Crea-MT lamenta morte de Ana Maria Primavesi, precursora da agroecologia no país
6 de janeiro de 2020, às 9h38 - Tempo de leitura aproximado: 3 minutos
O Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Mato Grosso (Crea-MT), em nome do presidente João Pedro Valente e diretoria, lamenta o falecimento da engenheira agrônoma austríaca Ana Maria Primavesi , que morava e realizava pesquisas no Brasil desde 1948, domingo 05 de janeiro , aos 99 anos .
Ana Maria foi reconhecida por ser uma das pioneiras nos estudos sobre preservação de solo e recuperação de áreas degradadas, priorizando a atividade biológica através do acúmulo de matéria orgânica, evitando o revolvimento do solo, como se fazia anteriormente.
Enquanto lecionava na Universidade Federal de Santa Maria, contribuiu para a organização do primeiro curso de pós-graduação voltado para a agricultura orgânica. Após sua aposentadoria não parou de ajudar em pesquisas e ajudou a fundar a Associação da Agricultura Orgânica (AAO). Seu livro “Manejo ecológico do solo: a agricultura em regiões tropicais”, lançado em 1984 ainda é considerado uma obra de referência nas ciências agrárias.
Segundo a geógrafa e professora Virgínia Knabben, que escreveu a biografia “Ana Maria Primavesi, histórias de vida e agroecologia”, a pesquisadora austríaca chegou ao Brasil em meados 1948, com seu marido, o fazendeiro e também doutor Artur Barão Primavesi.
Ambos lecionaram na Universidade de Santa Maria (RS) e, após a fundação do Instituto de Solos e Culturas, criaram o primeiro curso de pós-graduação no tema “Produtividade e Conservação do Solo”.
As Câmaras de Agronomia e o Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea) reconheceram o labor, como a homenagem na Semana Oficial da Engenharia em 2017 e, a escolha de Ana Primavesi como referência para matérias de valorização profissional propagadas em 2018.
A Confederação dos Engenheiros Agrônomos do Brasil (Confaeab) reverencia a perpetuidade dos ensinamentos de Ana Primavesi e, está em solidariedade com sentimentos à família.
Artigo: Um jatobá que tomba, centenário
Nossa querida Ana Maria Primavesi faleceu hoje, aos 99 anos de idade. Quase um século de vida, cerca de 80 anos dedicados à ciência e no campo. Descansa uma mente notável, uma mulher de força incomum e um ser humano raro.
Afastada de suas atividades desde que passou a morar em São Paulo com a filha Carin, Ana recolheu-se.
Quase centenária, era uma alma jovem num corpo envelhecido que, mesmo se tivesse uma vitalidade para mais 200 anos, não acompanharia uma mente como a dela.
Annemarie Baronesa Conrad, seu nome de solteira, desde pequena apaixonou-se pela natureza, inspirada pelo pai. Naturalmente entrou para a faculdade de agronomia, mesmo Hitler tentando fazer com que as “cabeças pensantes” desistissem de estudar. Ela não só era uma das raras mulheres na faculdade como também aquela que se destacou por seu talento natural em compreender o invisível: a vida microscópica contida nos solos.
Nestes 99 anos de vida, enfrentou todas as perdas que uma pessoa pode sofrer: irmãos, primos e tios na Segunda Guerra. Posteriormente, pai, mãe, marido. E seu caçula Arturzinho, a maior das chagas, que é perder um filho. Sua morte hoje, causada por problemas relacionados ao coração, encerra uma vida de lutas em vários âmbitos, o principal deles na defesa de uma agricultura ecológica, ou Agroecologia, termo que surge a partir de seus estudos e ensinamentos. Não parece ser à toa que esse coração, que aguentou tantas emoções (boas e ruins) agora precise descansar.
Nosso jatobá sagrado, cuja seiva alimentou saberes e por sob a copa nos abrigamos no acolhimento de compreendermos de onde viemos e para onde vamos, tomba, quase centenário. Ele abre uma clareira imensa que proporcionará ao sol debruçar-se sobre uma nova etapa, a da perpetuação da vida. E dos saberes que ela disseminou.
Antes de tombar, nosso jatobá sagrado lançou tantas sementes, mas tantas, que agora o mundo está repleto de mudas vigorosas, prontas a enfrentar as barreiras que a impediriam de crescer. Essas mudas somos todos nós, cada um que a amou em vida, cada um a seu modo.
Nossa gratidão pelo legado único que nos deixa essa árvore frondosa, cuja luta pelo amor à natureza prevaleceu. A luta passa a ser nossa daqui em diante, uma luta pela vida do solo, por uma agricultura respeitosa, por uma educação que se volte mais ao campo e suas múltiplas relações.
Ana Primavesi permanecerá perpetuamente em nossas vidas.
Autor do artigo: Virgínia Knabben-geografa e professora
Equipe de Comunicação do Crea-MT com informações do Globo Rural