Preocupações sobre a Embrapa

21 de agosto de 2012, às 15h12 - Tempo de leitura aproximado: 2 minutos

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Sátyro Pohl Moreira de Castilho, engenheiro civil, presidente do Crea-MT. Em 24/01/2004

É preocupante o noticiário sobre as mudanças ocorridas na direção nacional da Embrapa. Não quero entrar no mérito da capacidade técnica dos nomes que saem e dos que vão entrar na empresa, mas sim avaliar o que as reportagens trazem: que a Embrapa deve priorizar o agronegócio sobre a agricultura familiar.

Sem qualquer demérito para o agronegócio, ou agricultura de exportação, penso que a agricultura familiar precisa ter o seu lugar de destaque na política de desenvolvimento social do governo federal. Até porque tal política tem ligação direta com a manutenção do agricultor no campo e, conseqüentemente, com a produtividade de culturas para a satisfação do mercado interno.

Infelizmente, salvo as exceções, os governos estaduais sucatearam as suas empresas de pesquisa e extensão rural, sobrecarregando a iniciativa federal. O que se pesquisa em relação a culturas mais abraçadas pelo pequeno produtor está muito aquém dos recursos gastos em pesquisas para a soja e algodão, por exemplo. Nada contra investir no conhecimento das culturas pró-balança comercial, porém vale lembrar uma crítica de grande repercussão feita no ano passado por técnicos da FAO: Por que não se pesquisa a transgenia em produtos populares?

Independentemente do que se pense sobre a transgenia, é apenas um exemplo de que a pesquisa agrícola se distancia do pequeno produtor. É um setor que fundamentalmente precisa de subsídio público para prosperar e a Embrapa tem que cumprir tal papel, juntamente com os organismos dos governos estaduais, que necessitam de restabelecimento.

Contraditoriamente, o presidente Lula deu uma declaração na semana passada, durante visita a um acampamento do MST, na Bahia, de que não adianta fazer a reforma agrária sem que o trabalhador rural tenha condições efetivas de estar no campo. Ora, se a Embrapa sofre tamanha alteração na sua política – nos moldes do que está noticiado na imprensa – certamente fecha-se uma porta de apoio ao homem nos assentamentos rurais. Sem pesquisa agrícola, a reforma agrária está fadada a correr riscos e a fenecer.

Que a troca no comando da Embrapa não represente, decisivamente, aquilo que prenunciam os jornais. A Embrapa precisa ser fortalecida e ter estrutura sim para atender tanto ao agronegócio quanto à agricultura familiar. É o que se espera de qualquer governo na área de pesquisa agrícola.
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