Alongamento de 25 anos
3 de maio de 2007, às 0h00 - Tempo de leitura aproximado: 4 minutos
Preocupados com a falta de renda para pagar as parcelas do investimento que estão vencendo neste ano, os produtores vão propor à União e aos agentes financeiros o alongamento das dívidas para 25 anos, com juros de 1% ao mês. O anúncio foi feito ontem à tarde pelo presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado (Famato), deputado federal Homero Pereira, ao fazer o balanço da safra 06/07.
Os produtores temem chegar ao início da próxima safra atolados em dívidas. “Mais uma vez as contas não fecham. A safra foi boa, apesar da redução da área, mas o problema da perda da renda continua. Enquanto não houver uma medida de recuperação de renda ou até mesmo um subsídio para a agricultura brasileira, o setor não vai sair da crise. Vai chegar um momento em que o setor entrará em colapso”, adverte Homero. Segundo ele, a atual política macroeconômica – desvalorização do dólar frente ao real – está quebrando a agricultura brasileira.
O presidente da Associação dos Produtores de Soja do Estado (Aprosoja), Rui Ottoni Prado, diz que os produtores não terão como fazer frente às despesas e ao pagamento das parcelas de contratos adquiridos até 2004. “Precisamos alongar as dívidas ou, na pior das hipóteses, reduzir o tamanho das parcelas das dívidas. Não há outra saída”.
CUSTOS – Ele diz que o produtor mais uma vez conseguiu fazer a “tarefa de casa”, mas não está suportando o elevado custo da produção. “As despesas com combustíveis este ano aumentaram, os preços dos insumos também e a renda continua achatada como nas últimas duas safras. Não há superávit para pagarmos as parcelas do investimento e o máximo que poderemos fazer este ano é pagar as dívidas de custeio relativas a esta safra”, avisa Rui.
Levantamento da Aprosoja aponta um estoque de R$ 4,3 bilhões a vencer somente este ano, tendo como origem os financiamentos para compra de máquinas, tratores e aparelhamento tecnológico do setor.
“Vamos fazer incursões junto ao Ministério da Fazenda, BNDES e Banco do Brasil para ver que tratamento será dado para esta questão”, disse o presidente da Famato, Homero Pereira, lembrando que o estoque da dívida “praticamente dobrou” nos últimos dois anos. “Se tomarmos como parâmetro a dívida do país, os débitos saltaram de R$ 25 bilhões para R$ 100 bilhões da safra de 1994 até agora”, justifica.
REDUÇÃO DE ÁREA – Por conta do quadro de endividamento, os produtores apostam em uma redução de área plantada na próxima safra. “Ainda não fizemos a projeção dos números, mas é certo que haverá um recuo porque os produtores não terão renda para investir na expansão da área”, diz o presidente da Aprosoja, Rui Prado.
Segundo ele, as compras de insumos e fertilizantes estão praticamente estagnadas. “Tivemos algumas negociações, mas foram logo estancadas por causa dos preços dos insumos e da situação de indefinição sobre o endividamento”.
“Este ano tivemos a impressão de que o cenário iria melhorar, porém mais uma vez não tivemos sorte. Parece um samba de uma nota só: todo ano vivemos a mesma situação, sem que uma medida compensatória seja anunciada pelo governo federal para repor a renda que o produtor vem perdendo ao longo dos últimos anos”, diz.
Homero contou que um produtor da região de Gaúcha do Norte chegou a entregar seu “carro de uso” – uma F-100 ano 94 – para não ficar sem o trator. “Ele preferiu ficar a pé do que sem a máquina para trabalhar. Esta é a realidade da nossa agricultura”.
GLIFOSATO CARO – O presidente da Aprosoja denunciou ontem o “abuso praticado pela Monsanto” – detentora da tecnologia do glifosato – que aumentou os preços em até 100% da safra passada para este ano. “Os produtores chegaram a comprar o litro do glifosato por R$ 3, R$ 2,80 e até R$ 2,50 no ano passado. Este ano o produto aparece no mercado por até R$ 5. Estou fazendo questão de denunciar isto agora porque é uma verdadeira extorsão”.
PROTESTO – Sobre a possibilidade de o setor produtivo deflagrar um movimento nos moldes do realizado no ano passando – como Tratoraço, que chegou a Brasília e promoveu bloqueios nas rodovias federais em várias regiões -, o presidente da Famato, disse que tudo vai depender das negociações com a União. “Manifestação é um processo. No momento estamos buscando entendimento. Temos que utilizar todas as vias de negociações existentes. Se o diálogo se esgotar sem que haja um acordo, aí sim, podemos pensar em um novo movimento em nível nacional”. Homero disse que os produtores estão procurando mostrar ao governo todos os indicadores e projeções sobre o futuro da agricultura brasileira.
Fonte:Diário de Cuiabá