Fogo é instrumento de pesquisa no Xingu

27 de agosto de 2007, às 0h00 - Tempo de leitura aproximado: 2 minutos

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Nada mais convincente do que o fogo para mostrar, na prática, os estragos da queimada na Amazônia. Essa lógica levou o Grupo André Maggi a buscar um parceiro que executasse aquele que mais tarde seria o Experimento de Savanização na fazenda Tanguro, localizada no município de Querência (945 quilômetros a Nordeste de Cuiabá) na calha do Xingu.

A proposta do projeto surgiu em 2002, logo após o Grupo Maggi – com sede no Estado – comprar a Tanguro. “O lugar é o ideal”, observa Itamar Locks, presidente da Divisão Agro do Grupo. Afinal – acrescenta – “em 1998 um fogo descontrolado destruiu milhares de hectares de matas na região, e até hoje não se realizou estudos científicos para avaliar os impactos ambientais causados pelas chamas”.

Quem executa o experimento – autorizado pelo Ibama -, é o cientista Daniel Nepstad, do Instituto de Pesquisa da Amazônia (IPAM), de Belém. O campo experimental é de 300 hectares (ha) e as pesquisas começaram em 2004.

Nepstad subdividiu a área em três parcelas de 100 ha; uma é preservada, outra é exposta ao fogo anualmente e a terceira é queimada a cada três anos.

Pesquisadores de diversas áreas acompanham os efeitos do fogo e a reação da natureza. O parabotânico Nélson Rosa lidera um grupo que faz o monitoramento de cinco mil árvores amazônicas e da mata de transição mapeadas pelo experimento.

Os cientistas registram e analisam o que acontece com cada espécie vegetal nas parcelas, os danos do fogo ao solo, impactos sobre as águas, poluição atmosférica e sua influência no aquecimento global. Também estudam répteis, mamíferos, insetos e aves. Paralelamente a isso o Grupo Maggi desenvolve um projeto de preservação de matas ciliares e de combate à contaminação do solo pelo agrotóxico; esse trabalho é uma de suas contribuições ao projeto “Y Icatu Xingu – Salve a água boa do Xingu”, do Instituto Socioambiental (ISA).

O experimento com fogo em Tanguro é o maior do mundo e único na Amazônia. Nepstad avalia que os resultados serão os mais positivos possíveis. “Às vezes a pesquisa trilha caminhos aparentemente estranhos em busca de base científica. O fogo, aqui (Tanguro) nos dará elementos para conhecermos melhor a maior floresta tropical do mundo”, analisa.

PRÁTICA – Na última quinta-feira, Nepstad queimou pela segunda vez uma parcela, e pela quarta, outra. O presidente do Grupo André Maggi, Pedro Jacyr Bongiolo, e os diretores Itamar Locks e Hugo Ribeiro, juntamente com jornalistas do eixo Rio-São Paulo e de Mato Grosso acompanharam o experimento. Atentos, os pesquisadores observavam as chamas, a revoada das aves, a fuga dos animais. Ao lado da devastação causada pelo fogo a imponente mata de quase 50 mil hectares da fazenda Tanguro, que avança rumo ao Parque Indígena do Xingu, é mais que boa justificativa para a pesquisa que se realiza em nome da ciência. *Os repórteres Eduardo Gomes e Felipe Barros foram ao experimento à convite do Grupo Maggi

Fonte:Diário de Cuiabá