Depois da chuva, a sujeira

24 de janeiro de 2007, às 0h00 - Tempo de leitura aproximado: 3 minutos

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Não é novidade que os grandes centros urbanos, periodicamente atingidos por fortes chuvas, sofrem com inundações, engarrafamentos e deslizamentos. Mas, de acordo com um novo estudo, as enxurradas também são a causa de grande parte da poluição de corpos d’água, como rios, córregos e lagoas.

Com a tese de doutorado Avaliação da poluição difusa gerada por enxurradas em meio urbano, Jorge Henrique Prodanoff, do Programa de Engenharia Civil do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe), recebeu em novembro o Prêmio Capes de 2006 de tese em engenharia.

Prodanoff avaliou cargas e concentrações de poluentes gerados durante enxurradas para calcular o impacto ambiental em rios e lagoas. A conclusão foi que o tratamento dos esgotos doméstico e industrial não basta para despoluir as áreas contaminadas

“Quando uma enxurrada atinge uma área urbana, é como se a cidade tomasse um banho. Toda a sujeira é levada pela água da chuva ao sistema de drenagem e vai poluir os corpos hídricos. Quando há um período de alguns meses com precipitação intensa, a poluição proveniente da chuva chega a ser maior do que a do esgoto”, disse Prodanoff à Agência FAPESP.

De acordo com o pesquisador, é comum que uma parte do esgoto doméstico e industrial das cidades seja jogada clandestinamente nos rios, córregos e lagoas. Mas, mesmo que os resíduos fossem integralmente direcionados para as estações de tratamento, os corpos d’água continuariam poluídos pela sujeira da cidade.

As fontes de poluição difusa são variadas, partindo de todas as superfícies impermeáveis da cidade, como ruas, calçadas, pavimentos de residências e condomínios, telhados, galpões, coberturas e estacionamentos.

Nos dias secos, segundo Prodanoff, essas superfícies recebem a deposição de fuligens e poeiras da atmosfera, além de resíduos do desgaste da cobertura asfáltica, de pneus, peças automotoras e de restos de combustão de gasolina e diesel. “Estamos falando de milhões de carros em circulação. A quantidade de resíduos é imensa. Quando vem a enxurrada, tudo isso é levado para as galerias junto com folhas, fezes de animais e lixo”, afirmou.

Carregado pela chuva, todo o acúmulo de resíduos vai para o sistema de drenagem. O destino final são os corpos hídricos. “Seria preciso criar um sistema de retenção, porque, uma vez que os resíduos caem no sistema de drenagem, a coleta e o tratamento ficam mais difíceis em função do grande volume”, disse.

Sistemas de retenção – “O problema tem um caráter crônico, porque a estação de tratamento dá conta somente de uma parte da poluição”, disse Prodanoff. Durante um ano, o pesquisador estudou a poluição provocada por enxurradas em três rios: o Carioca, que nasce no Maciço da Tijuca, na capital, o Guandu, em Queimados, e o Sarapuí, em Belford Roxo – os dois últimos na Baixada Fluminense.

Depois de avaliar as fontes de poluição, o pesquisador usou modelos empíricos para quantificar os diversos poluentes lançados durante um ciclo anual de enxurradas. “Esses modelos deram informações sobre a quantidade de cada um dos micropoluentes produzidos pela bacia”, explicou.

Para minimizar o problema, Prodanoff sugere a implantação de sistemas de retenção. Em um grande estacionamento de shopping center, por exemplo, poderia ser projetado um canteiro ao lado das vagas, para receber a água pluvial, conduzida por uma depressão no terreno.

“Seria uma célula de biorretenção. É uma solução barata. A cada 50 vagas, o espaço de uma vaga seria suficiente para impedir que os resíduos chegassem ao sistema de drenagem. Isso também contribuiria para evitar inundações”, explicou.

As ruas poderiam receber dispositivos como canteiros gramados. “Em vez da chuva do canteiro central das avenidas ser desviada para o sistema de drenagem, precisaríamos fazer o contrário: a água da pista teria que correr para o canteiro central. Outro dispositivo viável seria a instalação de caixas de areia próximas às bocas-de-lobo”, disse o pesquisador.

Fábio de Castro/ Agência Fapesp