Porcelana de ossos
30 de janeiro de 2007, às 0h00 - Tempo de leitura aproximado: 2 minutos
Pela primeira vez, pesquisadores desenvolvem esse tipo de cerâmica no país. A porcelana de ossos apresenta maior brancura e resistência que a comum e tem alto valor agregado
Utilizando cinzas de ossos bovinos, caulim (tipo de argila) e feldspato (rocha dotada de propriedade fundente), Miyahara conseguiu, em seu doutorado, produzir uma porcelana com propriedades superiores às do material inglês, que emprega a “cornish stone”, uma matéria-prima específica daquele país.
Além de resultar numa louça de maior valor agregado e de ser a única cerâmica feita com alguma matéria-prima renovável, a porcelana de ossos tem potencial de utilização na produção de próteses odontológicas mais resistentes e de melhor resultado estético.
Porcelana brasileira
A chave para uma porcelana de ossos de qualidade está no controle das condições de produção. “Obtivemos um excelente material devido ao conhecimento dos principais parâmetros que devem ser muito bem controlados”, afirma o pesquisador.
A formulação (50% de cinzas de ossos, 20% de caulim e 30% de feldspato), associada ao tempo de moagem de 24 horas e à temperatura ideal de queima do material (1270 graus Celsius) resultou numa porcelana de ossos quase duas vezes mais resistente que a porcelana comum e tão branca quanto a porcelana de ossos inglesa.
Além da Inglaterra, que produz a porcelana desde o século dezoito, apenas Estados Unidos e China fabricam essa cerâmica, cujo custo de importação é muito alto. “Como o Brasil é um dos maiores criadores de gado bovino do mundo e tem grande tradição na fabricação de produtos cerâmicos, temos, então, condições de fabricar essa porcelana em grande quantidade, podendo até tornar-nos um grande exportador desse material que possui um elevado valor agregado”, avalia Miyahara.
Biocompatibilidade
Além de compor esse tipo de porcelana, as cinzas de ossos poderiam ser utilizadas para produzir bioimplantes, substituindo materiais como a platina, que podem causar rejeição em alguns casos. Segundo o pesquisador, os ossos, depois de lavados e queimados, transformam-se em hidroxiapatita, um mineral dotado de propriedades de biocompatibilidade.
Apesar de existir na natureza, a hidroxiapatita contém uma série de contaminantes. Apenas em sua forma sintética – e de elevado custo – o material está livre deles. Entretanto, “a hidroxiapatita obtida no estudo é naturalmente livre de contaminantes e, talvez, possa ser usada como matéria-prima de maior biocompatibilidade para implantes”, afirma Miyahara.
Mais informações: (11) 3091-2260, com Ricardo Miyahara ou professor Samuel Marcio Toffoli, orientador da pesquisa; e-mail ricardomiyahara@yahoo.com.br
Fonte: Agência USP