A importância do uso sustentável do Pantanal

7 de fevereiro de 2007, às 0h00 - Tempo de leitura aproximado: 3 minutos

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O Pantanal, considerada a maior área alagável do mundo, está
seriamente ameaçado por problemas como o aquecimento global e o
desenvolvimento descontrolado da região, segundo estudo realizado
pela Universidade da Organização das Nações Unidas (UNU) em conjunto com o Programa Ambiental Regional do Pantanal (Prep, na sigla em inglês).

Em relatório divulgado nesta terça-feira, para marcar o Dia Mundial
da Água, especialistas alertam para o que pode se tornar “o próximo
Everglades”, em uma referência à famosa área pantanosa do Estado
americano da Flórida, cujo ecossistema foi prejudicado por atividades
agrícolas.

De acordo com o documento, simulações realizadas por computador
indicam que se a temperatura da terra aumentar em até 4ºC, cerca de 85% das áreas alagáveis da Terra, incluindo o Pantanal, desaparecerão.

Paulo Teixeira de Sousa Jr., diretor do Prep e pró-reitor de pesquisa
da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), disse à BBC Brasil que ainda não existem dados “taxativos específicos” sobre como o
ecossistema brasileiro reagiria. Mas, para ele, o aquecimento global
é o que mais pesa entre os fatores que ameaçam o Pantanal.

`Peculiar’

“O Pantanal tem um ciclo hidrológico peculiar – passando metade do
ano com águas baixas e a outra metade na cheia. Esse regime é
determinante para o ecossistema da região e, se ele sofrer qualquer
pertubação, pode haver sérias conseqüências”, afirmou Sousa Jr.

O diretor do Prep lembra que o Pantanal é uma região de estocagem e purificação de água, de proteção contra tempestades, e que atua
fazendo o controle de enchentes e da temperatura. Ali vivem milhares
de espécies, muitas delas em vias de extinção. Além disso, áreas
alagáveis hoje armazenam 17% do carbono emitido anualmente pela
atividade humana. Mas, segundo o relatório da UNU, até 2100, “a
biosfera terrestre, que hoje é um depósito de carbono, vai se tornar
uma fonte de produção de carbono”.

Para Sousa Jr., o impacto da ação humana local não é “tão grave, pois ainda não é irreversível”.

“Os problemas se dão na região que circunda o Pantanal e são causados pelo agronegócio – plantações de soja e de algodão, principalmente.

Essas plantações, feitas em larga escala desde os anos 70, causam
perturbações no solo e assoreamento dos rios, além de despejarem
agrotóxicos que são drenados para os rios”, explicou o diretor do
Prep. “Mas também há a poluição dos centros urbanos próximos e o
crescimento populacional.”

Segundo ele, outro grande agravante foi a construção de uma
hidrelétrica no rio Manso, próximo a Cuiabá (MT), que está
perturbando o chamado “pulso de inundação” do Pantanal, que é o
regime hidrológico da região.

Parcerias

Sousa Jr. destacou a importância de parcerias como as do Prep, que
congrega universidades dos Estados do Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul, além da UNU, para se tentar reverter a situação de ameaça ao
Pantanal.

O programa inclui ainda organizações do Paraguai e da Bolívia, cujos
territórios também contêm áreas do Pantanal. “Uma das nossas
iniciativas foi formular um Tratado de Cooperação do Pantanal, que
permitiria aos três países elaborar políticas públicas em sinergia”,
disse.

O diretor do Prep elogiou o envolvimento da população do Pantanal nas questões ambientais que envolvem a região. “O que me deixa
esperançoso é o alto grau de conscientização quanto à importância do
uso sustentável do Pantanal.”

“Não temos o forte apelo internacional que tem a Amazônia, por
exemplo, nem a densidade de cientistas e a quantidade de
investimentos nacionais que tem a Mata Atlântica. É por isso que
estamos trabalhando em rede e em cooperação com a UNU, numa tentativa de superar a carência de cientistas e de atenção internacional para o Pantanal”, concluiu.

O Pantanal tem uma área de 165 mil quilômetros quadrados, o
equivalente a quase todo o território da Flórida.