Pinta preta ou mancha preta dos citros
19 de janeiro de 2007, às 0h00 - Tempo de leitura aproximado: 6 minutos
Pinta preta ou mancha preta dos citros é uma doença causada pelo fungo Guignardia citricarpa, que afeta todas as variedades de laranjas doces, limões verdadeiros, tangerinas e híbridos. Nunca foram observados sintomas da doença em frutos de lima ácida Tahiti.
Disseminada por meio de mudas, restos de material vegetal, água da chuva e vento, a doença não provoca alterações no sabor dos frutos, que podem ser comercializados para a indústria de suco, mas, devido à aparência, tornam-se impróprios para o mercado de fruta fresca.
Em ataques severos, a pinta preta causa a queda acentuada dos frutos.
Ocorrência
A doença foi constatada pela primeira vez em pomares comerciais brasileiros em 1980, no Estado do Rio de Janeiro.
Ciclo da doença
1 – Nas folhas infectadas em decomposição no solo, forma-se os ascósporos (esporos sexuais do fungo), que levados pelo vento, podem infectar folhas, frutos e ramos.
Ciclo da Pinta Preta
2 – Nos frutos, forma-se lesões onde são produzidos picnidiósporos (esporos assexuais), que levados a curta distância pela água (chuva, orvalho, irrigação), podem infectar frutos, ramos e folhas.
3 – As folhas infectadas quando caem no solo formam novos ascósporos, dando continuidade ao ciclo.
Em folhas, a suscetibilidade ao fungo ocorre até cerca da metade do seu tamanho final (quatro semanas de idade).
Fatores que provoquem queda de folhas ou debilitem a planta, como pragas e doenças, abandono dos tratos culturais e desequilíbrios nutricionais, favorecem o desenvolvimento da pinta preta.
Sintomas
Uma das principais características da pinta preta é que os frutos podem estar contaminados, sem apresentarem os sintomas típicos da doença. O aparecimento de sintomas pode demorar até um ano, dependendo da variedade e das condições ambientais. O aparecimento é favorecido pela luminosidade combinada com altas temperaturas, sendo comum encontrar frutos com maior número de lesões na face exposta à luz do sol.
Há vários tipos de lesões, nomeados de acordo com suas características, que podem variar dependendo do tamanho do fruto, condição climática e tipo de esporo responsável pela infecção.
Sintomas em frutos:
Mancha preta ou mancha dura
É a mais típica e aparece quando os frutos estão amadurecendo.
Apresenta bordas salientes com depressão no centro, tem cor clara
com pontos escuros, chamados de picnídios,onde os picnidiósporos
são formados.
Falsa melanose
Lesão pequena e com numerosos pontos escuros ao seu redor. Pode ser confundida com a doença melanose dos citros, causada pelo fungo Diaporthe citri. A diferença das lesões está na textura: na melanose é áspera enquanto na pinta preta é lisa.
Mancha rendilhada
Lesões superficiais sem bordas definidas e textura lisa, que aparecem quando os frutos ainda estão verdes.
Essas lesões chegam a atingir grande parte da superfície do fruto.
Mancha trincada
É superficial e ocorre em pequeno número em frutos ainda verdes. Quando o fruto amadurece, a lesão trinca e está sempre associada ao ácaro da falsa ferrugem (Phyllocoptruta oleivora).
Mancha sardenta
Levemente deprimida e avermelhada, aparece em frutos maduros e também na pós-colheita. Frutos já contaminados, mas sem sintomas, podem expressar lesões durante o armazenamento ou transporte.
Mancha virulenta
Esse tipo de sintoma origina-se do aumento do tamanho e da fusão dos outros tipos de lesões. Com o desenvolvimento, podem tomar grandes áreas da superfície do fruto.
Sintomas em folhas:
Sintomas de pinta preta não são observados com frequência em folhas.
Quando ocorrem, são evidentes nas duas faces da folha e as lesões são semelhantes às da mancha preta ou dura observada nos frutos.
Medidas de prevenção
Existem várias medidas que devem ser adotadas para evitar a doença ou minimizar seus prejuízos:
Mudas sadias – a aquisição deve ser feita em viveiros certificados. As mudas são o meio mais importante de disseminação do fungo, pois as folhas podem estar infectadas sem apresentar os sintomas da doença.
Nutrição e sanidade – o pomar deve estar em boas condições de nutrição e sanidade. Plantas delibitadas e doentes são infectadas pelo fungo mais facilmente.
Trânsito no pomar – a desinfestação e retirada de restos de material vegetal dos veículos, máquinas, materiais de colheita e outros equipamentos, antes de entrarem na propriedade, auxiliam na prevenção da pinta preta, porque eles podem conter o fundo que causa a doença. O citricultor deve ter o seu próprio material de colheita, prevenindo assim não só a pinta preta, como também outras doenças. A instalação de bins também auxilia nesse sentido pois diminui o trânsito de caminhões na propriedade.
Quebra vento – a implantação de quebra-ventos contribui para reduzir a disseminação dos esporos que são carregados pelo vento a longas distâncias.
Manejo
Frutos infectados – os frutos temporões infectados devem ser removidos antes do início da florada, evitando assim que o fungo existente nesses frutos infecte os frutos da nova florada.
Controle do mato – recomenda-se as práticas que formam cobertura morta sob a copa das plantas (herbicidas pós-emergentes e roçadeiras), que dificultam a liberação dos esporos formados nas folhas em decomposição.
Irrigação – irrigar o pomar no inverno, período seco, para evitar a queda excessiva das folhas. A desfolha da planta agrava o nível da doença, aumentando a fonte de inóculo do fungo (ascósporos), que se desenvolve nas folhas caídas no solo.
Outra medida que pode ajudar no controle da doença é a pulverização das folhas caídas com uréia. A uréia abrevia a decomposição das folhas que caem no solo, reduzindo assim a produção de ascósporos e evitando, portanto, que esses sejam liberados após o florescimento.
Prevenção: limpeza e desinfecção de veículos antes que estes entrem na propriedade
Manejo: controle do mato nas linhas de plantio
Manejo: irrigação no período seco, para evitar a queda excessiva das folhas
Controle
O controle químico da pinta preta, assim como o manejo do pomar, deve considerar as seguintes condições:
.Histórico da doença na propriedade;
.Condições climáticas;
.Desenvolvimento da planta;
.Destino da produção (mercado ou indústria);
.Condições nutricionais e sanidade do pomar.
Uma forma de economizar e racionalizar o uso de fungicidas é conciliar o controle químico da pinta preta com o de outras doenças fúngicas, como a verrugose e a melanose.
As duas pulverizações pós-florada realizadas para o controle de verrugose e melanose dão uma proteção parcial a pinta preta se forem feitas com produtos adequados e com a adição de óleo mineral ou vegetal a 0,5%. Veja logo abaixo um exemplo de calendário de pulverizações.
Faça o controle conjunto de pinta preta, verrugose e melanose. O intervalo entre as aplicações pode variar em função dos fungicidas utilizados.
Atenção
Antes da aplicação dos defensivos, solicite a orientação de um agrônomo para conhecer as doses corretas, a garantia de registro, seletividade aos inimigos naturais e uso de equipamentos de proteção.
Fonte: Fundecitrus