Serra do Cachimbo funciona como reservatório de águas do Xingu e Tapajós
28 de maio de 2007, às 0h00 - Tempo de leitura aproximado: 3 minutos
Há dois bilhões de anos a região era o fundo do mar. Hoje, o topo da serra é um grande bloco arenítico a 700 metros do nível do mar que se enche de água durante a época de chuva e libera todo esse reservatório aos poucos durante a seca.
Uma das conclusões mais significativas dos estudos ecológicos realizados pelo Instituto Centro de Vida – ICV na Reserva Biológica Nascentes da Serra do Cachimbo é sua extrema importância para a alimentação das bacias hidrográficas do Xingu e do Tapajós. Os estudos foram a base para a elaboração do Plano de Manejo da reserva, que está em fase de conclusão, e estão disponíveis para o público na internet.
Com uma idade geológica de dois bilhões de anos, a Serra do Cachimbo funciona como uma verdadeira caixa d’água dos principais rios situados na sua porção da Amazônia Meridional – e os 11 rios que nascem nela nunca secam. Gustavo Vasconcelos Irgang, coordenador do Programa de Conservação e Áreas Protegidas do ICV explica que há dois bilhões de anos a região era o fundo do mar. Hoje, o topo da serra é um grande bloco arenítico a 700 metros do nível do mar que se enche de água durante a época de chuva e libera todo esse reservatório aos poucos durante a seca.
Esse bloco arenítico compõe 80% do solo da reserva, um ambiente extremamente frágil e suscetível à erosão – em muitas partes, o que se vê no chão é uma fina areia branca, exatamente como nas praias de mar. Para segurar essa erosão, uma vegetação tecnicamente chamada de campinarana cobre boa parte da reserva. Essa, aliás, é uma das surpresas encontradas pelos pesquisadores, pois à primeira vista a formação vegetal parece cerrado, mas o clima é floresta – uma novidade para quem é da região e costuma apontá-la simplesmente como cerrado.
A Reserva Biológica Nascentes da Serra do Cachimbo fica no extremo sul do Pará, na divisa com Mato Grosso, na área de influência da rodovia BR163, e foi criada em maio 2005 pelo Ministério do Meio Ambiente. Considerada de extrema importância para a conservação, a reserva do Cachimbo está em uma região de forte pressão humana, inclusive com cerca de 100 posseiros cujas propriedades estão dentro dos limites da unidade de conservação e se recusam a sair. Eles reivindicam a revisão dos limites da reserva e uma mudança na categoria de conservação. “A região é bastante povoada, então, o grande desafio dessa unidade de conservação é conciliar a preservação com a população”, aponta o coordenador de Conservação do ICV, Gustavo Irgang.
Os dois anos de trabalho que resultaram nos estudos da Reserva Biológica Nascentes da Serra do Cachimbo foram realizados com apoio do WWF-Brasil, e contaram com a parceria do Campo de Provas Brigadeiro Velloso (CPBV), da Força Aérea Brasileira, vizinho da área. Através das atividades abertas à comunidade, o Dia dos Portões Abertos, o CPBV ofereceu espaço para divulgação e esclarecimentos sobre o trabalho e a importância da conservação do Cachimbo para a comunidade local.
Outro parceiro importante para a realização dos estudos em campo foi a Associação dos Produtores Rurais do Vale do XV, que estava já vinha discutindo a preservação da área antes da reserva ser decretada. No entanto, o processo de criação da unidade de conservação pelo governo federal não levou em consideração as propostas dos produtores e hoje eles brigam na justiça para mudar a categoria e rever os limites da unidade e se recuram a sair da área.
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Fonte: Estação Vida