O índio e a lua
21 de agosto de 2012, às 15h12 - Tempo de leitura aproximado: 2 minutos
Sátyro Pohl Moreira de Castilho, engenheiro civil, presidente do Crea-MT
A questão indígena no país merece especial atenção de toda sociedade. As festividades ou ações de conscientização do dia 19 de abril provavelmente estarão muito aquém de um tema com várias nuances. Exemplo recente aponta a morte de três garimpeiros, invasores da reserva Roosevelt, na divisa de Mato Grosso com Rondônia. Revoltados com um histórico de invasões na área, os cinta-larga chegaram ao protesto extremo e injustificado. Na verdade, o governo brasileiro tem grande parcela de culpa sobre o ocorrido em Roosevelt.
Não é possível resumir ou avaliar profundamente a questão indígena em apenas um artigo, mas eu lembro que, em julho do ano passado, relatos sobre a questão indígena na reserva Roosevelt foram apresentados durante seminário nacional sobre certificação de diamante realizado no auditório do Crea-MT. Diversos representantes do governo federal estavam presentes. O assunto, de grande abrangência, foi tema de ampla reportagem no jornal Trena, impresso pelo Crea-MT. Alguns anos antes, a revista Isto É já apontava o conflito em profunda matéria. E agora? Ocorreram mortes. Após as mortes, garimpeiros mantiveram um índio como refém por horas. Garimpeiros e índios são vítimas sociais. A causa dos conflitos está na omissão política, que se mantém, mantém, mantém…
Mas casos polêmicos envolvendo índios estão sempre no noticiário. No Xingu, a fronteira agrícola ameaça a reserva e o embate ideológico entre ONGs ambientalistas e sojicultores promete estourar. Ainda em Mato Grosso, na região de Primavera do Leste, os conflitos entre fazendeiros e índios são constantes. Do outro lado do Estado, região fronteiriça com a Bolívia, índios vivem em plena miséria e são alvos fáceis do tráfico e do contrabando. Poderia também falar dos guatós, dos bororos, de tantos outros.
Mato Grosso tem ampla diversidade cultural indígena, mas não a preserva. Fora alguns ensaios políticos e publicitários, de fato muito pouco se faz para se discutir o papel do índio na vida contemporânea. Devem viver isolados? Até que ponto deve ocorrer integração com a sociedade urbana? O que pensam as diversas aldeias?
Há mais de 30 anos, estava em viagem pela estrada de terra que viria, no futuro, a ser a ligação entre Barra do Garças e a Serra de São Vicente. No caminho, parei em uma lanchonete. Uma emissora de rádio transmitia a chegada do homem à lua, quando parou um caminhão transportando índios xavantes. A um índio perguntei sobre o que pensava a respeito da viagem do homem para a lua. Ele respondeu algo assim: Grande coisa! O xavante, quando morre, vai para a lua. Já, vocês, só agora chegaram lá.
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Este espaço é atualizado semanalmente. Publicado em 12/04/2004.