entre executivos da EPE e da YPFB, com o objetivo de atualizar o contrato firme até 2019 que a Empresa tem com o governo boliviano. Os entendimentos têm sido marcados por impasses porque a EPE não admite mudanças contratuais além do reajuste de 253% sobre o milhão de BTU do gás natural. Já o governo vizinho quer, além da alta, reduzir volumes ao Estado e incluir uma cláusula que os isente de penalidades caso os volumes não sejam cumpridos.

Desde fevereiro, os presidentes dos dois países chegaram ao acordo de que o preço atual de US$ 1,19 por BTU seria reajustado para US$ 4,20. Falta a atualização de contrato para que o novo valor seja aplicado.

Fonte:Diário de Cuiabá