Preços da construção sobem mais, apesar da desoneração
23 de fevereiro de 2007, às 0h00 - Tempo de leitura aproximado: 4 minutos
Nem mesmo as desonerações tributárias concedidas a uma série de insumos da construção civil, nem o câmbio valorizado foram capazes de conter o crescimento dos preços desses produtos. Nos últimos 12 meses até janeiro deste ano, o Índice Nacional da Construção Civil (INCC) subiu 5,15%. É um número bem acima do apurado pelo Índice Geral de Preços (IGP-DI), que subiu 3,5%. Já os preços ao consumidor (IPC) avançaram 2,1% .
O forte crescimento da construção civil em 2006 e o aquecimento da demanda internacional por algumas commodities explicam a disparidade entre os preços do setor e demais indicadores de inflação. Além disso, no setor a concorrência dos importados é baixa.
Em 2006, o ramo da construção civil cresceu 4,5%, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É um resultado bem acima do esperado para o Produto Interno Bruto (PIB), que não deve ultrapassar 2,7%. A expansão do financiamento habitacional e o ano eleitoral – recheado de obras – impulsionaram o setor.
Com esse aquecimento, as desonerações tributárias – redução da alíquota do Imposto Sobre Produto Industrializado (IPI) – para produtos como argamassa, fios de cobre, caixas d’água e a valorização do câmbio, que minimizam internamente o impacto dos aumentos de preços no mercado internacional, foram insuficientes para segurar a inflação de alguns produtos.
Os condutores elétricos, feitos de cobre, ficaram 25% mais caros em 2006. Até janeiro, porém, a alta em 12 meses cedeu para 18%. Mas estes aumentos são muito menores do que os do mercado internacional, onde o cobre subiu 78,4%. Já o aço teve alta de 30,3% internacionalmente e até janeiro acumulava queda de 3,21% em 12 meses. As esquadrias de alumínio subiram 7,4% no mercado interno e 34% no exterior em 2006.
“Chegamos ao pico de alta das commodities metálicas”, avalia Carlos Thadeu Freitas Gomes Filho, do Grupo de Conjuntura da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Para ele, se houver aumento, será marginal. Além disso, ele lembra que esse setor fez investimentos recentemente e tem capacidade para aumentar a produção sem pressionar por reajustes.
Nos últimos meses, os preços apurados pelo INCC não ficaram acima dos demais índices. A média das variações de novembro a janeiro foi de 0,36%, abaixo dos 0,52% do IPC e dos 0,42% do IGP. Otávio Aidar, da Rosenberg & Associados, diz que além do período eleitoral e da forte demanda externa por commodities, o país passa “por um período pré ‘investment grade’ e, antes desse momento, geralmente a construção civil se aquece, dando espaço aos reajustes de preços.”
Foi o que aconteceu com alguns serviços ligados a essa atividade. Pelo dados do INCC, a mão-de-obra subiu 6,35% nos 12 meses até janeiro deste ano. O serviço de carreto para carregamento de entulho subiu 11% até janeiro.
O cimento, depois de sucessivas e fortes quedas de preços, tem mostrado recuperação nos últimos meses. Em janeiro do ano passado, esse insumo acumulava queda de 18% em 12 meses. Esse movimento foi revertido ao longo do ano e a partir de dezembro tem alta de 0,5% na mesma comparação.
Mas os grandes home-centers não apostam em reajustes deste ou de outros insumos, nem para o atacado nem para o consumidor. Guilherme Rodrigues, diretor da Casa Show, rede lojas do Rio de Janeiro, aposta em um crescimento de 13% nas vendas deste ano, mas não trabalha com aumento de preços. “Não tivemos muita pressão da indústria do setor nesse sentido. Além disso, o mercado está cada vez mais competitivo e não permite grandes margens de lucro.”
Mesmo apostando em um crescimento de 7,4% na construção civil em 2007, Ana Maria Castelo, economista da GV Consult, afirma que as empresas desse ramo não estão trabalhando no limite da capacidade instalada a ponto de um aumento de demanda pressionar por reajuste de preços. “Conversando com as principais empresas do setor percebo que elas têm margem para responder prontamente a uma procura mais forte por seus produtos”, comenta. Ela avalia também que, após sucessivos pedidos de desoneração e o posterior atendimento dessas reivindicações, as empresas não vão rebater com preços maiores.
A Consultoria Tendências projeta crescimento mais modesto: 5,9%, mas também não trabalha com cenário de forte aceleração do INCC. Segundo Elton Bicudo, esse indicador deve fechar 2007 em 5,5%, acima dos 5% de 2006. Ele explica que a capacidade instalada das empresas do setor, especialmente as de cimento, estava muito acima da demanda, o que jogava os preços para níveis bem baixos.
Fonte: Valor On-line.