El Niño e seus efeitos na agricultura

15 de janeiro de 2007, às 0h00 - Tempo de leitura aproximado: 3 minutos

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Rosemeire Critina dos Santos é assessora técnica da CNA
O mundo enfrenta este ano mais uma vez o fenômeno El Niño – aquecimento anômalo das águas superficiais na porção leste e central do oceano Pacífico equatorial que afeta o clima regional e global e muda a circulação geral da atmosfera, sendo um dos responsáveis por períodos considerados secos ou muito secos.

A assessora técnica da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) Rosemeire Cristina dos Santos explicou, em entrevista à Agência CNA, as conseqüências que esse fenômeno pode causar na agricultura. Segundo ela, o El Niño agrava as condições climáticas. No Brasil, a expectativa é de que no Norte e Nordeste a seca seja mais severa e nas demais regiões as chuvas podem ocorrer acima da média.

Quais são as conseqüências do aumento de chuva para a agricultura brasileira?

A chuva em excesso gera perdas na agricultura, tanto em produtividade quanto em qualidade do produto colhido. Também eleva os custos logísticos, uma vez que as condições de tráfego ficam piores, aumentando o número de manutenção nas frotas e o tempo médio de escoamento dos produtos.

Na região Sudeste, a produção de hortifruti já está comprometida, gerando perdas para o produtor e aumento de preços para o consumidor. Isso porque o aumento da chuva, seguido do aumento da temperatura, gera perda do produto, reduzindo a oferta ao mercado. A produção de leite também passa por dificuldades na região, pois com o agravamento das condições logísticas há dificuldades para escoar a produção leiteira.

No Centro-Oeste, o período chuvoso, seguido de um período de calor, é propício ao desenvolvimento da ferrugem asiática. Também a chuva em excesso dificulta o controle da doença, pois inviabiliza o trabalho a campo para pulverização e diminui a eficácia dos defensivos utilizados para controle.

A previsão climática feita pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) para a região Sul é de chuva próxima à média histórica, com temperaturas mais elevadas, acima do normal. O que deve acontecer nessa localidade se as chuvas aumentarem?

Até o momento, a chuva tem sido benéfica à região Sul. Contudo, se a chuva se prolongar no período de colheita das lavouras, pode atrapalhar os trabalhos a campo, gerando perda de produtividade e qualidade dos produtos. Já as temperaturas acima da média podem trazer benefícios para a cultura do trigo, pois diminuem a possibilidade de geadas durante a safra dessa cultura.

As principais culturas da Região Centro-Oeste são soja, milho, algodão e arroz. O que deve acontecer com elas sob os efeitos do El Niño?

Nessa região as chuvas têm sido benéficas e inclusive adiantaram os trabalhos a campo durante a fase de plantio da soja. Da mesma forma que a região Sul, chuvas intensas no período de colheita podem gerar perdas e dificultar o escoamento. Na região Centro-Oeste esta situação ainda é mais grave. As condições de tráfego das estradas são piores e os preços dos fretes já são elevados.

Para o milho segunda safra, como os preços no mercado internacional estão bons, a expectativa é de que haja aumento da área plantada. As chuvas, nesse caso, seriam extremamente necessárias ao bom desenvolvimento e produtividade dessas lavouras. Isso se repete para o algodão.

De forma geral, a chuva sempre é uma faca de dois gumes. Quando falta, gera perda. Quando em excesso, propicia o desenvolvimento de doenças e perdas de qualidade da produção.

A previsão é de seca para o Norte e Nordeste. As culturas dessas áreas estão ameaçadas?

A irregularidade das chuvas nas regiões Norte e Nordeste é um dos fatores limitantes ao desenvolvimento da agricultura, gerando grandes perda de renda para o produtor dessas regiões. Hoje tem se observado a incidência da ferrugem asiática nas lavouras da Bahia, sendo seu controle dificultado pelo clima. Contudo, sem perdas expressivas. No Norte, há fruticultura irrigada, que não corre risco aparente com o El Niño. O período de seca pode até melhorar a qualidade da produção.

Fonte : Agência CNA