Aumenta risco de seca na Amazônia, diz estudo
26 de março de 2007, às 0h00 - Tempo de leitura aproximado: 4 minutos
Fonte: Diário do Amapá
As chances de ocorrerem períodos de intensa seca na região da Amazônia podem aumentar dos atuais 5% (uma forte estiagem a cada 20 anos) para 50% em 2030 e até 90% em 2100, informam cientistas do Hadley Centre.
A informação foi apresentada durante um encontro nesta semana na Universidade de Oxford, na Grã-Bretanha, onde especialistas em mudanças climáticas debateram temas críticos sobre o futuro do planeta.
Um dos casos estudados por cientistas foi a forte seca ocorrida na região da Amazônia, há dois anos.
As imagens de centenas de peixes apodrecendo no rio Amazonas, o segundo maior rio do planeta, chocaram o mundo.
Eram as imagens da estiagem de 2005 na região da Amazônia. Em algumas áreas, a seca superou todos os recordes desde que se começou a medir estatísticas climáticas do local. O governo brasileiro teve de declarar estado de emergência.
O mundo pode ter esquecido a seca de dois anos atrás, mas a comunidade científica não. Especialistas tentam agora entender se o aquecimento global causou a seca e qual foi o grau de devastação causado pela seca.
Há consenso entre os cientistas de que a seca de 2005 não estava relacionada com o fenômeno El Niño, como grande parte das secas na Amazônia, mas sim com o aquecimento da superfície na área tropical do Atlântico do Norte.
“Colapso da Amazônia”
O professor de dinâmicas de mudanças climáticas da Universidade de Essex, na Grã-Breta-nha, Peter Cox, diz acreditar que os mesmos fatores que causaram a estiagem devem se repetir.
“Não podemos dizer com certeza que a seca como a que ocorreu em 2005 foi causada pelo acontecimento global”, disse Cox.
“Mas podemos dizer que a probabilidade de um evento como esse vai aumentar como conseqüência da mudança de clima induzida pelo homem, podendo se tornar bastante comum até o final do século”, afirma Cox.
O modelo do Hadley Centre é um dos diversos GCMs (sigla em inglês para modelos de clima global) que tenta prever mudanças na Amazônia.
O modelo é conhecido por alertar para impactos catastróficos na Floresta Amazônica em um período de décadas, conhecido como “colapso da Amazônia”.
Outros modelos mostram padrões muito diferentes de chuva na Amazônia, mas especialistas em Oxford acreditam que o Hadley é o mais confiável.
“O modelo do Hadley Centre faz um trabalho de credibilidade”, afirma o representante brasileiro do programa International Geosphere-Biosphere, Carlos Nobre.
“O que todos os GCMs prevêem é um aumento maior da variabilidade do clima, e o modelo Hadley mostra isso muito bem.”
Fator humano
Há menos dúvidas sobre o impacto e a natureza rara da seca de 2005.
“Foi muito atípica tanto pela localização como pela intensidade”, diz Nobre.
“A maior parte da secas na Amazônia acontece no nordeste da floresta, mas esta começou no oeste e no sudoeste, e seu impacto se espalhou até o centro e o leste.”
Próximo a Manaus, o nível do Amazonas chegou a ficar três metros abaixo da média.
Muitas comunidades dependentes do rio para transporte ficaram ilhadas com a seca dos afluentes. Pela primeira vez, houve registro de incêndios generalizados no sudoeste.
Uma nova pesquisa do cientista Luiz Aragão, do Instituto de Mudanças no Meio Ambiente de Oxford, aponta a extensão dos incêndios.
“Uma área de 2,8 mil quilômetros quadrados foi perdida devido a uma proliferação extensiva de incêndios em florestas”, afirma o estudo.
A pesquisa de Aragão mostra que os incêndios ocorreram principalmente em áreas onde há atividade humana.
Em outras regiões afetadas pela seca, onde há poucas pessoas, como no sudeste do Peru, havia pouca evidência de fogos.
Alto impacto
As previsões mais alarmistas para a Amazônia indicam que a combinação de incêndios, secas, desmatamento, mudanças no uso da terra (como plantação de soja) e aquecimento global vão empurrar a Amazônia para o limite de um ciclo de destruição.
Cientistas na conferência em Oxford alertam que não sabem ainda qual é o risco exato de isso acontecer, mas falam em “corredores de probabilidade”.
Há discordância sobre esses corredores. “O modelo do Hadley Centre prevê que é, de fato, muito provável que a Amazônia seja severamente impactada pela mudança climática nas próximas décadas”, disse Cox.
Mas, por mais baixa que seja a probabilidade, mudanças na Amazônia devem ter um “alto impacto” no clima global.
Como disse um dos conferencistas: “você não entraria em um avião se você soubesse que há 10% de chance de ele cair”.