O engenheiro químico João Marcelo Shiroma fala da profissão e do mercado de trabalho em MT
13 de novembro de 2017, às 15h51 - Tempo de leitura aproximado: 5 minutos
João Marcelo Shiroma, de 39 anos, nasceu em Ilhéus-BA, mas chegou em Cuiabá em 1980 com a família, por ocasião da transferência do seu pai, que trabalhava em uma indústria madeireira. Além da graduação em Engenharia Química, fez pós-graduação em Engenharia de Segurança do Trabalho e outra em Auditoria e Perícia Ambiental. Um hobby que aprecia muito é a prática de atividades físicas, na adolescência jogou basquete e praticou natação, passou pela escalada, trekking e corrida. Atualmente, nas horas livres, procura manter a prática de caminhada e fazer exercícios de yoga e pilates, dividindo o tempo entre leitura, filmes e séries, fotografia, vídeo game e de vez em quando, se arrisca na culinária.
1-Onde e quando se formou e, o que lhe motivou a fazer o curso de Engenharia Química?
Me graduei em 2003, pela Universidade Estadual de Campinas – Unicamp/SP. A escolha pelo curso foi pela afinidade com as ciências exatas, cujas matérias de matemática, química e física eu sempre gostei de estudar. Eu queria cursar alguma das engenharias e, em pesquisas para conhecer melhor o curso, observei que havia um grande campo de atuação para o engenheiro químico, seja na indústria, pesquisa ou ensino.
2- Qual sua área de atuação e como vê a abrangência do mercado em MT?
O foco do engenheiro químico é atuar em processos onde ocorra a transformação da matéria-prima. Aqui no estado, ainda não temos um parque industrial tão desenvolvido quanto no sudeste, sul e nordeste, onde estão localizados grandes polos petroquímicos e indústrias químicas de base. No entanto, devido à forte presença do agronegócio em MT, há campo de trabalho em usinas de biodiesel e etanol, fábricas de extração de óleo e curtumes. Além de atuação em indústrias de bebidas e alimentos, tintas e vernizes, têxteis, agroquímicos, mineração, entre outros. Há ainda a possibilidade da pesquisa, ensino, controle de qualidade, representação comercial e consultoria.
3- Conte-nos um pouco de sua trajetória profissional como engenheiro químico?
Um ano após formado, trabalhei como contratado na antiga Fundação Estadual de Meio Ambiente (FEMA) e, em 2006 passei no concurso para analista de meio ambiente da atual SEMA, sempre com o perfil de engenheiro químico. Atuei bastante tempo com o licenciamento ambiental de empreendimentos potencialmente poluidores, no segmento de resíduos sólidos, uma área apaixonante que envolve toda a problemática da gestão de resíduos, aterros sanitários, empresas de reciclagem e logística reversa, além de conceitos como consumo consciente e ciclo de vida de produtos. Trabalhei ainda com o licenciamento de indústrias e atualmente faço parte da equipe do laboratório da SEMA. No laboratório, nossa principal responsabilidade é o monitoramento da qualidade ambiental dos recursos hídricos, além da verificação da balneabilidade em diversos pontos utilizados para banho e recreação, dentro do Estado. Para isso, coletamos amostras dos cursos d’água e fazemos as análises, comparando os resultados com as legislações pertinentes. Atendemos ainda a demandas do Ministério Público e da fiscalização da Secretaria em questões de poluição por efluentes líquidos e gasosos.
4- Quais foram suas maiores dificuldades no mercado de trabalho?
Na época em que me formei o país não estava passando por um bom momento econômico e isso se refletia no mercado de trabalho retraído. Foi quando decidi retornar para Cuiabá. Naquela época, ainda não havia cursos de engenharia química no Estado, então a profissão era pouco conhecida por aqui. Senti isso na hora de buscar emprego, pois cheguei a me deparar com alguns locais onde um engenheiro químico poderia estar atuando, mas a vaga estava sendo ocupada por um profissional de outra formação.
5- Quais as expectativas de atuação para os engenheiros químicos no Estado?
Com o aumento da industrialização, a chegada de novas usinas de etanol e engenheiros químicos sendo formados aqui, creio que haverá o reconhecimento do trabalho desse profissional e a abertura de oportunidades e campos de atuação.
6- Como você vê, como engenheiro registrado e habilitado, a participação em uma entidade de classe? O CREA é formado por conselheiros eleitos a partir de sua participação em entidades de classe. Consideramos que uma entidade forte, fortalece todo o Conselho e possibilita mais representatividade para as categorias que compõe as discussões plenárias.
Acredito que uma entidade de classe deve representar os seus membros e ser a sua voz diante da sociedade. Deve ser forte para opinar tecnicamente, colocando acima de tudo os valores éticos e científicos das profissões as quais representam. Deve garantir ainda a fiscalização dos atos de seus profissionais habilitados, de forma a fomentar a prestação de serviços com qualidade. Somente com esses predicados, deixando de lado os interesses políticos, é que uma entidade conseguirá atrair cada vez mais a participação ativa de seus membros, sendo respeitada e admirada pela sociedade.
7-Para finalizar, qual recado você gostaria de deixar aos graduandos que estão terminando o curso e vestibulandos que pretendem cursar Engenharia Química?
Assim como qualquer área das engenharias, o curso de engenharia química não é fácil. Aqueles que estiverem terminando sabem bem isso. Mas depois de formados, verão que há uma imensa área de atuação. Para esses, que sejam perseverantes e otimistas em relação ao futuro, vocês estão quase lá. Por ser uma profissão ligada à indústria da transformação, o sucesso profissional está atrelado ao desenvolvimento de uma nação. Sejam pacientes, aplicados e sobretudo, éticos, principalmente, éticos com o meio ambiente. A indústria química também é uma indústria poluente que traz em sua essência riscos ambientais. Sendo assim, tragam consigo que o capital e o desenvolvimento não devem surgir em detrimento da qualidade de vida e ambiental. É possível trabalhar para que exista um amanhã em que essas variáveis não estejam em lados opostos da balança. E para os que desejam ingressar no curso, saibam que serão alguns anos de dedicação e muitos estudos. Busquem uma universidade conceituada e que ofereça uma boa estrutura, principalmente em laboratórios e bibliotecas. A graduação será apenas mais uma etapa de sua formação e o curso de engenharia química certamente contribuirá de forma positiva com ela.