Crea-RJ contesta contratação de chineses por siderúrgica
10 de janeiro de 2007, às 0h00 - Tempo de leitura aproximado: 3 minutos
O projeto da Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), um investimento estimado em 269 milhões de euros (cerca de R$ 750 milhões) que a alemã ThyssenKrupp começa a tocar, na zona oeste do Rio de Janeiro, ameaça esbarrar numa polêmica sobre geração de emprego. O Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea-RJ) prepara uma ação junto ao Ministério Público Federal para interditar a obra assim que desembarcar no País a primeira leva de 600 trabalhadores chineses que a empresa pretende importar para o projeto.
“Vamos pedir a interdição de imediato. Essa questão de que se trata de mão-de-obra mais qualificada é balela e eles (Thyssen) vão ter muita dor de cabeça. Tudo bem que o progresso não pode ser interrompido, mas não é burlando a legislação federal que ele será alcançado”, protestou o presidente do Crea, Reinaldo Barros, defendendo a contratação de brasileiros para a obra.
O projeto está sendo elaborado pelo Citic Group, braço de investimentos do governo chinês, e uma das condições impostas pela companhia para participar da obra foi a utilização de seu próprio pessoal. A Thyssen, que detém 90% da CSA, é sócia da Companhia Vale do Rio Doce, dona dos restantes 10% do projeto. Procurados, os representantes da companhia alemã no Brasil não se manifestaram a respeito.
A polêmica já saiu do âmbito da indústria siderúrgica para alcançar o universo empresarial fluminense. O presidente da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira, saiu em defesa da conclusão da obra, mesmo com o recurso da mão-de-obra importada, que fez parte do acordo firmado entre os investidores e o governo do Estado.
“Não podemos aplaudir essa medida. Na verdade, lamentamos. Mas, entendemos o barateamento de custo. Temos de ser realistas. A medida reduz o custo à metade e esses empregos são temporários, enquanto durar a construção da siderúrgica. O importante serão os milhares de empregos a serem criados quando a usina estiver funcionando, a partir de 2009. Vamos nos aproveitar disso por décadas”, diz o empresário.
No mês passado, a agência estatal de notícias da China, Xinhua, divulgou o acordo como o maior da China, para investimentos de coque de carvão. A Citic está construindo, também por empreitada em pacote fechado, usinas de coque na África do Sul e no Irã. O empresário Carlos Mariani, também da diretoria da Firjan, lembrou que o recurso do pacote fechado na construção de uma obra é um fenômeno da mobilidade de mão-de-obra mundial, e sequer é novo no Brasil.
“As empreiteiras chinesas já dominam o mercado no Oriente Médio. Estão agora apenas arranhando o mercado brasileiro, mas essa é uma tendência mundial”, defende Mariani. Segundo ele, um dos motivos de o projeto de instalação da Companhia Siderúrgica do Maranhão – parceria da Vale com a francesa Arcelor e a chinesa Baosteel – não ter ido à frente foi justamente a resistência dos parceiros em adotar a estratégia chinesa.
A CSA tem capacidade anual projetada para 1,9 milhão de toneladas de coque de carvão. É o maior projeto da Thyssen fora da Alemanha, com capacidade de produzir cinco milhões de toneladas de placas de aço por ano, voltadas para exportação, por meio do Porto de Itaguaí, distante poucos quilômetros do local escolhido para sediar a usina, no bairro de Santa Cruz, na zona oeste do Rio.
Fonte: www.estadao.com.br