Designando o futuro
21 de agosto de 2012, às 15h12 - Tempo de leitura aproximado: 4 minutos
A propósito da missão internacional recentemente promovida pelo SEBRAE-MT, visita técnica a centros de sustentabilidade na construção, em Londres(viagem realizada com apoio da UFMT e do Crea-MT), na Inglaterra, entre os dias 5 e 12 de junho, pudemos sentir que uma grande mudança começa a acontecer na área da tecnologia de construção no mundo. Esperamos que essa nova onda verde possa brevemente se refletir em canteiros de obras por todo o planeta, inclusive e rapidamente, no Brasil. Para isso teremos que nos esforçar bastante e sermos igualmente muito criativos, o que, aliás, é uma virtude brasileira conhecida.
Alguns países já possuem inúmeras obras certificadas como construções sustentáveis. É o caso da Europa, dos Estados Unidos e Japão e até alguns países no Oriente médio. Na Inglaterra conhecemos a sede do BRE, Building Research Establishment, cujo selo de certificação é o conhecido BREEAM: BRE – Environmental Assessment Method, onde visitamos o seu centro internacional de pesquisas na área, com laboratórios e renomadas equipes de pesquisadores; lá pudemos ser informados da preocupação dos ingleses com o futuro de suas construções e o que eles tem feito para alcançar índices de excelência na sustentabilidade das edificações, lembrando que naquele país uma em cada cinco construções tem mais de 100 anos. Por exemplo, lá, desde 2008, qualquer nova construção já deve ser certificada quanto à eficiência energética. Projeto e construção. É como se fosse uma geladeira ou um televisor de última geração no Brasil, produtos que poupam energia e são fabricados com materiais de baixo consumo de carbono.
O que fazermos para avançar também na direção das construções sustentáveis?
Essa reflexão sobre como ganhar tempo na corrida em busca da sustentabilidade na indústria da construção talvez sido uma das melhores partes da missão. Ao longo de uma semana fomos naturalmente, em companhia de um grupo selecionado de profissionais ligados à área, conversando e procurando refletir sobre a nossa realidade, o que imagino, era também um dos objetivos do SEBRAE-MT para a missão. Na medida em que avançávamos com as visitas, sempre acompanhados por engenheiros e arquitetos, com quem pudemos debater e questionar sobre as obras estudadas fomos construindo e formando um senso comum sobre como agir. Daí a corruptela proposital que dá titulo a este artigo. O design como desígnio, como capaz de expressar uma vontade, um objetivo a ser atingido.
O design joga um papel fundamental nesse sentido, e nós pudemos verificar isso durante a missão, isto é, para alcançarmos eficiência na sustentabilidade na construção precisamos formar e trabalhar com muita competência uma mudança na mentalidade de desenho/design em nossas atividades de projeto e no canteiro de obras. Projetar com desenhos eficientes, capazes de transmitir nossa rica e criativa cultura popular na construção de casas, para falar do sistema habitacional, por exemplo, talvez seja um desafio grande demais, mas sem dúvida passível de ser atingido. Trata-se aqui de inovar profundamente nos projetos, levando com suas especificações uma nova linguagem construtiva. É insuficiente apenas cuidar das melhores insolações e ventos dominantes. É preciso ir além do contexto físico – geográfico. É fundamental a equipe que incorpore materiais de baixo consumo de energia desde o inicio, dos croquis preliminares. Essa forma de encarar o projeto requer criatividade para selecionar e descobrir novas possibilidades inovadoras, que façam chegar aos canteiros um desenho comprometido, design cultural, se podemos dizer assim.
O Departamento de Arquitetura e Urbanismo da UFMT teve o privilégio de participar da missão e, se já vínhamos trabalhando sobre sustentabilidade em projetos individuais, agora vamos redobrar nossos esforços para ampliarmos a discussão na comunidade acadêmica.
Por uma dessas coincidências que mais parecem uma somatória de intenções tivemos duas conferencias no campus da UFMT, no retorno da viagem, que despertaram idéias e reforçam as intenções refletidas no Reino Unido: Dia 14 o Prof. Dr. Carlos Zibel Costa da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP e coordenador do Curso de Design daquela universidade, apresentou no Museu Rondon uma aula intitulada Além da forma, sobre seu livro recentemente lançado em São Paulo. No dia 25 foi o antropólogo italiano Máximo Canevacci quem inaugurou um ciclo de conferências em comemoração aos quarenta anos da nossa UFMT, com seu discurso sobre fetichismo, arquitetura e design.Ainda neste primeiro semestre demos partida em um projeto de extensão na universidade, coordenado pela antropóloga Prof. Dra. Maria Fátima Roberto Machado, e conta com as pesquisadoras Msc. Dorcas Araújo e Yara Galdino, aliando desenho indígena – design – e cultura urbana, o que nos enche de mais expectativas;
Transformar design sustentável em obras sustentáveis, este o desafio.
Prof. Dr. José Afonso Botura Portocarrero
Arquiteto/Chefe de Departamento de Arquitetura e Urbanismo da UFMT
Conselheiro do CREA-MT