Condições análogas à escravidão
21 de agosto de 2012, às 15h12 - Tempo de leitura aproximado: 2 minutos
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Sátyro Pohl Moreira de Castilho, engenheiro civil, presidente do Crea-MT. Em 31/05/2004
Sempre que passo na BR-163, nas proximidades de Posto Gil, lembro-me que na região havia, nos anos 70, uma fazenda que pertencia a um integrante do governo federal onde o trabalhador vivia em condições análogas à escravidão.
Dez anos antes, então prefeito de Rondonópolis, intervi contra um fazendeiro da região que mantinha seus trabalhadores em condições degradantes.
É lamentável que tal realidade persista ainda. Mato Grosso não é mais o Estado atrasado economicamente como nos anos 60 e 70. Hoje, está interligado embora aquém do que deveria com as regiões Sul e Sudeste. No entanto, o trabalhador rural ainda sofre a exploração inadequada do seu trabalho em algumas propriedades rurais.
Temos, sim, exemplos de fazendas que efetivamente se preocupam com a qualificação do trabalhador e com seu bem-estar. Mas a realidade de trabalho degradante em algumas propriedades mancha a evolução técnica e social do campo mato-grossense.
Ressalta-se a ação do Ministério Público do Trabalho e da Delegacia Regional do Trabalho na fiscalização das denúncias. Mesmo sem as condições técnicas necessárias e com recursos humanos escassos, desses órgãos estão saindo as revelações de que no campo nem tudo é soja, milho ou algodão.
Os dados federais destacam Mato Grosso e Pará como Estados onde há trabalhadores em condições análogas à escravidão. Em encontro recente, o governo do Estado prometeu recursos voltados à qualificação de mão-de-obra, uma arma contra a exploração do trabalhador rural. É um passo, mas é preciso dar uma verdadeira caminhada.
Dos profissionais ligados ao sistema Confea-Crea espalhados pelo interior mato-grossense, é fundamental a colaboração ao esforço da DRT e da Procuradoria do Trabalho no combate à exploração similar à escravidão da mão-de-obra. Engenheiros agrônomos, florestais, técnicos agrícolas, entre outros, ao perceberem que há desrespeitos à dignidade humana em determinada propriedade, devem denunciar, mesmo que seja anonimamente. É sim função social de toda profissão zelar pelos princípios da Constituição da República, que preza o respeito à cidadania. A evolução no campo, mais do que por transgenia ou por novas máquinas, passa essencialmente pelo respeito ao trabalhador rural.
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