Para onde vai a FICO?

14 de maio de 2013, às 10h48 - Tempo de leitura aproximado: 4 minutos

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De novo, antes que alguns levem a conversa para esse lado, repito que não sou contra a Ferrovia da Integração do Centro-Oeste – FICO, desde que explicada de forma inequívoca sua viabilidade neste momento de emergência, em lugar da continuidade do traçado da Ferronorte a partir de Rondonópolis. Nem sou contrário à chegada da ferrovia a Lucas do Rio Verde, muito pelo contrário, como brasileiro e mato-grossense, quero que os trilhos cheguem lá o mais rápido possível, aliás, essa foi a razão de meu protesto quando foi anunciada a paralisação da Ferronorte em Rondonópolis, a 560 Km de Lucas, trocados pelos 1200 Km da FICO. Também não sou contra o agronegócio e poucos têm escrito mais do que eu festejando seu sucesso. E nem adianta me intrigar contra os conterrâneos e amigos do norte e médio-norte mato-grossense, junto aos quais torcerei nesta quarta pelo Luverdense, jogando em Salvador, confiante em novo avanço na Copa do Brasil. 
 
Reitero meu respeito pessoal a Francisco Vuolo, atual secretário de Logística do estado pelo seu histórico de luta, de seu saudoso pai e de sua família pela chegada da ferrovia em Mato Grosso e em especial a Cuiabá. Mas o andamento da questão ferroviária nos âmbitos federal e estadual exige explicações oficiais convincentes sobre o que de fato está ocorrendo nessa área vital para Cuiabá, para o estado e para o país. No atual estágio de desenvolvimento de Mato Grosso a questão mais urgente é a incorporação do modal ferroviário à sua logística de transporte não só para levar a produção do estado, mas também para trazer qualidade de vida à sua população em forma de fretes menores para seus suprimentos, mercadorias e insumos diversos. Esse assunto já extrapolou a economia e envolve hoje o meio ambiente e em especial a segurança nas rodovias, cujos limites de suporte foram superados de forma irreversível como mostram as crescentes estatísticas de acidentes com as quais o povo mato-grossense convive dolorosamente. 
 
Neste quadro de gravidade e urgência logísticas, já era incompreensível a ideia de se trocar a ligação férrea de 560 km em ambiente antropizado de Lucas a Rondonópolis, onde a ferrovia encontra-se pronta, por uma outra de 1200 km, desviando a produção mato-grossense para Campinorte em Goiás em trajetos pouco conhecidos ambientalmente e indefinidos, ainda com 3 alternativas segundo o próprio secretário Vuolo. Agora ficou ainda mais difícil de entender essa troca diante da recente matéria do Fantástico expondo ao Brasil que a Ferrovia Norte-Sul não existe e nem sequer há previsão de operação diante de inúmeros problemas envolvendo sua construção. E é para a Norte-Sul que querem levar a FICO. Seria essa a solução? 
 
Enquanto isso, temos a ferrovia prontinha em Rondonópolis, a 560 Km de Lucas, em condições imediatas de chegar aos mercados internos do país e ao portos do sudeste, só aguardando (outro absurdo!) uma licença do Ibama para funcionar. Pior, há mais de 2 anos grupos chineses oficializaram interesse em investir de imediato nos trilhos ligando Rondonópolis não só à Lucas, mas a Santarém, passando pela Grande Cuiabá, Nobres, Nova Mutum, Sorriso, Sinop, Matupá, derramando suas potencialidades de progresso e qualidade de vida por todo Mato Grosso, ao longo do eixo da BR-163, coluna vertebral do estado. Depois de cobrado pelos chineses por uma posição oficial, só agora, mais de 2 anos após, o governo federal anunciou a licença para início dos estudos de viabilidade econômica, com previsão de duração de 1 ano. Depois mais 5 para construção, se tudo der certo. Enquanto isso, os produtores perdem muito, o ambiente degrada e as pessoas sofrem a dor das mortes e mutilações de pessoas queridas. Não dá para entender. 
 
*JOSÉ ANTONIO LEMOS DOS SANTOS, arquiteto e urbanista, é professor universitário