ENTREVISTA: Presidente da Amef fala sobre o dia 12 de Julho, Dia do Engenheiro Florestal

11 de julho de 2008, às 0h00 - Tempo de leitura aproximado: 6 minutos

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Engenheiro Florestal formado pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) Joaquim Paiva de Paula, é o atual presidente da Associação Mato-Grossense dos Engenheiros Florestais (Amef). Com mandato de primeiro de janeiro de 2008 a 31 de dezembro de 2010, Paiva é funcionário público estadual há 28 anos, atualmente trabalha na Secretaria Estadual de Meio Ambiente, já assumiu vários cargos de diretoria na própria Sema, há mais de 15 anos é conselheiro do Consema e está no 4ª mandato de Conselheiro do Crea-MT.

Em entrevista, Joaquim Paiva fala sobre a história de 12 de julho, data em que se comemora no país o Dia do Engenheiro Florestal, sobre o curso de Engenharia Florestal a atuação do profissional e um desabafo sobre os últimos acontecimentos envolvendo esses profissionais em uma ação batizada por “Operação Guillhotina” no estado de Mato Grosso.

PERGUNTA – Qual a origem do dia 12 de Julho, data dedicada ao profissional da Engenharia Florestal?
Joaquim Paiva – A data tem ligação com o calendário religioso, por conta das comemorações de São João Gualberto. O italiano João Gualberto, apesar de se dedicar à vida religiosa juntamente com seus monges seguidores, dedicou-se ao cultivo de bosques florestais, nos anos de 995 e mais tarde faleceu em 12 de julho de 1073. Por causa de sua história de amor Às florestas e de senso de preservação, que ficou conhecido pelo lema “conservar e saber usar”, o santo foi proclamado protetor dos engenheiros florestais. A profissão é sempre lembrada por essa relação com a preservação do meio ambiente e ingressou no Sistema Confea/Crea, a partir da Lei Nº 4.643, decretada em 31 de maio de 1965, mas muito antes disso, em outros países a profissão já seguia seu curso.

P – A formação de Engenheiro Florestal tem alguma correspondência com a história de São João Gualberto?
JP – Após séculos de ensinamentos deixados por São João Gualberto o surgimento de escolas de Engenharia Florestal se fez necessário para aperfeiçoar a formação de especialistas na ciência florestal. A primeira escola a estudar e a formar especialistas em ciência florestal, no mundo, foi criada em 1811 em Tharandt, na Alemanha. Em 1.825 foi fundada, também na Alemanha, a Universidade de Gissem, e em 1830 a Academia de Ebeswald e a Academia Florestal de Eisenach. Alguns anos mais tarde surgiram as Universidades de Carlsruhe, Munich e Tubigem, que também ministram cursos de Engenharia Florestal. A partir de então, outros países também criaram o curso. Na Europa, cada país possui pelo menos uma escola de Engenharia Florestal. Na América, a primeira escola foi fundada em 1895, em Baltimore, nos Estados Unidos. Até 1955, estes países contavam com 37 escolas e formavam mais de mil engenheiros florestais por ano.

P – Presidente, o senhor sabe quais países oferecem o curso de Engenharia Florestal?
JP – Sim. Brasil, Canadá, México, Costa Rica, Chile, Argentina, Venezuela, Cuba e Colômbia. No Brasil, a primeira escola foi instalada em 1960 na cidade de Viçosa, Minas Gerais, que depois foi transferida para Curitiba em 1964. Neste mesmo ano, foi criada, através de decreto, a Escola Superior de Florestas na atual Universidade Federal de Viçosa. Hoje, o país concentra 48 cursos superiores de Engenharia Florestal.

P – Como a profissão se destaca e quais as funções exercidas pelo Engenheiro Florestal?
JP – Desde que foi criada, a profissão tem o engenheiro florestal se destacando por conta de sua responsabilidade maior: a administração dos recursos naturais, com a questão do aquecimento global e da rigorosa legislação ambiental que visa preservar e garantir a natureza. É nossa obrigação encontrar constantemente subsídios para que possamos usufruir dos produtos florestais de forma contínua e ambientalmente correta. Quanto às funções exercidas, podemos exercer uma série, apesar da sociedade ainda ter uma idéia equivocada do papel do Engenheiro Florestal e de suas atribuições, já que ainda associa este a condição mínima de controle de laudos e documentos. A atuação do engenheiro florestal é muito maior que isso e, tem funções diversas, desde a área da engenharia com suas atividades preliminares, à engenharia rural, ao manejo de bacias, às atividades de produção de madeira, celulose e também na questão ambiental. Essa extensa relação de atividades comprova a responsabilidade do Engenheiro Florestal e sua intensa capacidade para analisar a condição dos ecossistemas, planejar a exploração sustentável dos recursos naturais encontrados na região e ainda produzir relatórios dos danos causados; tanto pela ação natural, quanto pela ação do homem. Também somos responsáveis por proteger e administrar os recursos florestais usando conhecimentos de biologia, arqueologia e de processos manufatureiros de produtos da floresta para que empresas madeireiras e de celulose façam a exploração das matas de maneira sustentável e de forma que provoque o menor impacto ambiental possível.

P – No último ano, profissionais da Engenharia Florestal em Mato Grosso, acabaram sendo citados na “Operação Guilhotina” que investiga fraude ambiental. Como o presidente da Amef avalia essa situação, já que neste 12 de julho comemora-se o Dia do Engenheiro Florestal?
JP – Neste ano e, nos demais subseqüentes a Amef espera que o dia do Engenheiro florestal não fique marcado como o do triste cenário que chamou a atenção da população brasileira e mato-grossense em julho de 2007 quando 65 pessoas foram presas pela Polícia Civil de Mato Grosso. O grupo composto por servidores públicos, 37 engenheiros florestais, madeireiros e fazendeiros, foi acusado de fraude ambiental e o desvio de R$ 58 milhões com a exploração irregular de 81 milhões de metros cúbicos de madeira, que ainda está sendo investigado pelo Ministério Público e polícia. A diretoria da Amef, não acredita que os engenheiros daquela lista tenham tido de fato envolvimento com a fraude e também não tememos que a referida ação tenha interferido na imagem profissional diante da sociedade. Como em toda profissão, sabemos que na Engenharia Florestal existem uma totalidade de pessoas honestas e algumas que cometem desvios e temos que tomar cuidado para que o profissional sério e honesto não seja generalizado como fraudulento.

P – Qual a mensagem que o senhor deixa aos profissionais Engenheiros Florestais?
JP – O dia de hoje é especial por ser o dia daqueles que assumem o desafio de se dedicarem ao uso e à preservação e conservação das nossas matas, sejam elas naturais ou plantadas. A Diretoria da Amef entende que a cada árvore utilizada de maneira adequada e sustentável pelo Engenheiro Florestal, ficam para nós a sensação do dever cumprido e a certeza de um mundo melhor para nossos filhos, netos e para as futuras gerações. Portanto, parabenizo a todos os Engenheiros Florestais de Mato Grosso pelo dia 12 de Julho.

*Por Rafaela Maximiano
Ascom/Crea-MT