Resenha do filme “Tempos Modernos”
12 de setembro de 2012, às 17h44 - Tempo de leitura aproximado: 3 minutos
O grande gênio do cinema mudo, Charles Chaplin, conseguiu com muita expressividade, eloqüência e sagacidade, reproduzir no filme, “Tempos Modernos”, a realidade vivenciada à época da sociedade norte-americana, após a crise da “Grande Depressão”, que originou da quebra da bolsa de Nova Iorque, em 1929.
Dentre as conseqüências geradas pela Grande Depressão, podemos citar: desemprego, queda nos preços do produto interno bruto, fechamento de indústrias, exploração da classe operária, etc. Contudo, o maior reflexo desse advento, foi sentido pelas camadas mais baixas da população, que encararam a fome, superpopulação, desnutrição e doenças, traduzidas como desmoronamento das esperanças e do desespero pela sobrevivência, conforme pode ser referendado nas cenas do fechamento das fábricas, nas greves e na situação de miséria, retratada na família, em que o pai foi obrigado a entregar ao governo os três filhos, por motivo de falta de condições de subsistência.
Entretanto, a fenda no padrão de vida não se configurou de forma equânime para todas as parcelas da população estadunidense. Oficiais das Forças Armadas, pilotos de linhas aéreas, professores universitários e alguns operários especializados se mantiveram estáveis. (GRAHAM JUNIOR, 1976). Cabe ressaltar, que outro fator preponderante que contribui para a historicidade desse filme foi a Revolução Industrial, que teve como maior conseqüência a substituição do homem pela máquina, podendo ser definida também como passagem da manufatura para a maquino fatura, principalmente porque o homem passa a assumir um papel de agente de direção, de manobra dos aparelhos. Essa transformação teve como objetivos: produção de mercadorias em alta escala, agilidade e rapidez no processo, redução/contratação de mão-de-obra barata.
Essa influência pode ser constatada na primeira parte do filme que retrata a opressão vivenciada pelos operários da fábrica que são explorados e pressionados a produzirem cada vez mais, que devido a exercerem a mesma atividade, de forma repetitiva, perdem suas identidades, transformando-se em robôs compulsivos, conforme evidenciado na cena em que Chaplin fica desequilibrado e sai apertando tudo o que imagina ser uma porca/ferramenta. O ápice desse desequilíbrio é quando o gênio vê uma senhora com o vestido cheio de botões e sai correndo atrás dela, confundindo os botões do vestido com parafusos, e assim parte de seu trabalho.
Não obstante, outra cena contundente desse momento, que evidencia a visão dos proprietários das empresas, é caracterizada quando o presidente da fabrica, vê todos os setores da fabrica, através de um grande telão, observando os funcionários trabalhando, e, em certos momentos, determina ao subordinado que aumente a velocidade da máquina, acelerando o processo de produção, buscando com isso, o aumento da produção sem se preocupar com as condições de trabalhos ofertadas aos funcionários.
Chaplin demonstra essa desvalorização do trabalho humano de forma tão irreverente e impactante que se torna impossível não acionarmos o nosso senso crítico, sendo possível até mesmo, fazermos uma analogia entre a época que esse filme foi produzido e os tempos atuais, pois assim como retratado no filme, as empresas, atualmente, tem visto seus funcionários como máquinas que podem a qualquer momento aumentar ou diminuir sua velocidade de trabalho, colocando em segundo plano o capital humano, cheio de sonhos, valores, sentimentos e digno de reconhecimento e valorização.
* Ivanil Martins de Almeida – servidora do Crea-MT, graduada em Letras e técnica em eletrotécnica e contabilidade.