Avaliação de projetos hospitalares

30 de janeiro de 2007, às 0h00 - Tempo de leitura aproximado: 3 minutos

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Estudo indica que projetos devem considerar recursos naturais e meio ambiente

Para garantir conforto e qualidade em ambientes hospitalares, a arquitetura deve levar em conta os recursos naturais e estar adequada ao meio ambiente. Partindo dessa constatação, a arquiteta e professora Ana Virgínia Carvalhaes de Faria Sampaio desenvolveu um instrumento de avaliação de projetos arquitetônicos e edifícios construídos e em uso capaz de detectar o comprometimento do hospital sob os aspectos ambientais, de conforto e qualidade, estéticos, funcionais e construtivos.

“O instrumento é baseado num método de avaliação inglês denominado Achieving Excellence – Design Evaluation Toolkit (AEDET), e pretende, de forma simplificada, ser útil a profissionais, auxiliando-os durante o projeto, nas principais diretrizes a serem tomadas e, posteriormente, para avaliar o edifício já executado e em uso”, afirma a arquiteta.

A avaliação é feita por meio de um questionário em que vários pontos do projeto – como os aspectos ambientais (água, energia, resíduos, implantação do edifício), de conforto e qualidade (ambiente, conforto térmico, acústico, luminoso e visual), funcionais (acessos, circulações e espaços), construtivos (sistema e instalações) e estéticos (aparência) – são checados e pontuados discriminadamente. A pontuação totalizada permite a visualização em um gráfico.

Para desenvolver seu método de avaliação de ambientes hospitalares, Ana Virgínia passou um ano e meio pesquisando, segundo a metodologia da Avaliação Pós-Ocupação (APO), plantas, fazendo entrevistas, questionários e contatos com funcionários e usuários do Hospital Universitário de Londrina, no Paraná. Lá pôde verificar a insatisfação desses com relação ao ambiente decorrente quase sempre da inadequação do projeto ao local e a despreocupação desse com os recursos naturais.

Reabilitação de pacientes

“Muitos pacientes da UTI reclamaram do intenso barulho dos aparelhos, da ausência de janelas amplas, da constante e direta exposição à luz das lâmpadas do teto (já que eles ficam a maior parte do tempo deitados), entre outras coisas”, afirma. Todas essas deficiências têm conseqüências diretas na reabilitação dos pacientes e até mesmo no desempenho do atendimento dos enfermeiros e médicos.

Para evitar tais problemas, a arquiteta recomenda que se priorize o conforto ambiental e a qualidade dos ambientes hospitalares, como ocorre nos hospitais da Rede Sarah, projetada pelo arquiteto João Figueiras Lima. Os projetos devem levar em conta o contato com o exterior, a vegetação, os jardins, privilegiar a iluminação natural e a ventilação cruzada, e ter um nível de ruído adequado.

A pesquisadora explica que a concepção de projetos de ambientes hospitalares, dada a sua complexidade, na maior parte relega para segundo plano os fatores ambientais. Como resultado, ocorre a utilização indiscriminada de elementos de controle.”Isto é observado na substituição de vidros comuns por vidros especiais escuros para diminuir a incidência solar, o que provoca a diminuição da luz natural e aumento da carga térmica no interior dos ambientes pelas lâmpadas acesas ou ainda no uso de ar condicionado em locais onde o condicionamento natural seria possível e mais adequado.”

Ana Virgínia conta que a preocupação com a qualidade e o conforto deve ser ainda maior em ambientes hospitalares por esses estarem diretamente ligados à saúde humana. “Um projeto hospitalar deve satisfazer as necessidades tecnológicas da medicina, dos pacientes, e da equipe de profissionais, funcionários e administradores”, afirma Ana Virgínia. “O custo inicial pode ser elevado, já que muitas vezes perde-se área construída para se privilegiar o conforto ambiental, mas, a longo prazo, pode ser economicamente viável para a administração do hospital, tanto em relação à redução dos gastos com energia quanto em relação ao menor tempo de internação do doente.”

A pesquisa de Ana Virgínia e o seu instrumento de avaliação resultou em sua tese de doutorado defendida recentemente na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP.

Fonte: Agência USP