Crise hídrica em Mato Grosso
28 de novembro de 2016, às 15h26 - Tempo de leitura aproximado: 4 minutos
Crise hídrica em Mato Grosso
Imagem G1: Rio Queima-Pé que abastece a cidade de Tangará da Serra
Há 01 mês o município de Tangará da Serra em Mato Grosso, decretou situação de emergência devido a falta de água na cidade.
O município está sem água desde o mês de agosto e o nível do Rio Queima-Pé está abaixo do nível normal para abastecimento da cidade.
Segundo o G1, a SAMAE tem atendido conforme a prioridade: hospitais, clínica de hemodiálise, postos de saúde, clínicas médicas particulares, escolas e locais de atendimento ao público e comércio. Segundo a Samae para que o abastecimento volte ao normal, é preciso que chova não apenas na cidade, mas na Bacia do Rio Queima-Pé.
E aí, como fica até o Rio encher? Vamos esperar a chuva cair do céu?
Vamos ver como os nossos irmãos paulistas fizeram quando passaram pela pior crise hídrica da história de São Paulo: a concessionária investiu em campanhas educativas para sensibilizar a população e o mercado como oportunidade em investir em negócios e produtos que economizam água. A população entendeu e passou mudar os hábitos e investiram em alternativas econômicas. Também passaram a acompanhar diariamente as medições de nível do principal sistema de abastecimento paulista, a Cantareira, e esperou ansiosa, pela temporada de chuva que após crise, ‘turismo do Cantareira’ celebra volta de água e de clientes.
Lá no semiárido, o valor da água se aprende desde muito pequeno, por conta da falta dela. Quando você tem uma cisterna no seu quintal, é uma benção sem tamanha. Devemos o planejamento do semi-árido com a má administração paulista para servir de parâmetros para as futuras gerações.
E em Tangará da Serra?
Encontramos uma população perdida sem saber o que fazer e totalmente despreparada para este tipo de situação, dependente do sistema de abastecimento da água da cidade e cidadãos que pagam por uma água que falta.
Encontramos um problema de gestão pública, má administração e falta de planejamento. Encontramos uma cidade que possui o projeto para melhoria da distribuição da água, mas faltam recursos para execução.
Encontramos uma população a qual passou a dar valor à agua e está mudando os hábitos como a economia e captando água da chuva em suas casas.
Criar novos reservatórios como o Ministério Público solicitou, é como abrir uma poupança para receber dinheiro que você não ganha.
O que precisamos fazer é gestão de bacias, investir em reflorestamento de vegetação nativa em áreas de proteção permanente – APP, fazermos a gestão da chuva com uso de tecnologias sustentáveis como captação da agua em cisternas e reservatórios residenciais, fazer controle da poluição hídrica e melhorar o sistema de permeabilidade das bacias hidrográficas.
Segundo a Agencia Nacional das Águas – ANEAM, Mato Grosso é um dos lugares com maior volume de água doce no mundo e um dos estado brasileiros com maior potencial hidrelétrico. Faz parte das três bacias hidrográficas mais importantes do Brasil: Bacia Amazônica, Bacia Platina e Bacia do Tocantins.
Agora o que adianta tudo isso se ainda falta água?
Precisamos nos atentar com as alterações regionais, o fator das mudanças climáticas e o fator regional que vem com a alteração do uso do solo, porções de florestas transformadas em pastos, plantações, extração de madeira ilegal, amortecimentos das enchentes sem sistemas adequados de captação de águas pluviais, tudo isso impossibilita a retenção de agua.
Temos um grande desafio na gestão das nossas águas, que é a busca do equilíbrio ecológico com o progresso e desenvolvimento econômico e social com sustentabilidade ambiental. Precisamos combinar políticas públicas com a mudança de paradigma da cultura da abundância pela conservação da água, não podemos nos dar o luxo de poluir as águas e não reutilizar a que já existe.
No Artigo 225 da Constituição Federal de 1988 diz: “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e de preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.
Que tal pensarmos mais no que iremos deixar para os nossos filhos e netos? A cultura o uso inteligente da água precisa continuar com chuva e sem chuva!
Kamila Barros
Engenheira Ambiental atua como Consultora na Ambiento Engenharia e Consultoria Ambiental e no SENAR MT. Está como Presidente da Associação dos Engenheiros Ambientais de Mato Grosso – AEAM MT, Secretária de Assuntos Estratégicos na Associação Nacional dos Engenheiros Ambientais ANEAM, Diretora do Sindicato dos Engenheiros do Estado de Mato Grosso – Senge MT, coordena o Grupo de Trabalho Cidade Verde do projeto “Minha Cuiabá” e Colunista no site Notícias de Mato Grosso.