O valor do profissional brasileiro

28 de agosto de 2013, às 17h00 - Tempo de leitura aproximado: 3 minutos

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Há alguns dias temos nos deparado com notícias sobre a vinda de médicos formados em outros países para atuar somente em regiões remotas e carentes do Brasil. O “Mais Médicos”, programa do Governo Federal, pretende, dessa forma, garantir mais médicos e mais saúde para os brasileiros.
 
A iniciativa seria louvável se o problema no país residisse apenas na falta de médicos e não na falta de investimentos na saúde ou na ausência de programas que valorizassem a carreira desses profissionais. E o que mais causa indignação é que para participar do programa, não é necessário nem mesmo que o profissional participe do Revalida – a prova que existe desde 2010  e qualifica os profissionais graduados em outros países a atuar no Brasil.
 
Como se não bastasse a chegada dos médicos formados lá fora –  sabe-se lá com qual qualidade – agora repercute a necessidade de se trazer Engenheiros de outros países. Sim, porque segundo o governo, eles possuem expertise para resolver o problema das obras paralisadas, dos superfaturamentos e da dificuldade dos municípios para realização de projetos, que são necessários para o repasse de verbas federais.
 
As prefeituras reclamam da falta de engenheiros para tocar os projetos e garantir o desenvolvimento das cidades. Sabemos sim que o mercado de trabalho está em franco crescimento para a engenharia –  a de petróleo é uma delas – mas imputar à falta de engenheiros o problema da estagnação das obras de infraestrutura ou o diminuto repasse de verbas federais é, no mínimo, um grande despautério.
 
O que questiono é como se desenvolve um país desvalorizando seus trabalhadores? Como se mantém um Engenheiro num órgão público pagando a ele R$1.300,00? Esse valor é praticamente o custo mensal da mensalidade do curso de Engenharia em uma  faculdade privada. Qual é o profissional que se sujeitaria a trabalhar 8 horas diárias em troca de menos de 2 salários mínimos?
 
O crescimento do Brasil só será efetivamente impulsionado quando, ao invés de medidas eleitoreiras, o governo adote medidas eficazes para a promoção do desenvolvimento e, principalmente, trate os profissionais brasileiros com respeito e dignidade.
 
Quantos somos os profissionais neste país? Se hoje existem regiões desprezadas por médicos, engenheiros, dentistas, enfermeiros seria isto em decorrência da escassez de profissionais?  É preciso investimento na melhoria do ensino – do fundamental ao superior –,   na abertura de novas vagas para a profissionalização dos brasileiros e na valorização dos trabalhadores por meio do pagamento de salários dignos e da criação de planos de carreira para fixação desses profissionais no interior. Caso contrário, ao invés de se resolver a questão, criam-se novos problemas com a chegada de profissionais de outros países que ocuparão as vagas dos nossos trabalhadores e que certamente não aceitarão R$1.300,00 como contrapartida.
 
 
 
*Jary de Carvalho e Castro
É engenheiro civil e presidente do Crea-MS