Menos uma substância a prejudicar a camada de ozônio
22 de janeiro de 2007, às 0h00 - Tempo de leitura aproximado: 3 minutos
Desde o dia 31 de dezembro passado, está proibido o uso do brometo de metila na agricultura brasileira. O agrotóxico era bastante utilizado em sementeiras de hortaliças e flores, para desinfestação de solo ou substrato (mistura de solo com matéria orgânica para cultivo de plantas em recipientes).
A proibição, regulamentada pela Instrução Normativa Conjunta 01 de 10 de setembro de 2002 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – Mapa -, atesta que o Governo está empenhado em fazer o seu dever de casa na luta contra o aquecimento global.
O brometo de metila, gás que age como inseticida e fumigante, mata os insetos, os patógenos (nematóides, fungos e bactérias), ervas daninhas e qualquer outro ser vivo presente no solo e na zona de sua penetração.
Cada átomo de bromo do brometo de metila que alcança a atmosfera destrói 60 vezes mais ozônio do que o átomo de cloro dos clorofluorcarbonetos (CFCs), muitos mais ilustres como vilões do efeito estufa.
A fim de minimizar os danos causados à camada de ozônio, foi assinado em 1990 o Protocolo de Montreal, um tratado internacional para eliminação de substâncias nocivas, a exemplo do BM. Entre os 180 países signatários, o Brasil assumiu o compromisso de reduzir em 20% o consumo médio da substância até o ano de 2005 e erradicar o uso até 2015.
Ganharam o meio ambiente e a Agricultura. “Foi interessante para o setor porque o brometo de metila causava um monte de problemas”, disse a Ambiente Brasil a pesquisadora Raquel Ghini, da Embrapa Meio Ambiente. “Como ele mata todo tipo de seres vivos, destruía também a parte boa da vida do solo e era extremamente perigoso para o ser humano”.
De acordo com Raquel, tudo começou em 2004, quando a Organização para o Desenvolvimento Industrial das Nações Unidas – UNIDO – realizou um estudo sobre o consumo remanescente de brometo de metila no Brasil, por meio de consultoria realizada pela Embrapa.
A partir disso, foi verificado que, após a eliminação na cultura do fumo, o cultivo de flores destacava-se como principal usuário do agroquímico. Com recursos de 2 milhões de dólares do Fundo Multilateral do Protocolo de Montreal e o objetivo de eliminar mais de 165 toneladas de BM utilizadas em flores e mais de 60 utilizadas em outros cultivos, como o morango, iniciou-se o projeto no Brasil.
O cronograma do Programa Nacional de Eliminação do Brometo de Metila – PNB -estabeleceu as datas de 31/12/2004 para eliminação na cultura do fumo; 31/12/2006, para flores, hortaliças e formigas; e 31/12/2015, para tratamentos fitossanitários e quarentenários (Instrução Normativa Conjunta 01 – 2002/2003 do Mapa, Anvisa e Ibama).
A novidade da proibição foi a paralela apresentação, aos agricultores, de alternativas ao agrotóxico. E o melhor: uma delas, já utilizada em todo o país em várias culturas, é 100% correta do ponto de vista ambiental. Trata-se do coletor solar, técnica desenvolvida por Raquel Ghini, que utiliza energia solar para desinfestar misturas de solo em viveiros de plantas, a fim de se produzirem mudas saudáveis e livres de microrganismos prejudiciais ao seu desenvolvimento.
Isso é possível porque o equipamento mata os causadores de doenças, mas não elimina a totalidade dos que são benéficos, posto que estes são mais tolerantes às altas temperaturas. “Não esteriliza o solo, essa é a vantagem”, reforça Raquel.
Doações – O coletor solar será apresentado hoje no encerramento do curso realizado pelo Ministério do Meio Ambiente, no município paulista de Atibaia, onde 27 inscritos aprenderam a utilizar caldeiras para tratamento de solo – a outra técnica adotada no Programa Nacional de Eliminação do Brometo de Metila. Ela age pelo calor do vapor d´água, mas tem uma desvantagem ambiental em relação ao coletor solar: demanda o uso de lenha.
Estes equipamentos serão doados pelo governo brasileiro com recursos do Fundo Multilateral do Protocolo de Montreal. O MMA estará entregando, na solenidade de hoje, oito caldeiras a associações de agricultores, cada uma ao custo aproximado de R$ 135 mil.
A previsão é chegar ao mês de maio com a entrega do lote completo de caldeiras, com 27 unidades, um investimento de US$ 1,35 milhão.
Até o final de 2007, está programada a doação de 600 coletores solares pelo governo brasileiro, em regiões produtoras de flores em São Paulo, incluindo Atibaia, Ibiúna e Holambra, bem como em Pernambuco.
Mônica Pinto / AmbienteBrasil (*)