Minissérie “Amazônia”apresenta a partir de hoje a ajuda de acadêmicos à luta dos seringueiros no Acre

9 de abril de 2007, às 0h00 - Tempo de leitura aproximado: 4 minutos

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Fonte: Amazonia.org.br

Nessa quinta e sexta-feira a minissérie “Amazônia – de Galvez a Chico Mendes” da TV Globo introduz na trama a personagem de Mary Allegretti, antropóloga a quem se atribui a fama internacional da causa dos seringueiros na década de 80. A partir de hoje, a minissérie entra em sua fase final, apresentando a luta de Chico Mendes e dos seringueiros com a presença de muitos daqueles que os apoiaram e influenciaram.

A pesquisadora foi responsável pela idéia de realizar o encontro nacional dos seringueiros em Brasília, em 1985, evento que chamou a atenção do mundo para a floresta amazônica e especialmente para a população amazônica, suas necessidades e problemas.

Mary Allegretti, que foi Secretária de Coordenação da Amazônia do Ministério do Meio Ambiente de 1999 a 2003, elogia o empenho da minissérie em contar a história do Acre e reafirma a importância do movimento de Chico Mendes para o momento que vive a questão ambiental na Amazônia ainda hoje.

A pesquisadora atualmente trabalha como consultora independente e professora em diversas universidades norte-americanas tratando o tema do desenvolvimento sustentável.

Leia abaixo o artigo do jornalista acreano Elson Martins, que foi foi um dos fundadores do Varadouro – um jornal das selvas. Ele relata um pouco da luta dos trabalhadores rurais do Acre e dos dias que passou na TV Globo.

Conheça a carta escrita por Mary Allegretti a Chico Mendes sugerindo a realização do primeiro encontra nacional de seringueiros em Brasília, em 1985.

Carta de Mary Allegretti a Chico Mendes – Janeiro de 1985

Semente da História
por Elson Martins, do Acre.

Aqui estou, de volta ao Acre, após viver 15 segundos de fama no Projac, central de produções da Rede Globo no Rio de Janeiro.

Primeira lição? O Projac não é a oficina de terror que eu imaginava. Tem seus diabinhos, como em todo lugar, mas predominam a simpatia, a eficiência, a arte enfim.

Fui muito bem tratado – até lisonjeado – por muita gente que nem imaginava conhecer um dia. Gente boa, famosa, reconhecida nacionalmente pelos personagens que interpretou na televisão.

Viajei ao Rio a convite da Glória Perez e seu staff, por ser testemunha viva de parte da história tratada na minissérie Amazônia, a fase que trata de Chico Mendes. Juro que não me ofereci para isso, e que aceitei o convite com boa porção de constrangimento. Afinal, muita gente fez parte dessa história merecendo igual ou melhor distinção.

Aproveito (antes que esqueça) para registrar sincero agradecimento à conterrânea Glória Perez, autora da minissérie, e toda sua equipe. Eles fizeram coisa de massagear o ego da gente.

Devo admitir que passei por sobressaltos. De cara, tive que vencer minha crônica timidez para palestrar sobre o Acre para uma platéia de globais. Em seguida, sentar junto a eles, numa enorme mesa, sugerindo como representar dezenas de personagens que viveram ou vivem a saga dos povos da floresta.

Em pouco tempo, porém, eu me senti em casa, fazendo parte de uma grande família. Acabei assumindo funções inimagináveis para um bicho do mato como eu: fui consultor, virei personagem da minissérie e terminei como ator, numa breve cena. Também dei entrevistas ao pessoal do making off da produção.

Quer saber minha opinião sobre a minissérie?

Aprendi com pessoas especiais da produção e da criação, até com motoristas que transitam pela terra de sonhos que é o Projac, que a ficção e o glamour, quando bem trabalhados, não comprometem o valor histórico do tema encenado. “Amazônia – de Galvez a Chico Mendes” pode comprovar isso.

A meu ver, “Amazônia” adotou uma forma atraente para levar aos corações de milhões de pessoas do país – quiçá do mundo – uma história singular vivida nos grotões desta fantástica região. A minissérie é ficção, mas também é história séria e fascinante. Dá lição de plasticidade (as cores da Amazônia), de luta, de amor à vida e à liberdade.

Também dá lição de coragem, partindo de quem não se esperava nada por puro preconceito. “Amazônia” é o Acre lúdico que amamos, o Acre que ensina com sua singeleza a perspectiva de um mundo novo.

Em vários momentos, vi como a história real abria brechas e se impunha na dramaturgia da Globo. Eis um exemplo:

Durante a gravação do velório do sindicalista Wilson Pinheiro, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasiléia assassinado em julho de 1980, uma figurante caiu num choro incontrolável. Os atores e demais figurantes, os técnicos, os assistentes de gravação só entenderam a cena quando o diretor geral, Marcos Schechtman, interrompeu a cena dizendo:

– Gente, peço uma salva de palmas para essa brava mulher, filha real do Wilson Pinheiro que, gentilmente, concordou em vir aqui para participar como figurante.

Iliana de Paiva Pinheiro tinha 11 anos quando o pai foi morto em Brasiléia. Hoje, com 38, vive como quituteira no Rio de Janeiro. É casada, tem uma filha adulta morando em Rio Branco e Marcos Paulo, de três meses, carioca de nascimento.

Enquanto a mãe participava da cena do velório, Marcos Paulo aguardava numa das salas do Projac em profundo e inocente sono. Mas estava lá, no reino da fantasia, plantando a semente da história real vivida pelo avô Wilson Pinheiro.