Praga que vira energia

2 de fevereiro de 2007, às 0h00 - Tempo de leitura aproximado: 2 minutos

Compartilhar esta notícia

O inajá (Maximiliana maripa), uma palmeira abundante na região amazônica, é considerada uma praga por muitos habitantes locais. Traz prejuízos à pecuária, pois suas sementes são dispersas facilmente por diversos animais, e a planta, que atinge até 20 metros, resiste ao fogo, brotando novamente onde são feitas queimadas para preparação de pastagens.

As mesmas características que tornam o inajá um problema para os pecuaristas poderão transformá-la numa solução para comunidades agrícolas isoladas, gerando energia e renda. O Instituto Militar de Engenharia (IME) e a unidade de Roraima da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) acabam de estabelecer uma parceria para a implantação de uma usina de biocombustível operada com óleo de inajá. O projeto é financiado pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT).

O agrônomo Oscar José Smiderle, um dos pesquisadores da Embrapa envolvidos no projeto, declarou que a usina deverá ser instalada até março e a produção do óleo deverá começar no meio do ano. “O projeto é do IME. A Embrapa fará a pesquisa necessária para termos o domínio agronômico da planta. Depois disso, saberemos qual a quantidade de produção possível. A usina será um piloto para aprimorar os estudos”, disse ele à Agência FAPESP.

De acordo com Smiderle, o protótipo será construído no Campo Experimental Serra da Prata, da Embrapa Roraima, em Mucajaí (RR), a 100 quilômetros de Boa Vista. Ele será composto por dois módulos: um para a extração de óleo e outro para o refino.

O objetivo é desenvolver um protótipo que possa ser replicado nas comunidades isoladas da fronteira agrícola. “Há comunidades que ficam a até 500 quilômetros e seria caro levar a energia por meio de fios. A idéia seria instalar geradores nas próprias comunidades”, afirmou.

Um dos objetivos do projeto é a geração de renda e o desenvolvimento sustentável das comunidades. “Por isso pretendemos, futuramente, instalar módulos próximos a cada núcleo. Assim os habitantes poderão participar do processo. Quando o inajá é processado, as sobras podem ser usadas para fabricação de bolachas, doces e ração animal”, afirmou Smiderle.

Segundo o pesquisador, as usinas são de pequeno porte e poderão ser transferidas de acordo com a distribuição da matéria-prima. A usina irá operar, inicialmente, com óleo in natura de inajá, mas há possibilidade de testes com óleos de outras plantas. O IME prevê que a capacidade de produção poderá atingir até 16 mil litros por mês.

A estratégia do projeto, de acordo com Smiderle, é aproveitar o conhecimento do IME em biocombustíveis e o conhecimento da Embrapa instalado na região Norte, aproveitando a logística do Exército brasileiro, por meio do Comando Militar da Amazônia, para contribuir com o desenvolvimento sustentável.

Fábio de Castro /Agência FAPESP