Crea-MT entrevista presidente da Fiemt, eng. civil Gustavo de Oliveira que destaca profissão, incentivo fiscal e economia de MT
15 de setembro de 2020, às 9h10 - Tempo de leitura aproximado: 7 minutos
Para enfatizar a Engenharia, política de incentivo fiscal e o setor econômico e os impactos causados pela pandemia do novo Coronavírus(Covid-19), o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Mato Grosso(Crea-MT) entrevistou o presidente da Federação das Indústrias do Estado de Mato Grosso(FIEMT), Gustavo de Oliveira. Graduado em Engenharia Civil, pós-graduado em Gestão Empresarial e em Fusões e Aquisições de Empresas, além de ter especialização em Geotecnia. Atuando a mais de 20 anos como empresário nos setores de mineração e de transportes, Gustavo tem uma vasta experiência em Gerência Industrial, Geral e Diretoria de Operações. Foi secretário de Estado do Governo de Mato Grosso por três anos (2015 a 2017) nas pastas de Gabinete de Assuntos Estratégicos, de Planejamento e de Fazenda.
No Sistema S, foi diretor regional do Instituto Euvaldo Lodi (IEL-MT), conselheiro do Serviço Social da Indústria (Sesi-MT) e, desde 2014, é conselheiro do Serviço Nacional da Indústria (Senai-MT), na função de representante das atividades industriais. É membro da Diretoria da Fiemt desde 2006, já foi presidente do Conselho Tributário e vice-presidente da instituição.
Assumiu a presidência do Sistema Fiemt em novembro de 2019, preside o Conselho de Desenvolvimento Industrial e Regional de Cuiabá (CODIR Cuiabá) e também o Conselho de Desenvolvimento Econômico da Fiemt, além de ser diretor da Confederação Nacional da Indústria (CNI) desde 2018. É vice-presidente do Conselho Tributário da CNI e conselheiro da Associação Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), representando a CNI.
GEMAR- Como a formação em Engenharia Civil ajudou na sua carreira profissional?
Eng.civil Gustavo- Em primeiro lugar, todo engenheiro tende a ter o raciocínio lógico bem desenvolvido, o que pode e deve ser empregado em diversas situações. Os conceitos básicos da engenharia e toda a formação da grade acadêmica me deram ferramentas que eu sempre pude usar na minha vida profissional. Claro que não é só isso, é preciso também manter o espírito de curiosidade, o espírito de abraçar os desafios e o espírito de propor soluções. Nesse ponto eu tenho na engenharia uma grande referência, porque foi com essas ferramentas que eu construí toda a minha carreira. É com elas que eu procuro desenvolver soluções para os problemas que se apresentam nas mais diversas áreas do conhecimento, passando por campos como Direito, como Medicina e como tantos outros nos quais a indústria tem uma participação importante e relevante como apoio às atividades profissionais.
GEMAR- Que tipo de política de incentivo fiscal é necessária para o desenvolvimento de Mato Grosso?
Eng.civil Gustavo- Antes de tudo é preciso ter em mente que os custos de produção em Mato Grosso, principalmente a industrial, são muito maiores do que em outros estados. Para citar dois: o alto custo da energia elétrica, fruto de um sistema regulatório complexo e arcaico no país, que nos impõe tarifas e custos que não correspondem mais à realidade, e também o custo logístico. Nós somos um grande estado produtor e exportador, mas estamos longe dos centros consumidores e dos portos. Isso faz com que os produtos de Mato Grosso tenham custos adicionais muito maiores do que a média do Brasil, que já não é boa. Estudos do Movimento Brasil Competitivo mostram que, em um PIB de R$ 7 trilhões, cerca de R$ 1,5 trilhão é o chamado Custo Brasil. Adicionado a isso, nós temos o Custo Mato Grosso. Então, precisamos de políticas de incentivo fiscal que reduzam, mitiguem e até neutralizem esses custos adicionais, devolvendo competitividade às empresas mato-grossenses frente aos seus concorrentes nacionais e internacionais.
GEMAR- Quais são as outras medidas necessárias para o desenvolvimento do Estado?
Eng. civil Gustavo- Todos os custos de se fazer negócios em MT precisam ser comparados aos da média dos estados brasileiros, aos dos estados mais competitivos e – por que não? – aos dos países mais competitivos. A partir daí, precisamos de um planejamento para a redução desses custos, a fim de termos condições de atrair empresas que sejam competitivas mundialmente. É fundamental elevar a produtividade, reduzir o custo logístico, reduzir o custo de energia, aumentar a disponibilidade de equipamentos e mão de obra qualificados para a industrialização. Lembrando que os produtos industrializados aqui priorizam nossa vocação econômica, ligada à produção agrícola, à produção pecuária e também à produção mineral, além de setores nos quais temos muito potencial dentro da chamada economia verde. Eu resumiria dizendo que as principais medidas são todas aquelas que nos aproximam – seja pela questão dos custos, pelo desenvolvimento tecnológico ou pela competitividade – dos nossos melhores concorrentes internacionais. Esta tem que ser a massa referência nossa ambição: sermos de alguma forma competitivos mundialmente, para que possamos cada vez mais atrair para cá empresas que queiram ser grandes players globais na suas áreas de atuação, como já temos algumas, na área de alimentos e outros setores.
GEMAR- Como as empresas do setor industrial estão enfrentando a crise econômica com a pandemia?
Eng. civil Gustavo- É preciso ter em mente que os efeitos da pandemia não foram homogêneos para o setor industrial. Além de existir indústrias de diversos setores, dentro do mesmo setor essas indústrias fazem produtos diferente para mercados diferentes. Isso significa que, enquanto muitas indústrias tiveram seus negócios melhorados mesmo com a crise econômica, porque o perfil de consumo dos brasileiros mudou durante a pandemia, outras estão com muita dificuldade econômica. Isso ocorre principalmente porque os mercados consumidores foram fechados por muito tempo, porque há uma crise econômica mundial muito forte e porque o empresário brasileiro já vinha de cinco anos de crise, enfrentando muitas dificuldades desde 2015.
Então, nossa primeira responsabilidade neste momento é manter as indústrias funcionando, porque muitas delas são essenciais e não podem parar – alimentos, energia e tantas outras que precisam continuar operando – e têm que fazer isso com segurança.
O segundo ponto é entender como é que, dentro de um novo cenário econômico, seja durante a pandemia ou depois dela, essas indústrias podem se adequar para ser mais competitivas e voltar a crescer. Essa agenda dupla, de adaptar a atuação para a crise presente e desenhar um futuro no qual essas indústrias tenham oportunidade e capacidade de voltar a crescer no ritmo que o estado precisa, é o grande desafio da Federação das Indústrias neste momento.
Para finalizar, nós entendemos que, mesmo com todo o efeito da crise econômica no país e no mundo, Mato Grosso deve continuar crescendo, porque as suas vocações econômicas são muito importantes para o desenvolvimento mundial. As áreas em que Mato Grosso tem notória produção e é grande exportador serão as que mais vão demandar novos parceiros comerciais no futuro para diversos países. Cito aqui toda a área de biocombustíveis, de produção de energia limpa, produção de alimentos, produção sustentável de carnes, de madeira e de tantos outros insumos essenciais a muitas atividades do mundo inteiro.
Com a tecnologia, a busca pela substituição de muitos itens que hoje são de fontes não renováveis – citei energia, mas poderia ter citado diversos outros, como insumos petroquímicos, além do próprio petróleo – abre um grande espaço para que estados produtores de matéria-prima verde, como Mato Grosso, possam desenvolver novos produtos e com isso substituir uma produção não sustentável, calcada em matéria-prima não renovável, por uma nova produção, com matéria-prima renovável e muita perspectiva positiva para a inserção de Mato Grosso no cenário mundial.
Cristina Cavaleiro/ Gerência de Relações Públicas, Marketing e Parlamentar(GEMAR)