Manifestação em Campo Grande (MS) externa preocupação quanto a impactos do PAC sobre o Pantanal

15 de junho de 2007, às 0h00 - Tempo de leitura aproximado: 3 minutos

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Uma manifestação realizada nesta terça-feira, no centro de Campo Grande, tornou públicas as preocupações da comunidade em relação à gestão ambiental no Mato Grosso do Sul a partir da implantação do Programa de Aceleração do Crescimento – PAC.

O movimento começou a ser concebido em um evento acadêmico na Semana do Meio Ambiente, reunindo estudantes de Biologia, no qual os focos de algumas discussões foram da legislação ambiental à degradação hoje observada em regiões do estado como o Pantanal, a Serra da Bodoquena e o Alto Taquari.

“As pessoas que ministraram estas palestras e participaram da mesa redonda trabalham no estado há anos, o conhecem muito e chegaram com o pedido de socorro até os acadêmicos presentes”, disse a AmbienteBrasil Rodrigo Borghezan, um dos estudante que participou do evento e da manifestação desta terça-feira.

Com o lema “Desenvolver, sim! Mas sem destruir o Pantanal!, o movimento agregou não só estudantes, mas também servidores do Ibama e do Incra – em greve ambos os órgãos – e representantes de ONGs ambientalistas.

O protesto enfocou a “a ação degradadora das carvoarias e das usinas de açúcar e álcool que estão se instalando nas proximidades das nascentes pantaneiras”. Muitos discursos pediram ainda uma revisão do PAC e a substituição da ministra Marina Silva.

Segundo Rodrigo, devido aos projetos do PAC ora sendo implantados no Mato Grosso do Sul, estão se dirigindo ao estado diversas indústrias, siderúrgicas e usinas. “Não há locais pré-estudados para a instalação destes empreendimentos e, com a separação do Ibama, o Pantanal está uma terra sem lei, onde cada um faz o que quer”, diz Rodrigo.

A preocupação quanto às siderúrgicas deve-se ao fato de, no estado, não haver fazendas de eucalipto suficientes para manter indústrias que necessitam de carvão. “È difícil imaginar de onde sairá este carvão?”, questiona o estudante, alertando para o possível impacto sobre a vegetação do Cerrado.

“A Mata Atlântica teve que ser praticamente destruída para que gritassem por ela, e está sendo este o futuro do nosso Cerrado e do Pantanal, um futuro sombrio”.

A preocupação procede. O aumento da demanda internacional por ferro e aço tem feito crescer a pressão pelo desmatamento para fornecimento de carvão vegetal, sendo que em MS foi inaugurada a siderúrgica Sideruna, em Campo Grande, com consumo previsto de pelo menos 10.000 ton/mês de carvão vegetal.

E está em construção em Corumbá a MMX, com um consumo previsto de mais de 18.000 ton/mês de carvão vegetal.

“Considerando que não há florestas plantadas para atender a atual e a futura demanda, este consumo deverá ser suprido pela vegetação de MS, Paraguai e Bolívia. Portanto, o uso de matas nativas também representa risco de conflitos com a Bolívia e o Paraguai”, diz Sônia Hess, pós-doutora em Química e pesquisadora da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.

Segundo ela, os atuais usuários de carvão vegetal, notadamente as siderúrgicas, não terão problemas para empregar carvão mineral em substituição a este, posto que os equipamentos funcionam bem com os dois tipos de carvão.

Em janeiro de 2006, o Ibama multou siderúrgicas do Mato Grosso do Sul em mais de R$ 23 milhões devido ao uso ilegal de carvão proveniente de matas nativas.

Os participantes do ato público em defesa do Pantanal fizeram, após os discursos, uma marcha cívica ao redor da praça Ary Coelho, ponto de referência de Campo Grande. A expectativa é que um novo manifesto seja realizado nos próximos 30 dias.

Fonte: Ambiente Brasil.