Engenheiro de Petróleo Lucas Widal fala de sua atuação e destaca a probabilidade de sucesso profissional
12 de setembro de 2017, às 14h23 - Tempo de leitura aproximado: 9 minutos
O engenheiro de petróleo, Lucas Soares Widal Garcia, é natural de Cáceres (MT), “a princesinha do rio Paraguai”, cidade onde viveu até seus 17 anos junto aos seus estimados pais e familiares, que sempre o apoiaram e incentivaram a buscar a melhor preparação. De lá veio para Cuiabá em 2009, após conclusão do ensino médio para complementar os estudos e se preparar para a graduação, uma decisão que ainda estava em processo de amadurecimento. A saída de cidade natal foi a primeira mudança, a grande responsável pelo crescimento pessoal e profissional de Lucas, que sempre buscou auxílio em Deus para suas decisões. Atualmente, o engenheiro reside e trabalha em Cuiabá, junto com a esposa e o filho.
1- Onde e quando se formou?
Me graduei no ano de 2015 em Engenharia de Petróleo e Gás pela Universidade Federal do Amazonas – UFAM, na cidade de Manaus, capital do Amazonas. Um estado produtor de petróleo e principalmente, de gás natural, na província petrolífera de Urucu. Faço parte da 1ª turma formada naquela instituição, da qual sou grato por todo apoio e confiança e, mesmo com todas as dificuldades inerentes a um curso que se inicia, sempre estimularam o processo de ensino, aprendizagem, pesquisa científica e extensão. Em Cuiabá, concluí a pós-graduação em Engenharia de Segurança do Trabalho, área em que atuei nos primeiros anos da minha carreira profissional.
2- Por que escolheu o curso de engenharia de petróleo?
Honestamente, como qualquer jovem recém-formado no ensino médio, as dúvidas eram maiores que as certezas, principalmente no que se refere ao curso de graduação. Porém, meus pais sempre me mostraram que o caminho é se preparar bem e ter foco, tendo em vista que as oportunidades aparecem, mas aproveitá-las é a chave para o sucesso. Nesta perspectiva eu buscava algo que me desafiasse e que me trouxesse prazer, tanto em estudar como em, futuramente, exercer a profissão, pois assim, a chance de ser bem-sucedido profissionalmente com certeza seria maior. Foi quando no final de 2009, muito se falava sobre a produção no pré-sal (grandes acumulações de petróleo leve, de excelente qualidade e com alto valor comercial). Isto acabou colocando o Brasil em uma posição estratégica frente à grande demanda de energia mundial e fomentou a criação de cursos específicos na área, bem como atentou para a possibilidade da grande demanda de mão de obra qualificada. Ainda haviam poucas instituições para exercer a graduação, poucas turmas formadas nacionalmente, mas foi ali que eu decidi que seria Engenheiro de Petróleo e Gás, área na qual eu já demonstrava bastante interesse desde o ensino médio.
3- Como é o dia a dia de quem trabalha nesta profissão?
Como toda engenharia é uma atividade extremamente multidisciplinar. Some-se a isto uma grande capacidade de adaptação, por explorar muitas vezes áreas inóspitas e a busca incessante por inovação tecnológica que otimize processos. Basicamente podemos atuar em três grandes áreas:
1-Upstream: Geologia (explora a origem, formação e localização dos hidrocarbonetos); Reservatórios (analisa onde os fluidos se depositam, as características dos reservatórios e a mecânica dos mesmos dentro da formação rochosa); Poços (Procedimentos e técnicas para perfuração de poços e seus variados elementos mecânicos e elétricos); Elevação e Escoamento (otimização do escoamento dos fluidos do reservatório à superfície);
2-Midstream: Produção e processamento (estuda os equipamentos submarinos e terrestres de controle da produção e a planta de processamento de fluidos das plataformas ou sondas terrestres) e Estudo Econômico (analisa a viabilidade dos projetos e planeja gastos e ganhos);
3-Downstream: É a fase logística, ou seja, o transporte dos produtos da refinaria até os locais de consumo. Resume-se no transporte, distribuição e comercialização dos derivados do petróleo.
O engenheiro petrolífero pode atuar tanto em escritórios como de forma “embarcada”, onde o profissional permanece, por exemplo, duas semanas no local de trabalho e posteriormente “desembarca” para usufruir dos dias de folga (financeiramente falando, esta opção é geralmente mais atrativa). O que muitos imaginam, inclusive eu no início da graduação, é que a área de atuação é restrita ao mar. Porém, existem campos de produção em terra, como no próprio Estado do Amazonas e, esperamos que futuramente no Mato Grosso também, por ficar distante da região urbana, exigem o embarque.
4-Quais as oportunidades no mercado de trabalho e os maiores desafios enfrentados em MT?
No momento, estou atuando na 3ª grande área da Engenharia de Petróleo (Downstream), onde envolve o transporte do gás natural Boliviano, por meio de dutos terrestres, até o ponto de entrega, que em nosso caso é a Usina Termelétrica em Cuiabá-MT. Mais precisamente, participo do gerenciamento da integridade do gasoduto e faixa de servidão, garantindo que o transporte do gás (que tem a finalidade de abastecer as turbinas que geram energia elétrica) seja eficiente e não comprometa o meio ambiente, sociedade e ativos. Já tive a oportunidade também de trabalhar nas outras duas grandes áreas (Upstream e Midstream) na Petrobrás.
Vejo que em Mato Grosso, os estudos de exploração de potenciais jazidas petrolíferas são embrionários. Começando em 1988, com uma descoberta da exsudação de gás no Rio Teles Pires e posteriores estudos geofísicos e geoquímicos na Bacia do Parecis. Li algo a respeito de R$360 milhões de recursos aplicados pela ANP (Agência Nacional do Petróleo) para este fim, em mais ou menos 4 poços perfurados de 4.000 metros de profundidade cada, que visam, inicialmente, apenas estudar e mapear a bacia sedimentar. Acredito que havendo indícios fortes e há grandes indício, pelo conhecimento que tenho, a ANP deve colocar a área na rota de próximas licitações de exploração, com expectativa de uma licitação já em 2018. Estes estudos devem buscam avaliar o volume de gás no solo, que se for economicamente viável, será muito importante para Mato Grosso, visto que o gás natural é uma das fontes de energia mais baratas e sustentáveis, trazendo outra alternativa, além do gás Boliviano para utilização em nossos processos.
Eu vejo que os maiores desafios enfrentados aqui em Mato Grosso, sejam os de, primeiramente, investir e viabilizar cada vez mais estudos como estes de exploração de nossas bacias sedimentares, de forma ecológica e sustentável, em busca destes recursos naturais, através de políticas públicas ou empresas privadas idôneas e sérias e, após identificado e comprovado em nossa região este potencial petrolífero, fomentar a utilização, transporte e criação de sistemas de produção e processamento de hidrocarbonetos para otimizar ao máximo a utilização destes tão valiosos recursos que podem, sem sombra de dúvidas, mudar o patamar econômico de nosso Estado.
5- O que um engenheiro de petróleo deve fazer para se destacar no mercado?
Eu costumo brincar que é mais fácil um Engenheiro de Petróleo em formação, que seja fluente em inglês, ser contratado em detrimento de um profissional já formado, pós-graduado, que não possui esta qualificação. O mercado exige e na própria universidade você já começa a certificar esta peculiaridade. Capacidade de adaptação (já citado), domínio de ferramentas como Excel, AutoCAD, MATLAB, entre outras, também costuma ser de grande valia na avaliação de candidatos. Participação em conferências, semanas acadêmicas, convenções e demais eventos de inovação tecnológica, bem como a prática de pesquisas e desenvolvimentos de projetos na área e afins e, estágios costumam assegurar a preparação de um exímio candidato a pleitear uma vaga no mercado de trabalho. Por ser uma profissão global também experimentar novas culturas, estudos e técnicas na área através de intercâmbio, por exemplo, possibilita um Networking bastante eficaz.
6- Como você vê, como engenheiro formado e habilitado, a participação em uma entidade de classe? O CREA é formado pelos conselheiros, que são eleitos a partir de sua participação numa entidade de classe. Consideramos que uma entidade forte, fortalece também o Conselho e possibilita mais representatividade para as categorias que compõe as discussões plenárias.
Acredito que o objetivo principal de qualquer entidade de classe é a valorização profissional. Todos, dentro de suas atribuições legais, devem intervir para garantir ao profissional e à sociedade um exercício profissional ético e sustentável. Manter relações claras com todos os elementos do sistema profissional e sobretudo com a sociedade, são vitais para manter uma entidade empreendedora, livre, dinâmica, comprometida com valores sociais e com a valorização da profissão e sempre isenta de simples ambições políticas ou meramente econômicas.
7- A partir de sua experiência que conselhos você daria para os estudantes que queiram fazer Engenharia de Petróleo e aos profissionais que estão entrando no mercado de trabalho?
Inicialmente, para aqueles que realmente desejam ingressar na área de petróleo e gás, saibam que a probabilidade de sucesso profissional e financeiro é realmente grande (seja no Brasil ou em qualquer parte do planeta), para os que se preparam, capacitam-se e não se intimidem diante dos enormes desafios que a atividade apresenta. “Baterei na tecla” novamente de aprender outros idiomas, principalmente o inglês. Praticar pesquisas científicas e obter recursos para desenvolver projetos de inovação tecnológica, além de participar do máximo de eventos possíveis que venham a agregar valores pessoais e profissionais na área, enriquecendo sua “lista de contatos”. Não tenho dúvidas que a Engenharia de Petróleo e Gás ainda se apresenta como uma das profissões mais promissoras atualmente. O mercado de trabalho pode aparentar “desaquecido”, muito em virtude de fatores externos (corrupção, desinvestimentos forçados, etc.), que não reflete a necessidade real da obtenção dos recursos naturais provenientes da cadeia petrolífera. Acreditar em Deus e respeitar ao próximo, devem ser as palavras de ordem de qualquer profissional.