Cerrado mato-grossense em destaque
5 de janeiro de 2007, às 0h00 - Tempo de leitura aproximado: 6 minutos
O cerrado mato-grossense de Miguel Penha é um dos destaques da exposição Caminhos da Arte II, que acontece no hotel Blue Tree Towers Morumbi, na Capital paulista, e fica em cartaz até o dia 25 de janeiro. A obra do pintor cuiabano inclusive ilustra o convite da coletiva, cuja curadoria é da produtora cultural e escultora Andrea Anholeto. Penha foi selecionado entre dezenas de artistas e é o único que não está baseado no estado de São Paulo.
O projeto consiste, na verdade, em duas coletivas, uma no Blue Towers Morumbi e outra no Blue Towers Faria Lima – a deste segundo foi intitulada Caminhos da Arte I. Elas trazem obras de arte como esculturas e pinturas em diversas dimensões e materiais, como vidro, alumínio, bronze, zamac (liga de zinco, magnésio, alumínio e cobre que tem a vantagem de ser muito leve e resistente), e óleo sobre tela, entre outros.
Penha comparece com trabalhos que trazem sua marca registrada, a fauna e a flora mato-grossenses, especificamente a do cerrado da região de Chapada dos Guimarães. Como a coletiva não abordaria um tema específico, ele optou em dar aos paulistas e pessoas que passam pelo hotel a sua visão acerca da exuberância da natureza de seu estado. “É para divulgar mesmo. É algo diferente. Lá não tem ninguém fazendo esse tipo de trabalho, é uma oportunidade de mostrar um trabalho diferente”, explica.
São três telas, conta o artista. Uma delas, intitulada “Amanhecer”, mostra o sol nascendo na região de Pedra Grande, em Chapada dos Guimarães, onde o artista possui um sítio. A luminosidade de tom especial, característico dos primeiros raios de sol, incide sobre a vegetação e cria um efeito amarelado, descreve. A tela mostra uma pesquisa pictórica que vem fazendo onde registra a luz sobre a vegetação. “Ela cria uma cor diferente. Ultimamente tenho trabalhado essa luminosidade. Tenho gostado muito de trabalhar isso”, conta.
Outro quadro, chamado “Curva de Rio”, revela detalhes bem conhecidos pelos moradores da região, como os grafismos da palmeira buritirana e o cipó Urubamba, que era comumente utilizado para fazer as antigas cadeiras cuiabanas. Penha ressalta que ainda é possível encontrá-las em alguns lugares no Centro Histórico da Capital.
A terceira tela, intitulada “Floresta”, é um díptico, uma cena de floresta vista de cima. Segundo o pintor, é como se a pessoa que olha a pintura estivesse sobrevoando o local, onde se nota as copas das árvore e igarapés.
Os trabalhos revelam a forma peculiar de retratar as belezas naturais de Mato Grosso que Penha desenvolveu depois de muitos anos de pesquisa. Ele procura mostrar a mata e os animais de ângulos diferentes, seu olhar sobre a natureza sai um pouco do convencional e com isso oferece diferentes olhares e possibilidades, inclusive de utilização das telas. Algumas são bastante compridas, tanto vertical como horizontalmente.
Penha acredita que dessa forma oferece às pessoas a possibilidade de terem alguma coisa que remeta à natureza em casa, mas de uma forma nova. As telas muitas vezes concentram-se em detalhes que dão um contraste interessante e enchem de colorido, como quando foca frutas típicas e pássaros em meio à relva ou os galhos das árvores.
Uma arte que ele está tendo a oportunidade graças a um convite da escultora que é colega de Sinapesp (Sindicato dos Artistas Plásticos do Estado de São Paulo). Penha explica que foi selecionado entre artistas de vários locais e de vários estilos. Na Caminhos da Arte II, expõe ao lado dos pintores Marcos Nakasone e Paula Batista e dos escultores Luís Mora, Rogério Cyrillo e da própria Andrea. A Caminhos da Arte I conta com Eliete Tordin, Lairana, Mariza Ferrari, Helena Aico, Vera Homsi e, mais uma vez, Andrea Anholeto.
Os artistas – Nakasone mora em Santo André (SP) e seus trabalhos são contemporâneos surrealistas e figurativos realistas. Entre os prêmios que recebeu estão medalha de prata no VI Salão Universo Feminino – CEA e medalha de prata no XI Salão de Arte Livre Saint Germain em 2006. Participou da 8ª Mostra de Arte Contemporânea – Urbana na Fundação de Artes e está catalogado no Anuário Brasileiro de Artes Plásticas.
Cyrillo nasceu em São Paulo, onde cursou a Faculdade de Belas Artes. É artista plástico e gráfico, além de ilustrador. Realizou diversas exposições de pinturas, coletivas e individuais, ganhou prêmios em salões importantes. Trabalhou com diversos materiais como pedra, vidro e luz conduzida por fibra óptica. Atualmente pesquisa a fusão de placas de vidro por aquecimento, uma técnica conhecida como fusing.
Paula é de São Bernardo do Campo (SP) e sua obra é inspirada na figura humana. Teve como um dos mestres o grande pintor Elon Brasil. As nuances raras que saem de sua palheta remetem a uma atmosfera de leveza. Participou de exposições individuais e coletivas e também está catalogada no Anuário Brasileiro de Artes Plásticas.
Mora é paulistano e iniciou a carreira como cartunista para jornais na década de 80. Estudou Gravura em Metal no Lasar Segal e desenho clássico com o pintor uruguaio Pedro Alzaga. Durante a década de 90 atuou na área de vídeo e computação gráfica. No início dos anos 2000 começou a estudar escultura. Apesar de adepto da deformação, Mora não dispensa a forma. Suas obras reproduzem a diversidade de personagens que circulam pela cidade de São Paulo com uma dose de humor.
As obras de Andrea trazem temas figurativos e abstratos, texturas, composições multiformas, multicores, que lembram vôos de liberdade, como dos pássaros de sua cidade natal, Salto, interior de São Paulo. Trabalhou com óleo sobre tela, tintas acrílicas, fibras, pedras e minerais superpostos sobre tela e painéis em madeira. Sua paixão atual, seu amor, são traduzidos pelas esculturas, compondo assim obras suntuosas, monumentais e, às vezes, pequenas. As esculturas de Andrea estão espalhadas por todo Brasil e diversos países da Europa.
Miguel Penha nasceu em Cuiabá e começou a pintar na década de 80, quando participou de atividades e oficinas na Fundação Cultural e Universidade Federal de Brasília (UnB). Trabalhou diversas temáticas, dentre elas a mística, paisagens, fauna e flora. Nesta última, deu especial atenção às matas, arbustos, árvores, também retratando cachoeiras e paisagens do município de Chapada dos Guimarães, onde morou e mantém um sítio. Lá o artista faz estudos e pesquisas e, tendo um contato próximo, ele se tornou fiel à natureza.
Na década de 90 viajou por vários estados e países, aperfeiçoando a técnica, mostrando seu trabalho e fazendo pesquisas, hora tornando-se surrealista ou psicodélico devido à influência do movimento místico de Chapada dos Guimarães, hora enfatizando a natureza e a exuberância do local, mostrando uma tendência naturalista.
Nos anos seguintes Miguel se definiu naturalista e passou a pintar as diversas faces do cerrado, mas não perdeu a espiritualidade e a imaginação que nos anos 80 e 90 fazia questão de explicitar. Mostra a natureza em sua mais variada diversidade sem ser realista, coloca eufemismo em sua visão e pinceladas, também define sua paleta que passa a ter apenas quatro cores.
Fonte: A Gazeta.