Agronomia versus biodiversidade
21 de agosto de 2012, às 15h12 - Tempo de leitura aproximado: 3 minutos
Josiane Pacheco Menezes, Bióloga – UFSM
Dentre os numerosos problemas que a sociedade brasileira enfrenta, assim como outros países em desenvolvimento, dois são de inegável importância numa perspectiva sustentável: como garantir a produção de alimentos em escala e custo que atendam a demanda interna e o mercado internacional, e como preservar a biodiversidade nas diversas regiões do país?
Neste contexto, é importante considerar o papel de vários profissionais como, por exemplo, agrônomos e biólogos, os quais são agentes capazes de garantir a sustentação da atividade agrícola numa visão de preservação ambiental, uma vez que o Brasil é o país que detém a maior biodiversidade do planeta.
A atual deterioração da biodiversidade tem causas diretas e indiretas. As diretas incluem o empobrecimento e a fragmentação do habitat, a invasão por espécies introduzidas, a super exploração dos recursos bióticos, a poluição, as mudanças climáticas mundiais, a agricultura e o reflorestamento com fins industriais. À medida que se percebem os prejuízos causados pelo desenvolvimento não sustentável à vida e à subsistência humanas, a busca de soluções deve dirigir-se às causas da crise da biodiversidade, que estão arraigadas no nosso modo de vida, isto é, nos índices demográficos, na maneira como a espécie humana vem progressivamente aumentando seu espaço ecológico, na apropriação constante da produtividade biológica da terra, no consumo excessivo e insustentável dos recursos naturais, entre outros. Do mesmo modo que a biodiversidade é um recurso essencial para o desenvolvimento sustentável, encontrar mecanismos sustentáveis para a vida é essencial para conservar a diversidade biológica.
Assim, cabe aqui a introdução de alguns conceitos cruciais para a compreensão da vida na Terra, onde, plantas, animais, microrganismos, etc. vivem em inter-relação mútua e com o entorno físico nos ecossistemas, constituindo o fundamento para o desenvolvimento sustentável.
Com esta visão, biodiversidade é a riqueza da vida no planeta, ou seja, é o total de genes, espécies e ecossistemas de uma região. A biodiversidade pode ser classificada em três categorias:
Diversidade genética: refere-se à variação dos genes dentro das espécies, envolvendo diferentes populações da mesma espécie (como no caso de milhares de variedades tradicionais do arroz indiano) ou a variação genética dentro de uma população.
Diversidade de espécies: refere-se à variedade de espécies existentes dentro de uma região, onde o número de espécies numa região corresponde à riqueza de suas espécies e a relação das espécies entre si trata-se da diversidade taxonômica.
Diversidade dos ecossistemas: trata-se de uma categoria de difícil mensuração, pois os limites das comunidades (= associações de espécies) e os ecossistemas não estão bem definidos. Todavia, desde que se use um conjunto coerente de critérios para definir comunidades e ecossistemas, seu número e distribuição podem ser medidos.
Além da diversidade de ecossistemas, muitas outras expressões da biodiversidade podem ser consideradas, como: abundância de espécies, distribuição de idade de populações, estrutura das comunidades de uma região, variação na composição das comunidades ao longo do tempo e até mesmo processos ecológicos como predação, parasitismo, mutualismo, etc.
Portanto, a mera variedade da vida na Terra tem um imenso valor. A diversidade de genes, espécies e habitats influem sobre a produtividade e os serviços que os ecossistemas oferecem. À medida que a variedade de espécies de um ecossistema muda também varia a capacidade do ecossistema em absorver a poluição, manter a fertilidade do solo e os microclimas, depurar as águas e oferecer outros serviços não-quantificáveis.
A importância da diversidade biológica é evidente na atividade agrária. Durante gerações se recorreu a uma ampla gama de culturas para estabilizar e promover sua produtividade. Com o tempo, o maior benefício da biodiversidade corresponde às oportunidades que oferece à humanidade de adaptar-se às variações do ambiente local e mundial. O potencial desconhecido dos genes, espécies e ecossistemas constitui-se em uma fronteira de valor inestimável, onde, a diversidade genética permitirá adaptar novos cultivos a novas condições e realidades. Pensemos nisso…
Referências bibliográficas:
GAIFAMI, A. Cultivando a diversidade: recursos genéticos e segurança alimentar local. Rio de Janeiro : AS-PTA, 1994.
ODUM, E. P. Ecologia. Rio de Janeiro : Guanabara Koogan, 1988.