Cotação da suinocultura é achatada em 51%
25 de maio de 2007, às 0h00 - Tempo de leitura aproximado: 3 minutos
A suinocultura mato-grossense enfrenta a pior crise das últimas duas décadas. Depois de amargar perdas por longo período, os preços do quilo do suíno vivo começaram a reagir com o crescimento das exportações e a valorização da carne suína no mercado internacional.
“Quando o produtor teve a oportunidade de começar a recuperar parte de suas perdas, surgiram os focos de febre aftosa (outubro 2005) e os preços do suíno voltaram a despencar no mercado interno”, conta o produtor Valdomir Ottonelli, de Nova Mutum (269 quilômetros a médio norte de Cuiabá).
De R$ 2,25 o quilo em 2005, os preços do suíno vivo caíram para até R$ 1,10 (cotação de ontem), para um custo de produção de R$ 1,50 para quilo do animal. Em toda a cadeia produtiva, porém, somente o criador foi atingido pela crise, pois o consumo interno da carne suína se manteve estável e as exportações mato-grossenses bateram recordes consecutivos nos dois últimos anos (2005 e 2006). Só no último ano foram 11,72 mil toneladas e volume comercializado de US$ 23,73 milhões, com crescimento de 143,03% no ano.
Os produtores apontam o embargo da Rússia à compra da carne suína brasileira como a principal causa da crise no setor.
“Estamos temerosos de que a manutenção deste quadro possa inviabilizar a suinocultura em nosso Estado”, alerta Valdomir Ottonelli, que também faz parte da diretoria da Associação dos Criadores de Suínos do Estado de Mato Grosso (Acrismat) e participou na última quarta-feira à noite de uma reunião para discutir a crise na suinocultura mato-grossense.
Ottonelli integra a Coopermutum – cooperativa que congrega produtores de suínos da região de Nova Mutum – e reforça que esta é a pior crise dos 20 últimos anos. “Se alguma medida não for tomada para minimizar a crise, os produtores serão obrigados a abater matrizes e reduzir o plantel. Ainda não chegamos a esta situação, mas se os preços continuarem caindo os suinocultores vão tomar medidas extremas”, adverte o produtor.
Segundo ele, os preços são incompatíveis com os custos de produção. “Estamos em um ano muito complicado. O embargo russo impôs fortes perdas à suinocultura e temos que trabalhar para recuperar este mercado”, disse, apontando “fragilidade na defesa sanitária brasileira” como um dos empecilhos para a conquista de novos mercados.
CRISE LOCAL – Para Dilamar Pelissa, proprietária da Grande Água Viva, em Sinop (503 quilômetros ao norte de Cuiabá), a situação está insustentável. O frigorífico Intercoop (Integração das Cooperativas do Médio Norte de Mato Grosso) – único habilitado a exportar para a Rússia – estava pagando ontem R$ 1,10 pelo quilo do suíno vivo (preço no frigorífico).
“Se computarmos as despesas com frete (R$ 0,08/Kg), Funrural (R$ 0,03/Kg) e quebra (de peso) durante o transporte (R$ 0,02/Kg), temos uma redução de R$ 0,13 por quilo. Isto significa que o preço [líquido] que estamos recebendo é de R$ 0,97/Kg. Não há como trabalhar desta forma”, reclama Dilamar.
Segundo ela, em um animal de 100 quilos a perda para o produtor pode chegar a R$ 35. “Estou na atividade há mais de 15 anos e a nunca vi crise pior”, conta.
Ela diz que o estoque de milho da granja deverá se esgotar nas próximas semanas. “Encaminhei dois pedidos de custeio ao Banco do Brasil. Se for aprovado, vou continuar trabalhando. Caso contrário, terei de desfazer o estoque e parar de trabalhar”.
Fonte:Diário de Cuiabá