A opção por um mundo mais limpo e justo

21 de agosto de 2012, às 15h12 - Tempo de leitura aproximado: 5 minutos

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Paulo Guilherme Salvador Wadt, engenheiro agronômo e pesquisador da Embrapa Acre. E-mail: paulo@cpafac.embrapa.br

A catástrofe climática, prevista e com data marcada, é decorrência do aumento da concentração de gases de efeito estufa – GEE (gás carbônico, metano, anidrido sulfuroso) emitidos, principalmente, pela combustão dos combustíveis fósseis. Esta catástrofe resulta da intensificação de um fenômeno natural, chamado Efeito Estufa, que faz com que a temperatura terrestre tenha média anual global de 15ºC em função da concentração de cada gás que compõe a atmosfera do planeta.

A industrialização, baseada na matriz energética dependente de combustíveis fósseis (carvão, petróleo e gás), que representam 80% da oferta de energia, desequilibrou a composição dos GEE, aumentando a temperatura média da Terra. Em conseqüência, acentuam-se os extremos climáticos, que também se tornam mais intensos, como é o caso de inundações, secas, tempestades, ciclones, nevascas, etc. E que, também, provoca o derretimento do gelo das calotas polares, aumentando o nível dos oceanos em um centímetro ao ano.

As lideranças mundiais, tanto políticas quanto científicas, buscam fórmulas para reverter este quadro e uma destas iniciativas é o Protocolo de Kyoto que entrará em vigor em fevereiro de 2005, já que a Rússia apresentou os documentos necessários comprovando sua adesão ao Protocolo. Pelo acordo, os países industrializados deverão reduzir suas emissões de GEE em 5,2% até o ano de 2010, em relação às emissões de 1990. Sua eficácia, todavia, ainda é limitada, já que os Estados Unidos – país que sozinho responde por 36% das emissões de gases que criam o efeito estufa – se recusam a cumprir as determinações do protocolo. Isto porque sua base industrial depende de energia não renovável baseada no petróleo, gás natural e carvão mineral. Portanto, a diminuição da emissão de gases traria sérios prejuízos à economia norte-americana.

Com o Protocolo de Kyoto criou-se ainda o mecanismo denominado mercado de carbono, que permite às empresas do Primeiro Mundo comprar certificados de seqüestro e fixação de carbono ou de substituição de energia fóssil por energias renováveis de países que são mais “ecologicamente corretos”. Este mercado se baseia na idéia de que a contaminação ignora fronteiras. Se para um país desenvolvido é mais rentável ajudar outro a reduzir suas emissões, em vez de tomar medidas em seu próprio território, o resultado para a atmosfera é exatamente o mesmo.

Por exemplo, o Brasil participa do primeiro projeto já aprovado pela ONU, dentro do mecanismo de desenvolvimento limpo, onde a Holanda financiou e ajudou a desenvolver um projeto para diminuir as emissões de gás metano nos esgotos de Nova Iguaçu-RJ, em troca de menor redução em suas próprias emissões de CO2. Ganha o Brasil e ganha a Holanda em termos ambientais, sociais e econômicos.

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Brasil apoia iniciativas para gerar tecnologias capazes de aumentar a produção e a produtividade das culturas energéticas como áreas de reflorestamento, cultivo de cana-de-açúcar e oleaginosas, além do aproveitamento de resíduos e dejetos da atividade agrícola. Também haverá um investimento em tecnologias de processamento e obtenção de energia a partir de fontes renováveis. Além do álcool, que já é uma realidade, pretende-se, pela via tecnológica, viabilizar outros biocombustíveis como biodiesel, ecodiesel, biogás, carvão vegetal, briquetes e outros produtos derivados da biomassa.

O objetivo final é tornar o Brasil um exemplo de uso de biocombustíveis no mundo. Ainda, para fortalecer o mercado de carbono, a Embrapa atualmente conduz, sob a liderança da pesquisadora Magda Lima (Embrapa Meio Ambiente), o projeto Rede Agrogases cujo objetivo é quantificar e avaliar o estoque, o balanço de carbono e as emissões de GEE provenientes de diferentes sistemas de uso da terra para estabelecer uma rede de informações integradas capaz de subsidiar a geração de tecnologias sustentáveis e mitigadoras de gases de efeito estufa.

Neste projeto, os biomas de cerrados, floresta amazônica, mata atlântica, caatinga, pantanal mato-grossense e zona de clima temperado no Sul estão contemplados por diversas ações de pesquisa. No total, são 104 pesquisadores de 18 centros de pesquisa da Embrapa e de 13 instituições parceiras entre nacionais e estrangeiras. No Acre, a Embrapa e a Universidade Federal do Acre atuam em três diferentes atividades. Uma delas é gerar informações para a compreensão do balanço de carbono no solo sob diferentes sistemas de uso da terra e quantificar os estoques nos solos Amazônicos, fornecendo subsídios para a elaboração de inventários, conforme protocolos definidos pela ONU, nos painéis intergovernamentais periodicamente realizados sobre mudanças climáticas.

Estes inventários consistirão na moeda de troca do governo brasileiro frente ao mercado de carbono. Isto é particularmente importante pois é possível que determinados sistemas agropecuários e florestais desempenhem um significativo papel na absorção de carbono e que algumas alternativas de uso da terra sejam mais benéficas do que outras e com reflexos em melhores índices de produtividade. No Brasil, duas companhias do setor de papel e celulose (Klabin e Suzano) já ofertaram neste mercado 7 milhões de toneladas de CO2, valor resultante do cálculo feito com base nas áreas de florestas plantadas pelas duas empresas.

Espera-se que os resultados da Rede Agrogases contribuam para a melhoria de práticas agropecuárias, florestais e agroflorestais, bem como à sustentabilidade dos sistemas de produção e à redução de impactos ambientais, sobretudo aqueles relacionados às mudanças climáticas globais. Dentro desta perspectiva, a opção adotada pela Embrapa representa um caminho muito diferente daquele atualmente utilizado por alguns países industrializados, como os Estados Unidos, onde, o respeito ao meio ambiente está limitado aos interesses de ordem puramente econômica.