Paradoxos da modernidade
5 de março de 2007, às 0h00 - Tempo de leitura aproximado: 3 minutos
Prestes a completar 47 anos, no dia 21 de abril, Brasília é conhecida mundialmente pela arquitetura moderna de seus edifícios e monumentos, uma das razões para a cidade ser tombada como Patrimônio Histórico da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco).
Pesquisas realizadas na Universidade de Brasília (UnB), no entanto, detectaram que a maior parte dos monumentos do patrimônio arquitetônico da cidade necessita de intervenções para manutenção corretiva, por terem apresentado algum tipo de deterioração, seja do ponto de vista estético, funcional ou estrutural.
Desde 1995, professores do grupo de pesquisa Patologia, Recuperação e Manutenção de Estruturas, do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da UnB, fizeram aproximadamente 50 trabalhos de consultoria técnica encomendados por instituições públicas e privadas da capital federal.
Os principais problemas verificados desde então, segundo um dos coordenadores do grupo, João Carlos Teatini, foram fissuras em elementos de concreto e mármore, que podem acarretar problemas mais graves, como corrosão de armaduras de aço internas.
“Com base nesses trabalhos queremos chamar a atenção para a ausência de um programa de manutenção preventiva com fundamentos técnico-científicos para as edificações de Brasília”, disse Teatini à Agência FAPESP.
“Pelas normas técnicas nacionais e internacionais, aos 50 anos as estruturas de concreto podem começar a se deteriorar com mais intensidade. Com manutenção preventiva, essa vida útil pode ser prolongada indefinidamente”, explicou o engenheiro civil.
Para Teatini, por pertencer a uma cidade que é Patrimônio Histórico da Humanidade, uma catedral como a de Brasília, que teve sua estrutura pronta em 1960, deveria ter a mesma durabilidade que a de Notre-Dame, em Paris, uma das mais antigas catedrais francesas, que começou a ser construída em 1163.
“Estudos recentes apontam fissuras nos pilares da Catedral de Brasília. O problema é que os trabalhos de manutenção na cidade ocorrem apenas em casos pontuais, como correções estéticas, ou emergenciais, quando os problemas chegam a uma situação insuportável”, disse o pesquisador.
Problemas freqüentes
Teatini cita ainda um grave problema que envolve o cadastro técnico das edificações da cidade. “Alguns monumentos não contam com documentos importantes como plantas estruturais, diários de obra ou certificados de controle de materiais. Como esses documentos ficam espalhados por diferentes órgãos públicos, muitos acabam perdidos.”
Os pesquisadores do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da UnB propõem a criação de um acervo reservado para a memória da construção civil de Brasília no Museu da República, recém-inaugurado na Esplanada dos Ministérios. “Além de reunir a documentação técnica dos monumentos, estamos propondo a implementação de uma espécie de manual de manutenção preventiva de cada obra”, afirmou.
Segundo Teatini, algumas características das construções da época podem explicar o estado atual dos monumentos. “Brasília é um marco da construção mundial devido, em grande parte, à utilização do concreto aparente. Por não ter revestimento, esse tipo de construção sofre muito mais com a influência do tempo e com a ação da umidade e da temperatura”, afirmou.
Fissuras no mármore da fachada do Museu Histórico de Brasília, na Praça dos Três Poderes, e corrosão do aço das armaduras das escadas do Palácio do Itamaraty foram alguns problemas recentemente identificados.
Os trabalhos envolveram a elaboração de laudos técnicos de avaliação estrutural, provas de carga em lajes e propostas de ações emergenciais, destinados a entidades como a Secretaria de Estado de Infra-Estrutura e Obras, do governo do Distrito Federal. Mais de 20 teses e dissertações sobre o assunto também foram apresentadas no Programa de Pós-Graduação em Estruturas e Construção Civil da UnB.
Fonte: Agência FAPESP.